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Como o agro pode ser sustentável sem abrir mão do combate a desigualdades

Estudo aponta Imagem: Lúcio Távora/Xinhua

Do UOL, em São Paulo

30/04/2024 08h30

A cadeia de produção de alimentos do Brasil tem uma série de desafios a cumprir para alcançar a sustentabilidade nos negócios e enfrentar as desigualdades sociais. É o que revela um estudo divulgado por organizações privadas nesta terça-feira (30), que aponta a conservação do meio ambiente e valorização do trabalhador rural como alguns dos elementos-chave para o desenvolvimento da agropecuária.

Alimentos produzidos aqui vão para fora

O país prioriza a exportação de alimentos. O diretor-adjunto do Instituto Veredas, Vahíd Vahdat, diz que incentivos tributários e facilitação ao crédito que fizeram com que as exportações do agronegócio brasileiro chegassem a US$ 166,5 bilhões em 2023 não são oferecidos na mesma proporção para a produção interna da agropecuária.

Como consequência, o pequeno produtor é prejudicado. Vahdat diz que a pesquisa concluiu que as políticas públicas direcionadas a esse trabalhador são insuficientes, o que acaba por criar dificuldades lá na ponta. Ou seja, esse desarranjo prejudica o acesso a alimentos pela população socialmente vulnerável.

Ele também aponta uma fragilidade entre as partes. O diretor do Instituto Veredas aponta que a sustentabilidade vai além da redução das emissões, mas também na elaboração de contratos de trabalho que fortaleçam o pequeno produtor de alimentos, sem criar uma dependência de um ou outro cliente, por meio de intermediários que o represente.

Muitas das relações nesse sistema, como o tipo de sementes que são produzidas, o acesso a essas sementes, o tipo de maquinário ou mesmo a relação com as redes de comercialização, são injustas ou inviáveis para os pequenos produtores.
Vahíd Vahdat, diretor-adjunto do Instituto Veredas.

Redução do desmatamento e aumento de produtividade

O estudo analisou 19 áreas prioritárias em quatro áreas econômicas. Os sistemas alimentares e de uso da terra, representado pelas atividades de produção, processamento, distribuição e consumo de alimentos, fazem parte de um grupo formado pelas atividades da indústria, de energia e de cidades e infraestrutura. O material traz sugestões voltadas para a adoção de políticas sustentáveis sem abrir mão do enfrentamento às desigualdades.

A pesquisa foi desenvolvida pelo Instituto Veredas, sob encomenda de quatro instituições. Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e Instituto Itaúsa são realizadoras do projeto, que contou também com apoio técnico do Instituto Cíclica. Ao todo, o material tem 423 páginas com uma série de recomendações para governos, empresas privadas e terceiro setor (clique aqui para acessar).

A soluções para os sistemas alimentares e de uso da terra é o seguinte:

  • Deter o avanço do desmatamento e de atividades ilegais nos biomas do país e promover sua restauração
  • Criar estratégias para reduzir o impacto da produção em grande escala, com especial atenção à pecuária
  • Aprimorar o acesso de agricultores familiares a políticas públicas que possam ampliar sua produtividade e resiliência, bem como reduzir suas emissões
  • Ampliar a oferta e o acesso a alimentos saudáveis para a população do país, especialmente em regiões de maior vulnerabilidade

O pequeno produtor tem sido deixado de fora do debate. A superintendente da Fundação Arymax, Vivianne Naigeborin, critica que esses profissionais têm pouca ou nenhuma informação sobre transição para a sustentabilidade. Segundo ela, faltam conhecimento sobre o tema, recursos financeiros e assessoria técnica para melhor entendimento sobre o futuro.

Outro complicador é a entrada com mais força de equipamentos tecnológicos no campo. Naigerobin declara que, por exemplo, as colheitas têm sido mais robóticas e menos manuais com o passar do tempo, mas esse não seria o único problema. Na leitura dela, o pequeno produtor necessita de qualificação para operar esses dispositivos.

Como é que a gente pode pensar formações dentro dessa agenda de transição para a sustentabilidade em que essas pessoas que perderam seus postos de trabalho possam ser requalificadas?
Vivianne Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax

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