De assistência técnica a empresa bilionária: conheça o Grupo Leveros

Eletrodomésticos fazem parte do DNA da família de Tiziano Pravato Filho desde os anos 1950, quando seus avós trocaram a Itália pelo interior de São Paulo e passaram a comercializar itens como geladeiras e fogões. Em 1978, o pai dele se inspirou nesse legado e abriu uma assistência técnica da Brastemp na cidade de Assis, localizada a 445 km da capital. O negócio cresceu, se especializou na venda e instalação de ar-condicionados e hoje, nas mãos de Tiziano, aposta na tecnologia para ampliar sua fatia no mercado.

Essa trajetória levou o Grupo Leveros a faturar R$ 1,35 bilhão nos últimos 12 meses. O resultado impulsiona agora a busca de novos investimentos para consolidar a plataforma de soluções oferecida pela empresa e expandir sua atuação pelo Nordeste.

O que aconteceu

Dois grandes pontos de virada marcam a história da empresa. O primeiro aconteceu nos anos 2000, com o início do comércio eletrônico e a entrada dos aparelhos de refrigeração do tipo split no Brasil. O modelo logo se popularizou, mas a necessidade de instalação com mão de obra qualificada se tornou uma barreira para as vendas.

As fabricantes passaram então a oferecer créditos para prestadores de serviço negociarem os equipamentos diretamente com os clientes. Assim, a Gelosom (como era chamada na época) começou a focar no setor e se transformou em Multi-Ar, ganhando tração com vendas online a partir de 2007. Investimentos em centro de distribuição, logística e operações fizeram o faturamento saltar de R$ 20 milhões, em 2010, para R$ 240 milhões, em 2014, sendo 80% desse valor proveniente do consumidor final dos equipamentos.

A segunda virada veio na sequência, acompanhada das dores típicas de uma sucessão familiar. Tiziano sempre ajudou o pai. Na adolescência, durante as férias escolares, peregrinava com o irmão pela cidade consertando eletrodomésticos. Após se formar em engenharia na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), quis trilhar uma carreira própria e chegou a trabalhar na Ford. No entanto, em 2010, a súplica paterna falou mais alto e ele foi convencido a se envolver de vez no negócio.

Tiziano Pravato Filho do grupo Leveros
Tiziano Pravato Filho do grupo Leveros Imagem: Divulgação

A troca de comando, no entanto, aconteceria somente entre 2016 e 2018, embalada pelo investimento realizado do fundo 2bCapital. Apesar da injeção de recursos, o período ficou marcado por estagnação. O momento era de desaceleração econômica no país, com redução das vendas de ar-condicionado quase pela metade. Mas este não foi o único motivo para o resultado aquém do esperado.

Eu e meu pai temos modelos de gestão muito divergentes e brigávamos muito. O fundo nos cobrava visão de médio e longo prazo, o que não era comum para a gente. Precisei passar por muita terapia e aconselhamento para entender meu papel na organização.
Tiziano Pravata Filho, CEO do Grupo Leveros

Essa jornada de autoconhecimento levou a uma descoberta determinante: seu cliente potencial não era o consumidor final, mas o prestador de serviço. Com ele na jogada, era possível aumentar os lucros com produtos de maior valor agregado, focados em indústrias, comércios e grandes residências, fugindo assim da concorrência do e-commerce, no qual o menor preço ainda fala mais alto.

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Liderança no negócio. O novo posicionamento levou Tiziano a assumir de vez a liderança, rebatizando a empresa com um anagrama da palavra "resolve" (Leveros) e ampliando seu escopo com a criação da plataforma Profiz, dedicada a turbinar os instaladores de ar-condicionado e microempreendedores do ramo.

Sem dinheiro parado com estoque. Por meio dessa tecnologia, é possível acessar o catálogo do Grupo Leveros, realizar a venda direto para o cliente e receber a comissão pela intermediação. Com isso, evita-se gastos por conta de estoque parado e ganha-se com a instalação.

Para garantir a fidelidade desse público, Tiziano passou a investir tanto no físico quanto no digital. Foram inauguradas cinco lojas conceito para treinar e capacitar a mão de obra do setor, enquanto a plataforma ganhou novos usos a partir das demandas do usuário, como um sistema de gestão financeira e de ordem de serviços. A solução também foi adotada pelas fabricantes Electrolux e TCL na busca por profissionais credenciados. Deu tão certo que, de 2018 até hoje, o faturamento da empresa cresceu 4,5 vezes, sendo 70% dele oriundo dessa estratégia.

Os números positivos levaram o empresário a olhar para a energia solar como um potencial campo de atuação para os instaladores. O grupo chegou a comprar uma pequena distribuidora. Porém, com o incremento da tributação e a diminuição de crédito para o setor no ano passado, a operação foi descontinuada.

Financiamento e investimento no Nordeste. O próximo passo, previsto para o início de 2025, é estreitar o relacionamento com os prestadores a partir da oferta de financiamento para uma melhor estruturação dos serviços. Além disso, em três anos serão investidos R$ 30 milhões na abertura de sete lojas, incluindo Recife e Natal.

O Nordeste desponta como um lugar essencial para o cumprimento das metas de expansão do grupo. Um centro de distribuição montado em João Pessoa, na Paraíba, permite prazos de entrega mais enxutos que a média praticada na região, aumentando a adesão à marca. "A estratégia é casar logística e custo-benefício. Um pequeno incremento de qualidade aqui traz um retorno muito maior do que no Sudeste", explica Tiziano.

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A empresa vê também oportunidade em um mercado complementar: comercializar peças e ferramentas para a instalação. Atualmente, o prestador até encontra esses produtos na plataforma da Leveros, mas num marketplace que o leva a outros fornecedores. A ideia para os próximos dois anos é fortalecer o catálogo com pronta entrega desse mix e rentabilizar mais ao manter o cliente 100% dentro do ambiente da empresa.

O crescimento acelerado dos últimos anos vem chamando a atenção de investidores. "Em 2021, chegamos a ser assediados para fazer oferta pública e negociar ações na bolsa, mas entendemos que, naquele momento, nosso plano de negócio ainda não estava muito claro", afirma o executivo. Enquanto o 2bCapital se prepara para liquidar a sua parte, o negócio busca agora novos parceiros para efetivar os planos para os próximos cinco anos. "Só aí vamos discutir uma possível abertura de capital."

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