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Juros altos não são única forma de controlar inflação, dizem economistas

Juros, selic, taxa de juros Imagem: Getty Images/iStockphoto

do UOL, em São Paulo

25/06/2024 04h00

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), na qual se decidiu manter a taxa básica de juros da economia em 10,5% ao ano, sai na manhã desta terça-feira (25). Embora o nível da Selic ainda seja considerado alto, o documento deve explicar que o BC vê a medida como necessária para controlar a inflação e garantir que ela encerre 2024 dentro da meta de 3%.

O UOL Economia ouviu especialistas para entender quais medidas podem ser adotadas para conter o aumento da inflação para além do aumento da taxa de juros.

Medidas que o governo federal pode adotar para conter a inflação

O presidente Lula, acompanhado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad Imagem: Pedro Ladeira/folhapress

Controle dos gastos públicos. Para os especialistas ouvidos pela reportagem, para ajudar no combate à inflação, o governo federal precisa controlar os gastos públicos buscando um superávit primário, ou seja, buscando arrecadar mais do que gastar.

O governo federal também pode incentivar a produção no país. Isso pode se dar por meio de incentivos fiscais ou financeiros para aumentar a produção de bens e serviços e reduzir pressões inflacionárias.

Fazer reformas estruturais é outra forma de ajudar a combater a inflação. Segundo o economista Felipe Nascimento, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a implementação da Reforma Tributária no último ano foi uma dessas tentativas. "Uma parte significativa da nossa inflação é influenciada por tributos, e medidas como essa são muito eficazes", afirmou.

Aumentar impostos surte efeito, tanto por derrubar o consumo, quanto por gerar um equilíbrio maior das contas públicas.
Juliana Inhasz, economista e professora no Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa)

Criação de um arcabouço fiscal com um orçamento crível. Estabelecer um quadro fiscal sólido com um orçamento confiável é essencial. Quando os agentes econômicos têm a certeza de que o governo manterá seus gastos dentro da meta de inflação, isso influencia positivamente as expectativas econômicas, ajudando a controlar a inflação. "Embora tenha funcionado bem no ano passado, este ano o governo apresenta mais dificuldades", pontua Nascimento.

Melhorar a comunicação com o Banco Central. As críticas públicas trocadas entre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o presidente Lula (PT) não têm contribuído para manter a inflação sob controle no país, conforme apontam economistas. É crucial manter uma comunicação clara e técnica, evitando decisões percebidas como políticas. Esse tipo de atrito pode gerar incerteza no mercado.

Medidas que o Banco Central pode adotar para controlar a inflação

Presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto Imagem: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

A operação da taxa de juros é o principal instrumento do BC para controlar a inflação, pois sua implementação é mais rápida. Ajustar a taxa Selic influencia o custo do crédito e o consumo das famílias. No entanto, a medida não é a única que o Banco Central pode adotar.

É possível implementar políticas que restrinjam a oferta de crédito excessivo. Isso evita um aumento da demanda que possa gerar pressões inflacionárias. O BC também pode monitorar e regular a concessão de empréstimos e financiamentos.

Controle e monitoramento de políticas monetárias. Segundo os economistas ouvidos pela reportagem, o BC pode fazer uso de outras ferramentas de política monetária, como operações de mercado aberto e requisitos de reservas bancárias, para complementar o controle da inflação.

Comunicação clara e técnica. Assim como cabe ao governo federal manter uma comunicação com menos críticas públicas ao Banco Central, o inverso também é importante. O BC pode emitir comunicados menos políticos e mais técnicos para evitar incertezas no mercado. O que não foi feito, por exemplo, no comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) de maio. Na ocasião, os quatro diretores indicados por Lula solicitaram um corte de 0,50 ponto percentual, enquanto os outros cinco diretores apoiaram um corte de 0,25 ponto percentual. Esse racha foi visto pelo mercado como uma divergência política.

Fatores interferem nos juros brasileiros

Edifício-sede do Fed, o banco central dos EUA, em Washington Imagem: REUTERS/Leah Millis

Há fatores externos que interferem na economia brasileira. A guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, envolve países que são fornecedores essenciais de insumos para o agronegócio, como fósforo e potássio. As restrições na importação desses insumos representam um problema de oferta, que não pode ser resolvido com o aumento da taxa de juros, explica o economista e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) Giliad de Souza Silva.

Somos um país que exporta commodities, e o preço de nossas taxas de juros está diretamente ligado ao desempenho internacional da balança comercial brasileira.
Regiane Vieira Wochler, economista

Impacto dos juros nos Estados Unidos. Em seu último comunicado, o Fed (Federal Reserve) manteve a taxa de juros dos EUA de 5,25% a 5,50%, o valor é um dos mais altos das últimas décadas. Quando as taxas de juros aumentam no país, o capital especulativo tende a se deslocar para lá em busca de retornos mais altos. Isso leva os investidores a venderem seus ativos no Brasil para investir nos EUA, resultando em uma diminuição da oferta de dólares por aqui. Isso aumenta a cotação do dólar e consequentemente os custos de importação, o que pressiona a inflação. Além disso, as expectativas sobre os juros futuros também sobem, pois os investidores esperam melhores retornos nos EUA.

Em momentos de incerteza global, o Brasil tende a ser visto como um mercado arriscado, o que dificulta ainda mais a atração de investimentos estrangeiros e a estabilização econômica.
Felipe Nascimento, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas)

Por que a inflação aumenta

Supermercado; Inflação; IPCA-15; IPCA; compras; carrinho de compras; orçamento familiar Imagem: BRUNO ROCHA/ESTADÃO CONTEÚDO

A inflação se refere à capacidade de compra de uma moeda. Por exemplo, se antes com R$ 100 você poderia comprar quatro produtos e agora consegue comprar apenas um, significa que essa moeda perdeu poder de compra. Isso pode ocorrer devido a questões de demanda ou de oferta.

Para saber, então, como combater a inflação é preciso diagnosticar se ela é resultado de fatores de oferta ou de demanda.
Giliad de Souza Silva, economista professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa)

Para combater a inflação, resultado de um problema de demanda, o aumento da taxa de juros pode ser mais eficaz, segundo o economista Giliad de Souza Silva.

Já para combater a inflação, resultado de um problema de oferta, medidas como a redução de impostos para empresas, e que facilitem e melhorem a disponibilidade de produtos podem ser mais eficazes.

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