Menos inflação em novembro, mas explosão na alta de carnes até o fim do ano
Depois de registrar em outubro a segunda maior alta de 2024, com avanço de 0,56% sobre setembro, só perdendo para a elevação de 0,86% em fevereiro, a inflação mensal deverá ceder forte em novembro, não subindo mais do que 0,2%.
Esse recuo, porém, será pontual, com as previsões de alta da inflação em dezembro voltando aos níveis de outubro.
Embora sinalizando queda, o recuo da inflação em novembro não esconderá o incômodo com a pressão de alta de preços sobre produtos sensíveis, como os alimentos. As projeções do economista Fábio Romão, responsável pelo acompanhamento de preços na LCA Consultores e referência em projeções de inflação, apontam alta de 1,7%, em novembro, nos preços da alimentação em domicílio. Para 2024, a alta de preços de alimentos pode passar de 8%, pouco menos do dobro da média histórica.
Pressão em setores sensíveis
Destaque incômodo, inclusive para o presidente Lula, um fã confesso de churrascos, nas altas de preços projetadas para as carnes, neste fim de ano. Projeções do economista apontam inflação em torno de 20% para o item carnes no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE.
"Leituras mais recentes apontam forte pressões em carnes bovinas no atacado, com alta de preços superando 30% em 2024, a mais intensa desde 2019. Tamanha variação, ainda que de modo defasado e irregular, aparecerá no varejo". Fábio Romão, economista da LCA Consultores.
No conjunto, segundo previsões do economista, a inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), no acumulado em 12 meses, recuará, ligeiramente, de 4,8% em outubro para 4,6 em novembro e também em dezembro. Fechará 2024, portanto, mais uma vez com estouro do teto do intervalo do sistema de metas, que é de 4,5%.
Pressões por cortes de gastos
As pressões inflacionárias aumentaram no trimestre final do ano. Efeito do prolongado período de estiagem, os preços dos alimentos e as tarifas de energia elétrica impulsionaram os índices de inflação. Esse impulso foi intensificado pelas altas nas cotações do dólar e o aquecimento no mercado de trabalho.
No primeiro caso, o dólar mais valorizado tem dado suporte a altas de preços de produtos industriais, enquanto a absorção mais ampla de mão de obra está sustentando preços mais puxados no setor de serviços.
Esse quadro, que não deve arrefecer nos dois meses finais do ano, exceto em relação às tarifas de energia, que, com a chegada da estação de chuvas, já saíram da bandeira vermelha para a amarela, sanciona as altas das taxas básicas de juros (taxa Selic) definidas pelo Copom (Comitê de Política Monetária). Da mesma forma, torna cada vez mais inglória a resistência a que o governo faça cortes nos gastos públicos, inclusive os de caráter social.
Mais altas de juros
A exemplo do que foi decidido na reunião de novembro, nesta quarta-feira (6), o Copom deve continuar subindo a taxa básica a um ritmo de 0,5 ponto em dezembro e, provavelmente em janeiro.
O ciclo de altas dos juros, previsto para se encerrar em 12%, no início de 2025, pode ser ampliado até pelo menos o segundo trimestre do ano que vem, com a Selic batendo em 13% ao ano. Com o dólar provavelmente mais pressionado, depois da eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, essa esticada ganha força entre analistas, mesmo com a atividade econômica possivelmente mostrando alguma desaceleração e com a presidência do Banco Central já sendo exercida por alguém indicado por Lula, assim como a maioria do Copom em 2025.
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