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Quanto custava a gasolina no início do plano real? E o pãozinho?

Mariana Rodrigues

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/07/2024 10h54

Há trinta anos, em primeiro de julho de 1994, entraram em circulação as primeiras notas de real, moeda que utilizamos até hoje. O Plano Real foi a última de uma série de tentativas de tentar combater a hiperinflação.

Quem era criança na época pode se lembrar de comprar cinco pães por R$ 1, com a sensação de que o dinheiro valia muito. Mas quem já era adulto se lembra também de outro lado da mesma realidade: o salário mínimo era menor do que R$ 100. O Plano Real combateu a hiperinflação, mas inflação é algo que continua ocorrendo ao longo do tempo. Veja como ela impactou os preços e mudou os hábitos dos brasileiros desde o Plano Real até hoje.

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Quanto custava o pãozinho?

R$ 1 comprava mais. Entre 1994 e 1995, o pão francês custava em torno de 10 centavos, e o leite tipo B custava 70 centavos. O litro de gasolina, em 1994, era 53 centavos. O butijão de gás de 13 quilos custava em torno de R$ 4, segundo matéria da Folha de S.Paulo da época.

Pode parecer que as coisas eram mais baratas, mas a renda também era bem menor. "O que acontece é que é uma distorção no entendimento. Pode parecer eventualmente que lá você ganhava mais, mas não, as pessoas não ganhavam mais e a vida não era melhor", comentou Carla Beni.

Botijão de gás lidera altas desde o Plano Real. O botijão de gás de cozinha (GLP) e as passagens aéreas lideram as altas de preços desde o Plano Real, segundo levantamento da LCA Consultores, que considerou o período desde junho de 1994 até dezembro de 2023. Segundo o levantamento, o gás aumentou 2.370%, e as passagens mais de 2700%. O levantamento considerou 20 produtos e serviços, e o único que teve deflação foi o aparelho de telefone, que teve ajuste de -51%. No período, o aumento do salário foi de 2.359%.

Como funcionou o Plano Real

Plano Real foi dividido em três fases. O Plano começou em 1993, e na primeira fase foram implementadas medidas de redução nos gastos públicos, medidas para aumento das receitas e privatizações. A segunda fase foi a transição da moeda, que ocorreu entre março e junho de 1994. Na época, o Cruzado sendo usado junto com a Unidade Real de Valor (URV). A terceira fase foi a chegada do Real, em julho.

Real sucedeu cinco planos. Antes do Plano Real, foram feitas outras cinco tentativas de conter a inflação com os seguintes planos econômicos: Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991). "O modelo do plano real foi um modelo novo original, mas ele também usou a experiência dos seis planos anteriores que tinham dado errado", afirmou Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV.

Plano real causou queda drástica na inflação. Para se ter uma ideia, a inflação medida pelo IPCA em junho de 1994 havia sido de 47,43%. No acumulado de doze meses, em junho de 1994 a inflação chegou a 4.922%. Ou seja, o poder de compra do brasileiro caía de um dia para o outro. Já no ano de 1995, fechou o ano em 22% e, em 1996, em 9,56%.

Metas de inflação. Em 1999, o Banco Central passou a adotar o regime de metas para a inflação por ano, e na maioria das vezes a inflação tem ficado dentro do intervalo de tolerância determinado.

Hiperinflação aumenta desigualdade. "O processo inflacionário provoca uma desigualdade muito grande porque quem tem sobra de renda aplica no mercado financeiro e consegue corrigir a distorção da inflação, e quem não tem literalmente acaba comendo menos. Então um país inflacionário é um país que aumenta suas desigualdades", comentou Beni.

Como era o Brasil na época do Plano Real

Compras do mês e filas nos postos de gasolina. Era comum que, no dia do pagamento, as pessoas fossem ao supermercado encher o carrinho com as compras do mês. "Numa estrutura hiperinflacionária, você tenta manter a sua o seu poder de compra estocando alimento", comentou Carla Beni. "Tanto que os atacadistas surgiram nessa época, porque você comprava tudo de fardo. O estoque fazia parte da vida da pessoa." Além disso, formavam-se filas nos postos de gasolina para garantir o tanque cheio antes de "virar a bomba", como se referia ao aumento do combustível de um dia para o outro.

Corredor de loja de R$ 1,99 em São Mateus, zona leste de São Paulo Imagem: Keiny Andrade/UOL

Salário era recebido em parcelas. Como os salários perdiam muito valor dentro de um mês, no meio do mês os trabalhadores recebiam o "vale", uma antecipação de parte do pagamento.

Salário mínimo era menos de 10% do necessário. Em 1994, o salário mínimo era de R$ 70, e em 1995, R$ 100. De acordo com o Dieese, esse valor representava apenas 9,6% do que o trabalhador precisaria receber para viver (R$ 728) em 1994. Em comparação, em maio de 2024, de acordo com o Dieese, o salário de R$ 1,412 representa 20,33% do mínimo necessário (R$ 6,946).

Lojas de R$ 1,99 e paridade com o dólar. Entre 1994 e 1999 o Brasil viveu uma paridade entre dólar e real, pois com o Plano Real veio a ancoragem cambial, que fixava R$ 1 = USD 1. Isso favorecia as importações e foi nessa época que surgiram as lojas de R$ 1,99, que foram muito populares até os anos 2000.

A partir de 1999 o regime cambial mudou, e passou a valer a flutuação da taxa de câmbio. Com a desvalorização do real ante o dólar, as lojinhas primeiro passaram a anunciar "a partir de R$ 1,99", e nos anos 2000 foram desaparecendo.

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