José Paulo Kupfer

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Opinião

Até quando o BC poderá aumentar a Selic? Economistas veem limites

Era uma quase unanimidade que o Copom (Comitê de Política Monetária) definiria nova alta de um ponto percentual, elevando de 12,25% para 13,25% nominais ao ano a taxa básica de juros (taxa Selic), na reunião desta quarta-feira (29). A decisão, que confirmou as expectativas, foi unânime, num comitê já com maioria de diretores indicados por Lula, inclusive o presidente, Gabriel Galípolo.

O comunicado emitido logo após o encerramento da reunião reafirmou os termos da orientação definida na última reunião de 2024, em dezembro, com indicação de mais uma alta de um ponto, na reunião do Copom de março. Daí para a frente, a marcha dos juros básicos dependerá, segundo o Copom, da conjuntura econômica, mas sem abrir mão de perseguir a "convergência da inflação à meta". Se cumprir a clara orientação registrada no comunicado do Copom de janeiro, a taxa básica de juros, em março, será de 14,25% nominais ao ano, com a taxa real acima de 8% ao ano.

Comunicado duro

Nas atuais apostas dos economistas que respondem ao Boletim Focus, que reúne projeções para a economia no ano de uma maioria de economistas do mercado financeiro, editado semanalmente pelo Banco Central, a taxa Selic avançaria em 2025 até 15%. Mas já não são poucos os que consideram uma taxa básica no fim do ano acima desse limite. Segundo essa avaliação mais dura, o atual ciclo de alta da Selic se estenderia pelas duas reuniões seguintes, até pelo menos o fim do primeiro trimestre, chegando a 16% ou mais.

Diante das projeções de inflação acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas em 2025 e acima do centro da meta até meados de 2026, os termos do comunicado do Copom de janeiro, que podem ser considerados duros, apontam taxas Selic em elevação também depois de março.

A ver como se comporta a atividade econômica, principalmente a partir do segundo semestre. Indicações de perda de ritmo e mesmo de recessão podem frear a marcha altista dos juros, na segunda metade do ano.

Meta inadequada?

Começa a crescer, no entanto, o grupo de economistas, encabeçado por alguns nomes de prestígio no meio, reunindo tanto filiados a linhas de pensamento econômico ortodoxas quanto heterodoxas, que chama a atenção para os limites da política de juros e das altas da Selic.

Tem-se ampliado o entendimento de que a política monetária (política de juros), em ambiente de endividamento público crescente e perfil da dívida desfavorável, com parte considerável atrelada à Selic, está se convertendo, ela mesma, numa das causas da piora da situação fiscal.

Em outubro, um grupo de economistas heterodoxos, publicou artigo na Folha propondo elevar a meta de inflação de 3% para 4%. Choveram críticas, como esperado, principalmente do lado ortodoxo, a uma ideia que mostraria leniência com a inflação.

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De lá para cá, e com mais intensidade já às vésperas do primeiro Copom de 2025, o tema tem sido retomado, mas agora não apenas por heterodoxos.

Em excelente entrevista ao jornalista Alex Ribeiro, do "Valor", o economista e matemático Aloisio Araújo, preocupado com os atuais limites da política de juros e com sua eficácia no controle da inflação, propõe um caminho para a (quase) impossibilidade política de rever a meta de inflação.

Referência no lado ortodoxo em política econômica, Araújo é professor da EPGE-FGV (Escola de Pós-Graduação em Economia, da Fundação Getúlio Vargas) e professor emérito do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada). Ele acaba de ter aceito para publicação em importante revista acadêmica internacional de temas macroeconômicos, juntamente com outros autores, artigo científico sobre os sistemas de meta de inflação em ambiente de fragilidade fiscal.

"O centro da meta de 3% é inadequado para a economia brasileira, que vive situação de fragilidade fiscal", avalia o economista. Araújo não aconselha rever a meta para um ponto mais adequado, entre 4% e 4,5%. "Pode ser interpretado como licença para gastar", explica. Sugere, porém, que o Copom mire o intervalo de tolerância, cujo teto vai até 4,5%. A sugestão implica em altas menores dos juros básicos.

