Ribeirinhas da Ilha do Combu criam pequenos negócios de olho no turismo

A ilha de Combu, em Belém (PA), ficou conhecida após o encontro dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o francês, Emmanuel Macron. Além da natureza exuberante da floresta, a ilha integra o Projeto Gastronomia das Ilhas visando a fomentar a gastronomia e o turismo sustentável da região. Os visitantes são convidados a apreciar a culinária típica da região, conhecer a cultura local e as chocolaterias artesanais.

Os empreendedores locais

Restaurante na ilha. Após enfrentar o dilema de muitas mulheres que são mãe e trabalham fora, quando teve o primeiro filho, Márcia Evangelista, 37, decidiu empreender logo após o nascimento de seu segundo filho e, assim, ter mais tempo para a família. Hoje ela é dona do Restô da Márcia, na Ilha do Combu, em Belém (PA), faturou R$ 500 mil no ano passado e espera um incremento de 60% na sua receita em 2024.

Eu lembro que saia de casa quando meu filho ainda não tinha acordado e voltava quando ele já estava dormindo. Era muito triste. Somente quando eu tive o segundo e tocava o meu negócio é que aproveitei a maternidade e soube o que era ser mãe.
Márcia Evangelista, dona do Restô da Márcia

Gosto pela cozinha surgiu após casamento. Márcia diz que não cozinhava muito na casa da mãe e o gosto pela culinária surgiu após o casamento. "Hoje eu amo cozinhar e preparar pratos saborosos e que encham os olhos dos clientes."

500 gramas de filé em um prato. No cardápio, pratos com peixe assado, camarão, caranguejo, caldeirada e galinha caipira. O carro-chefe é o prato de filhote assado de brasa, que serve duas pessoas e custa R$ 140. "São 500 gramas de filé", enfatiza a empreendedora.

Salada, verduras e mel vêm de horta da ilha. A salada e as verduras servidas pelo restaurante de Márcia são orgânicas e vêm da horta hidropônica criada na ilha. O mel utilizado nos drinks e temperos são cultivados no meliponário (espaço para criação de abelhas-sem-ferrão) local.

O Sebrae promoveu uma série de cursos com os empresários locais e nos auxiliou na criação da horta. Foi um divisor de águas por aqui. Agora eu consigo servir alface, couve e outros legumes e verduras fresquinhos para os clientes.
Márcia Evangelista, dona do Restô da Márcia

Cursos, oficinas e capacitação. Márcia faz parte do grupo de empresários da comunidade ribeirinha das ilhas do Combu e Cotijuba, duas das mais importantes da região metropolitana de Belém, que vem recebendo capacitação e participando de diversas atividades do Sebrae para fomentar o turismo e o empreendedorismo na região.

Ações de fomento ao empreendedorismo. Entre abril e junho, por exemplo, foram realizadas cerca de 20 ações de capacitação somente na Ilha do Combu, entre oficinas, palestras e cursos. Ao todo, 500 empreendedores participaram do projeto.

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Preparo para a COP-30. As atividades com os donos de pequenos negócios vêm sendo intensificadas com a proximidade da COP 30 (30ª Conferência das Partes), da ONU (Organização das Nações Unidas), marcada para novembro de 2025, em Belém, e deve elevar os números de visitantes na região.

Os temas escolhidos levam em consideração a vocação da Ilha do Combu para o turismo. Vale destacar que eles têm como foco inovação, atendimento, marketing e educação ambiental

Gerson Tadeu Teles artesão da Ilha de Combu (PA)
Gerson Tadeu Teles artesão da Ilha de Combu (PA) Imagem: Divulgação

Uma dessas iniciativas é Agentes de Roteiros Turísticos. O projeto turístico envolve 16 empreendimentos de Belém. O roteiro é de dois dias e vem sendo comercializado pelas agências de viagens que são parceiras e clientes do Sebrae. Uma delas é a Ygara Artesanal & Turismo, dos empresários Iracema Nascimento, 41, e Gerson Tadeu Teles, 47.

Da exploração à preservação. Gerson conta que destruía a floresta. "Eu era uma dessas pessoas que derrubava as árvores, mas hoje, eu aprendi a preservar a natureza." Ele é um dos agentes de Roteiro Turístico, apresenta a vida na floresta, como extrair da natureza o sustento de forma sustentável e ainda oferece um banho de cheiro no rio.

Nós temos um roteiro que mostra ao turista a vivência de uma comunidade ribeirinha. Entre as atividades, estão a extração do açaí, a produção de cestos e instrumentos musicais com bambu e banho de cheiro.
Iracema Nascimento, artesã.

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Artesanato e turismo. Iracema conta que além da agência de turismo, ela e o marido também produzem artesanato. "Meu marido sempre trabalhou com madeiras e foi um convite do Sebrae para ele expor suas peças em uma feira que nos despertou para o empreendedorismo."

O faturamento da Ygara Artesanal e Turismo no ano passado foi de R$ 47 mil e o casal projeta um crescimento de 10% na sua receita em 2024. A loja vende, entre outros produtos, óleos naturais, entre eles o de copaíba, canecas, quadros e acessórios.

Chocolate da Amazônia

A filha do Combu
A filha do Combu Imagem: Carlos Borges Moire

Exemplo de bioeconomia. Izete Costa, mais conhecida como dona Nena, é a responsável pela fábrica de chocolates Filha do Combu. Além de ser produzido na ilha de forma sustentável, o chocolate melhorou a qualidade de vida de toda a comunidade.

Eu comecei resgatando um trabalho de cultura da família, que a gente já fazia nosso próprio chocolate, e o que me motivou a continuar foi a luta por melhores condições de vida dentro da floresta.
Dona Nena

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Produção de chocolate 100% orgânico. Dona Nena aprendeu o ofício com os pais, que já plantavam cacau na ilha. Do plantio à produção, tudo é feito em Combu. "Comecei a vender o chocolate e misturava açúcar, doces, aprendi que 'estragava' o chocolate", conta ela. Hoje, o chocolate é feito com manteiga de cacau e sem aditivos.

Trabalho começou em 2006 e teve ajuda do chef Thiago Castanho. "Ele veio aqui e se apaixonou pelo nosso trabalho, me ensinou a fazer outras coisas, se tornou parceiro e com isso foi divulgando o nosso chocolate e a produção foi crescendo."

Em 2018, decidiu se profissionalizar. Em 2018, foi até Canela, no Rio Grande do Sul, para fazer um curso de chocolataria. Hoje, como chocolatier, Dona Nena é responsável por produção de 400 kg de chocolate por mês.

Hoje eu tenho a minha própria linha de chocolate, agrego vários parceiros da própria comunidade, que tem um trabalho sério, como a Associação das Mulheres Extrativistas. A gente tenta estimular mais as pessoas a trabalharem mais a questão da sustentabilidade, a tentar valorizar mais a floresta, e mostrar as oportunidades que a floresta nos oferece.
Dona Nena

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