Bolsa cai depois de falas de Lula sobre cortes, mas dólar teve queda
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou o pregão desta terça-feira (16) em baixa depois que trechos de uma entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram publicados. O Ibovespa terminou o dia perdendo 0,16%, indo a 129.110,38 pontos, conforme dados preliminares. O real, ao contrário, ganhou valor frente ao dólar. A moeda americana teve uma desvalorização de 0,30%, indo a R$ 5,429.
O que aconteceu?
Lula disse numa entrevista à TV Record que ainda "precisa ser convencido de que será necessário cortar entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões do orçamento". A entrevista completa vai ao ar esta noite.
"Seriedade fiscal eu tenho mais do que quem dá palpite nessa questão no Brasil", disse Lula, em flashes sobre a entrevista que a emissora vem soltando na internet. Ele teria dito que "responsabilidade fiscal eu não aprendi na faculdade, eu trago do berço". Na entrevista, o presidente falou sobre a revisão de gastos públicos para que o governo consiga cumprir a meta fiscal.
É que nem tudo que eles tratam como gasto, eu trato como gasto. Às vezes, fico irritado, porque não sou marinheiro de primeira viagem. Sou o presidente da República mais longevo desse país depois de Getúlio Vargas e Dom Pedro II. Eu tenho experiência de administração bem-sucedida.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Lula também disse que o governo não é obrigado a cumprir a meta fiscal, "se tiver coisa mais importante para fazer". Mas que fará "o necessário" para cumprir o arcabouço fiscal.
Quebra na sequência de altas
O mercado vinha se recuperando desde que Lula parou de atacar o BC e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou no dia (3), um corte de gastos. O ministro havia anunciado que e o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional.
Por 11 pregões seguidos, a Bolsa teve alta. Para Breno Bonani, analista da Alphamar Invest, de Vitória, o mercado aproveitou as falas de Lula - cuja posição os investidores conhecem bem - para realizar lucros e colocar no bolso os ganhos desses últimos pregões.
E por que o dólar continuou caindo?
Porque a moeda americana vem dando um alívio mundialmente com a expectativa de corte de juros. "A pressão do câmbio vem diminuindo porque mundialmente se espera um corte nos juros dos EUA", diz Wagner Varejão economista da Valor Investimentos.
Os dados da economia americana mostram que a inflação por lá vem cedendo. Isso pode fazer o Federal Reserve cortar os juros americanos. A expectativa é de uma baixa em setembro. Toda essa cadeia de acontecimentos faz os investidores deixarem o tesouro americano para buscar oportunidades em outros mercados, dentre eles o Brasil.
Então os estrangeiros começaram a voltar
Com os dados de inflação nos Estados Unidos mostrando uma queda, os investidores se animaram nos últimos 11 pregões. A expectativa do mercado é que haja um primeiro corte na taxa de juros americana em setembro.
Assim, os investidores estrangeiros estão voltando para a Bolsa brasileira. A saída de investidores estrangeiros do país, que somava R$ 43,2 bilhões no ano até 19 de junho, caiu para R$ 37,2 bilhões.
"Desde o pico de saída no final de junho, vimos a entrada de R$ 6 bilhões de estrangeiros", publicou o Itaú, em relatório para investidores. "Por outro lado, os investidores institucionais locais foram mais uma vez vendedores líquidos, resultando numa saída acumulada no mês de R$ 3,8 bilhões", acrescenta o relatório do banco.
Falas de Galípolo
No fim do pregão, as falas do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, repercutiram. Ele disse que o mercado de trabalho aquecido indica um processo de recuo mais lento da inflação. Isso, somado a fatores externos, fez o BC adotar "um pouco mais de cautela". Galípolo falou em evento promovido pelo Sicredi, em Anápolis (GO).
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