Risco de dominância fiscal

A preocupação do economista é a de que aumentos ilimitados de juros, na tentativa de conter a inflação, possa jogar a economia numa situação de dominância fiscal — nessa circunstância, aumentos de juros resultam não em contenção, mas elevações da inflação, exigindo novos aumentos de juros, num circuito vicioso e altamente prejudicial à economia. "Um dos fatores que definem a relação entre dívida e PIB é a taxa de juros", diz Araújo. "A taxa de juros é determinada em função da meta de inflação", complementando que "o ajuste fiscal necessário para atender à meta de 3% seria alto demais".

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Estudo recente de economistas do Itaú-Unibanco mostra que, em 15 ciclos de alta ou baixa da Selic, desde outubro de 2002 até agora, somente em duas ocasiões a Selic subiu ou foi cortada acima de um ponto percentual. Na média, o ritmo de ajuste em cada reunião do Copom variou em 0,50 ponto e 0,75 ponto, com mediana em 0,5 ponto

Os cortes acima de um ponto se deram em junho de 2003, quando a Selic se encontrava acima de 15%, e em janeiro de 2009, na sequência do grande crash financeiro de 2008. Já as altas acima de um ponto ocorreram em outubro de 2002 e março de 2021 — esta na corrida de volta de uma Selic muito baixa, em reação ao colapso econômico causado pela pandemia de covid-19.

Ortodoxos e heterodoxos do mesmo lado

É de se observar que as relações de causa e efeito descritas por Araújo sejam endossadas por economistas de linha heterodoxa. Demian Fiocca, que presidiu o BNDES no início do segundo mandato de Lula, e foi um dos signatários do artigo publicado na "Folha" em outubro sugerindo meta de inflação mais alta, se vale do mesmo roteiro do professor da FGV para afirmar que a política monetária está causando a deterioração fiscal.

"A elevação das projeções para a Selic afetou as expectativas das contas públicas, estas deterioram a confiança, provocando desvalorização da taxa de câmbio, que elevou a inflação", escreveu o economista em artigo publicado nesta segunda-feira (27), no "Valor".

Fiocca também atribui à "meta de inflação errada" parte do problema inflacionário que elevações nas taxas básicas de juros não estão conseguindo solucionar. O economista também reclama do não uso pelo Banco Central de outras medidas, com poder de contrair a política monetária, além do recurso aos juros mais altos, chamadas em geral de "macroprudenciais".

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Nesse ponto, Fiocca coincide com Bráulio Borges, pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas), economista sênior da consultoria LCA 4intelligence, e colunista da "Folha". Uma medida macroprudencial que poderia ser utilizada seria aumentar o chamado "colchão de capital anticíclico", que corresponde, como explica Borges, "a uma exigência adicional de capital das instituições financeiras em momentos em que a expansão do crédito é muito forte."

Borges, que ocupa uma posição intermediária entre as linhas de pensamento ortodoxas e heterodoxas, em artigo publicado nesta quarta-feira (29), no Blog do Ibre, afirma que caiu, na última década, a potência da Selic para conter a demanda agregada e desinflacionar a economia. "A dosagem de aperto necessário dos juros básicos, afirma o economista, acaba sendo maior, com rebatimentos óbvios sobre as contas públicas".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

117 comentários

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João Luís Nery

Até o congresso criar vergonha na cara e votar o impeachment do incompetente nomeado pelo STF e PTSE, que está destruindo o Brasil

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Daiana Priscila Biazoto

Lula quebrou o país e a imprensa te engana com noticias do Trump e do Gópi

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Marcos Mil Homens

O pilantra do lula ficou culpando o Campos Neto pela Selic alta, quero ver se é coerente e vai fazer o mesmo com o Galípolo.

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