José Paulo Kupfer

José Paulo Kupfer

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Remarcações antes das 'promoções' da Black Friday pressionam inflação

Depois da estabilidade em agosto, a inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), voltou a subir em setembro. A alta de preços foi de 0,44%, em relação ao mês anterior, conforme divulgou o IBGE, nesta quarta-feira (9). De janeiro a setembro, a inflação soma 3,31% e acumula, nos últimos 12 meses, elevação de 4,42%, na borda do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%.

A marcha da inflação, segundo projetam analistas, manterá o ritmo de alta em outubro, variando entre 0,45% e 0,5%. As remarcações de preços de produtos e serviços, nas vésperas das "promoções" e "descontos" da Black Friday, são apontadas por Fábio Romão, economista da LCA Consultores, um dos mais experientes entre aqueles que acompanham preços no Brasil, como fator de pressão sobre a inflação, neste mês, em conjunto com os reflexos da alta na cotação do dólar nos preços de artigos de residência.

Se esse resultado se confirmar, a variação do IPCA, em 12 meses, romperá o teto do intervalo da meta, fechando o mês acima de 4,5%. Com as elevações previstas para novembro e dezembro — em torno de 0,15% e 0,4%, respectivamente —, as previsões são de que a inflação fechará 2024 no limite do teto de 4,5%.

As maiores pressões sobre a inflação em setembro vieram de produtos e serviços diretamente afetados por condições climáticas adversas, no caso, a severa estiagem que atinge grande parte do território brasileiro. Preços de alimentos e tarifas de energia elétrica, ambos afetados pela seca, contribuíram com mais de 80% da variação de alta do IPCA em setembro.

Reduções na oferta de alimentos, especificamente, começam agora a determinar uma escalada de preços desconfortável. De deflação de 0,73% em agosto, a alta de preços da comida, no domicílio, subiu em 0,5%, em setembro. Previsões apontam alta nos preços da alimentação no domicílio em torno de 1%, de outubro a dezembro, a cada mês. No ano de 2024, a inflação de alimentos atingiria 7%, um ritmo de alta perto do dobro da média histórica, depois de ter recuado 0,5% em 2023.

No outro lado do cabo de guerra das pressões inflacionárias, os núcleos de inflação se mantêm relativamente comportados, assim como os núcleos dos serviços, acompanhados de perto pelo Copom (Comitê de Política Monetária), na decisões sobre a política de juros.

Mesmo com a economia e o mercado de trabalho aquecidos, garantindo salários e massa salarial mais elevada, no mês de setembro, a inflação de serviços recuou, levando também a recuos nas médias móveis trimestrais. Esses sinais mais benignos, contudo, não têm força suficiente para alterar a tendência altista da inflação, apenas contribuindo para moderar o ritmo da trajetória de alta nos preços. Em resumo, não altera a tendência de elevação da taxa básica de juros (taxa Selic) até 11,75% a 12%, em janeiro de 2025.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes