José Paulo Kupfer

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Opinião

Consumo e serviços, reflexo de alta nos gastos públicos, impulsionam PIB

O pessoal do mercado financeiro pode não gostar do presidente Lula e criticar sem parar seu governo. Mas vive sendo obrigado a fazer revisões para cima de suas projeções para o crescimento da economia.

Não foi diferente em relação aos resultados da variação do PIB (Produto Interno Bruto), no primeiro trimestre de 2024, divulgados nesta terça-feira (4) pelo IBGE. As projeções já tinham sido revisadas para cima, ao longo do período janeiro a março, mas mesmo assim os números reais vieram mais altos.

Razões do aquecimento

No primeiro trimestre do ano, em relação ao último trimestre de 2023, a atividade econômica cresceu 0,8%, ligeiramente acima das projeções atualizadas do mercado, cuja mediana ficou em 0,7%. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a expansão foi de 2,5%.

Há consenso de que a ampliação dos programas sociais, os aumentos reais do salário mínimo, e o pagamento de precatórios, caloteadas no governo Bolsonaro, estão na base das "surpresas" com o aquecimento do mercado de trabalho e da renda, que se reflete numa evolução mais acelerada da atividade (e do PIB) desde o ano passado. Trata-se de um outro lado — o lado positivo, pelo menos no curto prazo, da tão temida pelo mercado expansão fiscal.

É essa injeção de recursos na economia que explica o aquecimento no mercado de trabalho, e o aumento nas concessões de crédito, resultado da maior demanda por financiamentos, reforçado pela ainda que lenta redução dos juros, contribuindo para a formação de um ambiente propício ao crescimento.

Crescimento mais equilibrado

A atividade mais acelerada também produz efeitos positivos no investimento. Com o aumento do consumo, a demanda na economia cresce, abrindo perspectivas para novos negócios, assim como para ampliação ou modernização dos existentes, se as condições financeiras forem favoráveis.

Para se ter uma ideia melhor da relativa força desse crescimento, basta verificar a taxa de expansão da economia anualizada. Se cada trimestre restante do ano avançasse como nos primeiros três meses do ano, o PIB cresceria 3,2%.

Não é provável que isso ocorra, e o crescimento trimestral deve ser menor daqui para frente. A expectativa, antes da tragédia no Rio Grande do Sul, era de um crescimento em torno de 2,5% — já aí acima das previsões no início do ano, que apontavam expansão de 1,5%. Com as perdas no Sul, circula um chute de que haveria uma perda de uns 0,3 ponto percentual, e um crescimento nas vizinhanças de 2%, mas com tendência a subir, para 2,2% ou 2,3%, ao longo do ano.

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Embora menor do que em 2023, quando o PIB avançou 2,9%, o crescimento da economia em 2024 seria mais equilibrado nos demais trimestres. Recorde-se que, no ano passado, a agropecuária puxou a atividade, o que fez com que o crescimento se concentrasse no primeiro semestre.

Desta vez, ainda que com previsão de queda no segundo trimestre, diretamente em razão das grandes perdas no Sul, o crescimento promete ser mais espalhado pelos trimestres e menos dependente de um único setor de atividade.

Consumo das famílias, no lado da demanda, e serviços, no lado da oferta — refletindo justamente a expansão do consumo — tendem a ser os principais impulsionadores da economia em 2024. Também há expectativas de expansão nos investimentos, que avançaram no primeiro trimestre depois de três quedas trimestrais consecutivas, e a repetição do bom desempenho de 2023 no setor externo.

Riscos no caminho

Não são poucos os riscos no caminho dessa trajetória ascendente. Há limites para estratégias de crescimento concentradas em injeções de recursos públicos na economia. Esses limites são dados pela alta no endividamento público, se a arrecadação não conseguir compensar as despesas, e também por pressões inflacionárias.

Os dois movimentos, se não neutralizados — por exemplo, por uma taxa de investimento bem maior do que a de 16,9% do PIB, insuficiente para repor máquinas e equipamentos em uso —, obrigariam o Banco Central a adotar políticas de juros restritivas da atividade. Em dado momento, a combinação de expansão fiscal com contração monetária resultaria em freios na atividade e contração do PIB.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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