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Competição com atacarejo e lojas sujas: entenda a crise do supermercado Dia

do UOL, em São Paulo

05/06/2024 04h00

A operação brasileira da rede de supermercados Dia foi vendida para um fundo em meio a uma crise que envolve a concorrência com o atacarejo, lojas sucateadas e uma dívida de R$ 1,1 bilhão. Entenda o que causou a crise e o que acontece com as lojas após a venda.

O modelo do Dia

A rede dia foi criada na Espanha em 1979 e tem foco em preço baixo. A rede chegou ao Brasil em 2001 e chegou a ter quase 600 unidades. Hoje, os maiores mercados do Dia são a Espanha, com 2.300 lojas, e a Argentina, com 1.048 unidades, segundo o site do grupo. Além do Brasil, a rede também tinha operação em Portugal, que foi vendida em agosto de 2023.

O modelo se sustenta na operação enxuta. No modelo do Dia, o número de funcionários por loja é reduzido, e muitas vezes o mesmo funcionário atua no caixa, na reposição de estoque e na limpeza da loja.

A rede também aposta em marcas próprias. Diferente de outras redes de supermercado, no Dia a marca própria compete com a líder de mercado, e é fator importante para garantir a rentabilidade do negócio.

Avanço da concorrência e crise

O modelo dos atacarejos avançou no Brasil e criou um problema para o Dia. Antes restrito a periferias, o atacarejo avançou para as regiões centrais das cidades nos últimos anos. Hoje sete em cada dez famílias brasileiras fazem compras em lojas do tipo. Ficou difícil para a rede Dia competir em preço.

Diante da competição, o Dia tentou reduzir custos, o que se refletiu na qualidade das lojas. Com uma operação já enxuta, o Dia buscou economizar ainda mais. O resultado foram lojas sujas e sucateadas.

Eles apertaram ainda mais esse conceito e virou aquilo que aconteceu nas redes sociais. As pessoas brincando por serem lojas sucateadas, sujas, que não ofereciam mix de produtos. A proposta de valor deles começou a ir ladeira abaixo.
Leonardo Cyreno, diretor de eficiência comercial da AGR Consultores

A concorrência também avançou nas lojas de conveniência. Também afetados pelo avanço dos atacarejos, Carrefour e Pão de Açúcar investiram em unidades menores, com foco em conveniência para o consumidor. Novos competidores chegaram, como a rede Oxxo.

A rede não soube se adaptar à realidade brasileira. "Eles insistiram no modelo que vinha de fora, onde não existem os atacarejos, e que não funcionava mais aqui", diz Cyreno.

Setor tem margens apertadas e não dá espaço para erros. O segmento de varejo alimentar requer operações em escala e tem margem de lucro apertada, diz Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem.

Por consequência, é um segmento muito complexo de ser gerenciado e que dá pouco espaço para erro. Qualquer desvio de rota gera um prejuízo relevante.
Eduardo Yamashita, COO da Gouvêa Ecosystem

Venda e recuperação judicial

A venda da operação brasileira do Dia foi anunciada na sexta-feira (31). O negócio foi vendido pelo valor simbólico de 100 euros para um fundo estruturado pela MAM Asset Management, que pertence ao Banco Master.

O Dia anunciou em março que fecharia mais de 300 lojas e três centros de distribuição no Brasil. A decisão veio após resultados negativos no último ano. Na ocasião, o grupo no Brasil informou que continuaria operando suas 244 unidades em São Paulo.

A subsidiária brasileira da rede pediu recuperação judicial em março, com dívidas de cerca de R$ 1,1 bilhão. O faturamento em 2023 foi de R$ 3,9 bilhões no Brasil. Para 2024, deve ser de R$ 2,5 bilhões, com o fechamento das lojas. A empresa teve rentabilidade negativa em 2023. A margem Ebitda foi de -8,1%. Para este ano, a rede Dia esperava que a margem suba para 2,5%.

O que acontece agora

Modificar o modelo será custoso. Os novos donos da operação brasileira podem querer modificar o modelo de negócio da rede para chegar a uma operação economicamente viável. Porém, esse é um processo demorado e custoso, diz Cyreno da AGR. Outra possibilidade é organizar a casa e reduzir a dívida para vender a operação.

É possível que não haja solução única para a rede. Para Yamashita, da Gouveia, o provável é que as lojas migrem de bandeira, deixando a marca Dia por outras similares, ou até mesmo com a aquisição de pontos estratégicos por outras redes, enquanto alguns franqueados podem optar por manter sua operação de maneira independente.

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