Ele vendeu franquias do 'Méqui' para trazer outra hamburgueria ao Brasil
Antônio Augusto de Souza, 60, comprou a sua primeira franquia do McDonald's, em 1994, em Recife (PE). No total, chegou a ter em nove anos 23 franquias da rede de fast food. Em 2003, ele vendeu tudo que tinha do Méqui na época (nove unidades) para trazer a Johnny Rockets, rede americana de hamburguerias, ao Brasil. Mas um problema jurídico atrasou seus planos por dez anos, e ele só conseguiu abrir a primeira loja da marca em 2013. Hoje, a rede tem 37 lojas em operação e faturou R$ 125 milhões em 2023.
Multifranqueado do McDonald's
Antes de ser multifranqueado do McDonald's, Souza teve outros negócios. De 1989 a 1994, ele teve corretoras de grãos (comprava grãos de produtores e os revendia para outras empresas) e depois uma empresa de comercialização de grãos, vendida em 1994. Na sequência, ele foi dono de dois postos de combustível.
Souza comprou sua primeira franquia do Méqui em 1994. A unidade ficava em Recife (PE), onde chegou a ter três restaurantes e 14 quiosques da marca.
Em 1999, ele vendeu suas franquias de Recife para o Méqui e voltou para São Paulo. Aqui, comprou franquias da rede de fast food nas cidades de São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá (todas na região metropolitana de São Paulo). Portanto, no período de 1994 a 2003, ele teve, no total, 23 franquias (7 restaurantes e 16 quiosques) da marca.
No mesmo ano, Souza assumiu o cargo de diretor regional de SP da associação dos franqueados do McDonald's. "O McDonald's é uma grande empresa, e eu tinha um ótimo negócio. Mas esse cargo gerou um desgaste grande meu com a empresa. Teve uma hora que eu cansei e pedi para sair", afirma.
Em 2003, ele tinha 9 franquias (4 lojas e 5 quiosques), vendeu tudo para o Méqui e deixou a rede. "Decidi buscar novas oportunidades para empreender no ramo e acreditei que o Johnny Rockets tinha potencial para fazer sucesso no país", declara. Souza conhecia a rede americana desde 1995, durante viagens frequentes para os EUA.
Batalha judicial para ter a marca no Brasil
Mas um problema jurídico atrasou seus planos por dez anos. Havia um clone da rede aqui no Brasil. Souza diz que, em um primeiro momento, tentou atuar na questão por conta própria, mas não conseguiu. "Deixei em stand-by os planos com o Johnny Rockets e decidi abrir um leque de investimentos em outros projetos de gastronomia", afirma. Entre 2004 e 2013, ele foi dono de franquias de outras marcas de hamburguerias, como Joe&Leo's, Well's American Diners e Well's Grill.
Em 2010, um fundo de investimentos americano comprou o Johnny Rockets nos EUA. Segundo Souza, isso gerou oportunidade para novo contato com a matriz americana e um pedido de ajuda. Junto aos novos donos, ele entrou na Justiça brasileira para recuperar os direitos do nome junto ao Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) —e teve a liberação da licença Johnny Rockets no Brasil em 2011.
Só em 2013, ele abriu a primeira franquia da marca, em Guarulhos (SP). O investimento foi em torno de US$ 1 milhão, na época.
A rede do Johnny Rockets tem hoje 37 lojas fixas em operação. Monta ainda unidades em eventos, shows, feiras e exposições. Até março, outras cinco franquias devem ser inauguradas: São Paulo (no Shopping D), Rio de Janeiro, Belém (PA), Teresina (PI) e Belo Horizonte (MG).
Uma franquia da marca custa a partir de R$ 960 mil. São quatro modelos de negócio: loja express (praça de alimentação em shoppings ou galerias, com cozinha e balcão de atendimento), loja fast casual (com área própria de refeição, porém sem o serviço de garçons), loja casual (com área própria de refeições) e o modelo Johnny Go! (este é somente para franqueados).
Rede tem dancinha de garçons
O Johnny Rockets é uma rede americana de hamburguerias com temática inspirada nos anos 1950. Os principais produtos são hambúrgueres, milk shakes e costela suína ao molho barbecue, entre outros.
O carro-chefe é o hambúrguer Smoke House. É feito no pão brioche com hambúrguer angus 150g, bacon, onion rings, queijo cheddar e molho smoke house barbecue ranch; acompanha fritas. Custa R$ 49,90. As unidades em parceria com boliches (três em São Paulo e uma em Goiânia) incluem pizza no cardápio.
Marca no Brasil teve liberdade da matriz para inovar no cardápio. Souza diz que criou, então, novos pratos e refeições executivas para o almoço. Um deles é o filé de frango grelhado com creme de milho e farofa, itens típicos do paladar brasileiro.
Outra singularidade é a interação do público com a equipe. Os garçons da loja fazem danças coreografadas em meio aos clientes. Em média, essas dancinhas acontecem a cada 40 minutos, exceto na hora do almoço.
Em 2023, a empresa faturou R$ 125 milhões. O lucro não foi revelado.
Criação do grupo para acelerar expansão
Em 2020, Souza comprou duas marcas: Cuor di Crema e Boulangerie Carioca. Esta aquisição foi o motivo de Souza fundar a holding Antaris Franchising. O nome Antaris é formado pelas iniciais do fundador: Antônio Augusto Ribeiro de Souza. A Cuor di Crema possui dez unidades, e a Boulangerie Carioca, sete.
Em março de 2024, a Antaris firmou uma joint-venture com a Food Brands, formando o grupo Antaris Food Brands Franchising. Souza diz que o objetivo é acelerar a expansão de suas redes. A Antaris Food Brands Franchising passou a reunir 12 marcas de gastronomia. A meta para 2025 é abrir 30 lojas entre as diversas marcas.
Consultar registro da marca é crucial
Alimentação fora do lar é um setor que tem crescido no país. "O fast food, a comida rápida, tem uma proposta de valor atraente: conveniência, convivência e comodidade. O consumidor tem o produto certo, no lugar e na hora certa, na temperatura ideal e disponível para consumo imediato. Esse apelo é algo atraente no modo de vida atual e vem ao encontro das necessidades do público em geral", afirma Anderson Santos, consultor de negócios do Sebrae-SP.
O empreendedor trouxe dos EUA uma marca já testada e validada lá fora. No entanto, diz o consultor do Sebrae, Souza não se atentou a um erro que muitos dos empreendedores cometem: consultar o registro da marca junto ao Inpi. "Isso causou um conflito e o impediu de usar a marca por um tempo. Este é um cuidado que todo empreendedor deve tomar. Ele precisa saber se aquela marca é, de fato, inédita, para, a partir daí, garantir que a marca seja dele", declara.
Ponto alto é proporcionar experiência ao cliente. "O hambúrguer é fácil de copiar, mas viver a experiência de consumir um hambúrguer na loja do Johnny Rockets é única. Além do produto em si, o que se vende ali é uma experiência de consumo do hambúrguer em um ambiente temático dos anos 50", afirma.
"A vantagem competitiva é uma situação temporária. O grande desafio é sempre ter experiências novas no mesmo ponto de venda, para seduzir e fidelizar seu público consumidor. É buscar essa recorrência. Afinal, uma coisa é atrair; outra é reter o cliente por algo novo", declara.
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