Menor produção de soja limita PIB do agro; tragédia no RS será novo entrave
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo
05/06/2024 04h00
O PIB (Produto Interno Bruto) da agropecuária recuou 3% no primeiro trimestre de 2024, na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado negativo é justificado pela menor produção de soja, motor do setor no Brasil. Para os próximos meses, a estimativa é de um cenário ainda mais desafiador após as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul.
O que aconteceu
O PIB nacional avançou 2,5% no primeiro trimestre ante os primeiros três meses de 2023. O resultado foi impulsionado pelo setor de serviços (+3%). Por outro lado, a agropecuária desabou os mesmos 3%, pior desempenho para a atividade na base de comparação desde o tombo de 3,7% apurado no último trimestre de 2022.
Perda de força do setor é justificada pela menor produção de colheitas importantes. Na comparação com os primeiros meses do ano passado, a soja (-2,4%) e o milho (-11,7%) amargam quedas nos volumes de produtividade, mostra o LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola) divulgado em maio. No ano passado, os dois grãos tiveram safras recorde.
Essa safra que está no fim da colheita enfrentou problemas climáticos relevantes. Em alguns lugares, o excesso de seca afetou bastante a produtividade dos grãos e, em outros locais, volume elevado de chuvas atrasou o plantio.
André Diz, professor de economia no Ibmec SP
Outro fator que explica o resultado negativo envolve a redução de preço dos produtos agrícolas. O movimento considera que o cálculo do PIB mede o valor final da produção. Assim, o impacto do crescimento da agropecuária na soma de bens e serviços finais resulta em uma taxa de variação menor para o segmento.
Setor avançou 6,4% no acumulado dos últimos quatro trimestres. Apesar da alta, o resultado corresponde ao mais baixo crescimento anual desde o último trimestre de 2022 (-1,1%). No quarto trimestre do ano passado, a variação nessa mesma comparação foi de 15,1%.
Agropecuária voltou a crescer na análise trimestral. Já na comparação com os últimos quatro meses do ano passado, o segmento interrompeu a sequência negativa dos últimos três trimestres de 2023 e avançou 11,3%, maior alta desde o salto de 16,2% dos primeiros três meses do ano passado. A elevação é explicada por questões cíclicas, como a concentração dos maiores volumes de colheita no início dos anos.
Projeções mostram que safra será menor do que a do ano passado. O LSPA prevê ainda que o Brasil deve colher 299,6 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosa. Se confirmado, o volume corresponde a uma produção 5% inferior em relação ao ano passado.
O ano não está sendo bom para a agropecuária. Estamos com uma estimativa de queda da produção de soja, nossa principal cultura.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE
Desemprenho ruim da agropecuária puxa o volume de exportações para baixo. A menor produção dos grãos é também determinante para o setor externo e atinge diretamente o volume das exportações líquidas, determinante no cálculo da evolução de determinada economia.
Com uma produção menor, existe uma maior dificuldade de embarques para o mercado internacional. Há, ainda, um impacto do crescimento econômico do mundo, com os principais destinos do agronegócio brasileiro estão crescendo pouco ou em cenário de desaceleração.
André Diz, professor de economia no Ibmec SP
Efeito Rio Grande do Sul
As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul devem limitar o avanço da agropecuária nos próximos meses. Responsável por mais de 70% da produção brasileira de arroz, o estado também é franco produtor de soja, milho e trigo. Além disso, também é responsável pela criação de galináceos, bovinos e suínos.
A agropecuária e a indústria de transformação devem ser atividades especialmente afetadas [pela tragédia], uma vez que são proporcionalmente mais importantes no PIB do estado que no PIB nacional.
Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, em nota
Agricultura foi a atividade mais impactada pelo desastre, com prejuízo bilionário. Segunda CNM (Confederação Nacional dos Municípios), e setor amarga a perda de R$ 3,1 bilhões. A pecuária, por sua vez, tem prejuízo estimado em R$ 272 milhões.
Produção de soja e milho no estado estava em recuperação. Antes do desastre natural, a atividade dos grãos no Rio Grande do Sul apresentava bons resultados após um período de seca que afetou três safras. A melhora era atribuída justamente ao maior volume de chuvas na região.
Impacto da tragédia ainda é difícil de ser quantificado. Para Rebeca Palis, do IBGE, ainda é preciso aguardar os resultados regionais das pesquisas econômicas para se ter uma avaliação mais concreta sobre o dano das inundações no desempenho do PIB.
Em alguns lugares você teve apenas perda de fertilidade, em outros problemas de erosão. A capacidade de retomada de produção vai variar bastante, dependendo da intensidade desses impactos.
André Diz, professor de economia no Ibmec SP