Inflação sinaliza que picanha do Lula deve ficar cada vez mais salgada
Combine severa estiagem e acrescente queimadas por um imenso território, acrescente pressões com o dólar em alta e aumentos sancionados pela demanda aquecida por um mercado de trabalho animado, que resulta em renda mais alta. Esta é a receita que está levando a inflação a sair dos limites de tolerância do sistema de metas.
O bolo do IPCA-15 em outubro, que saiu do forno nesta quinta-feira (24), é o mais recente de uma fornada de preços pressionados que deve perdurar pelo menos até o fim de 2024. A alta de preços medida pela variação do índice que apresenta uma prévia da inflação cheia do mês é uma boa amostra do que virá pela frente.
Com alta mensal de 0,56% sobre o índice de setembro, o IPCA-15 deste mês levou sua variação acumulada em 12 meses para 4,5%, exatamente o teto do intervalo de tolerância do sistema de mês. Projeções para o mês cheio de outubro apontam que o acumulado em 12 meses vai estourar o teto, chegando a 4,7%, se a alta prevista de 0,53% no mês for confirmada.
Caso a marcha dos preços continue no ritmo estimado, mesmo com recuo mensal em novembro, o acumulado em 12 meses continuará acima do teto de 4,5%, fechando 2024 com inflação entre 4,6% e 4,7%.
Confirmadas as projeções, será a terceira carta aberta que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, terá de publicar explicando por que falhou no controle da inflação e como as falhas devem ser corrigidas.
O IPCA-15 de outubro trouxe vários indicativos das pressões que estão atuando sobre os preços de produtos e serviços.
A média dos núcleos de inflação — medida que exclui itens mais voláteis ou variações de preços apenas temporárias —subiu de 0,18%, em setembro, para 0,43%, em outubro, acumulando 3,81% em 12 meses e chegando a 4,5% na média móvel trimestral anualizada.
O índice de dispersão — que mede o número de itens da cesta do IPCA, em torno de 400, com aumentos de preço no mês — subiu para 58,3%, indicando que seis em cada dez produtos e serviços do IPCA registraram alta de preços em outubro;
Os preços dos chamados serviços subjacentes — uma espécie de núcleo do setor de serviços —, acompanhado de perto pelo Copom, também voltaram a subir, com a média móvel trimestral anualizada batendo em 5%;
Preços de alimentos, ponto sensível, inclusive em termos políticos, dos dados de inflação, confirmaram as expectativas de alta, e a tendência é de que o ritmo de elevações se acelere até o fim do ano.
A estação de forte seca afetou as tarifas de energia, com a imposição de bandeira vermelha. Isso resultou na maior pressão sobre o IPCA-15 de outubro, e empurrou os preços dos alimentos para cima. Além disso, os preços dos serviços, que respondem ao mercado de trabalho aquecido e produtos afetados pela alta do dólar ajudaram a fazer a inflação subir.
Nas projeções de Fábio Romão, economista da LCA Consultores, um dos mais experientes especialistas em acompanhamento de preços no país, a alimentação no domicílio poderá registrar alta de 7% em 2024, um salto elástico em relação à retração de 0,5% ocorrida em 2023, e superando em muito a média histórica que se situa em torno de elevações de 4% anuais.
Romão ressalta as carnes como o item com altas mais fortes previstas entre os alimentos, nos meses à frente, com destaque para as carnes bovinas. Seca, queimadas, o próprio ciclo de produção de bovinos e aceleração de exportações, na visão do economista, estão pressionando os preços para cima.
"No último trimestre deste ano, o IPCA-Carnes deve mostrar variação acumulada de 8%, o mais alto desde a pandemia, quando a elevação chegou a 15%, seguido depois de pequena retração em 2021 e altas mais moderadas de 0,6% e 2,5%, em 2022 e 2023". Fábio Romão, economista da LCA Consultores
O IPCA-15 de outubro, em resumo, é uma má notícia para os que torcem por menores altas nas taxas básicas de juros, nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária).
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Quero receberTambém é má notícia para o presidente Lula. O preço da picanha, pelo menos até o fim do ano, deve ficar cada vez mais salgado.
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