Dólar não afeta viagens, e brasileiro prefere comprar pacotes sem passagem
Com a alta do dólar e o valor das passagens, mais pessoas têm comprado pacotes de viagem sem incluir o valor do transporte aéreo, utilizando milhas ou buscando promoções em sites durante a madrugada.
O que aconteceu
Em maio, as passagens aéreas ficaram mais caras pela primeira vez no ano. Após a sequência de deflações, os bilhetes subiram 12,09% em maio. Em junho, no entanto, o valor caiu 9,87%. Em 2023, o item foi o quinto que mais influenciou o IPCA, atrás de gasolina, emplacamento e licença, plano de saúde e energia elétrica residual.
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Apesar disso, 53% dos brasileiros planejam viajar nos próximos 12 meses. Os dados são de uma pesquisa da Hibou, empresa de pesquisa, monitoramento e insights de consumo, realizada entre os dias 5 e 7 de julho de 2024.
Entre os entrevistados, 33% mencionaram o custo das passagens aéreas como um impedimento. Os preços dos bilhetes são bastante dinâmicos por várias razões, como disponibilidade de fornecedores, fator de ocupação, sazonalidade, tipo de serviço, antecipação da compra, permanência mínima, entre outros.
Os preços das passagens aéreas estão em um nível historicamente alto, mas as pessoas ainda estão dispostas a pagar para viajar. Esse alto preço tem a ver com a oferta de voos, que ainda não voltou aos níveis pré-pandemia.
Alex Todres, diretor-geral da Decolar no Brasil
O aumento das passagens aéreas é um fenômeno global. O setor tem enfrentado a alta dos preços internacionais dos combustíveis e os efeitos da pandemia de Covid-19. "Há falta de aviões no mercado global, e as empresas aéreas estão levando mais tempo para recompor a oferta de voos", diz Alex Todres.
Menos de 28,44% das vendas de pacotes de viagem correspondem à venda de experiência completa. Marina Figueiredo, presidente executiva da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA) explica que muitas pessoas têm buscado comprar pacotes de viagem sem a passagem aérea.
Turistas estão buscando comprar passagens aéreas com milhas ou em promoções online, muitas vezes durante a madrugada, para conseguir preços mais baixos.
Além disso, os viajantes estão optando por pacotes de viagem mais econômicos. Mesmo em tempos de economia mais estável, Ana Carolina Medeiros, presidente do Conselho da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), coloca que os pacotes básicos, com menos passeios, hotel e passagem, ainda são os mais procurados.Quando o dólar aumenta, a pessoa adapta a viagem e não deixa de viajar. Faz uma viagem mais curta, um voo com escala, muda o hotel, vai ajustando a viagem para conseguir viajar. Além disso, mesmo em momento de crise, o rico continua muito rico, e a busca por experiências exclusivas se mantém forte.
Marina Figueiredo, presidente executiva da BRAZTOA
A experiência, porém, ainda é muito valorizada. Figueiredo conta que os brasileiros ainda focam muito nas experiências durante as viagens. "Mexe-se no padrão de hotel, mas mantém o restaurante, o passeio de barco, mantém as atividades. O brasileiro vai mexendo mais nas outras coisas e parcela para manter os planos", diz.
Viagens internacionais
Os destinos internacionais continuam sendo bastante procurados. A desaceleração do crescimento do turismo internacional não afetou o setor, uma vez que houve um aumento de 4,5% nas viagens para fora do Brasil, conforme o último relatório da BRAZTOA. Em número de passageiros, registrou-se o maior valor desde que o levantamento começou a ser realizado em 2010, com mais de 3 milhões de pessoas.
O turismo internacional recuperou 88% do nível registrado em 2019 no mundo. O Barômetro do Turismo Mundial da ONU de 2023 mostrou que cerca de 1,3 bilhão de turistas viajaram pelo planeta. Esse número representa um aumento de 34% em comparação com 2022.
Embora o dólar esteja alto, o brasileiro retomou a confiança e voltou a planejar viagens. Fabio Mader, Diretor Executivo de Produtos da CVC, comenta que, diferentemente de 2023, quando "as famílias acabaram deixando a decisão da viagem para a última hora", este ano os brasileiros têm se mostrado mais confiantes ao planejar suas viagens.A volta de maior confiança do consumidor no 1º trimestre de 2024 contribuiu para que as viagens internacionais da CVC retornassem agora ao patamar histórico de 40% das vendas totais de viagens de férias.
Fabio Mader, Diretor Executivo de Produtos da CVC
As cidades mais vendidas foram Orlando, Buenos Aires, Lisboa, Roma e Punta Cana. Segundo as operadoras da BRAZTOA, os países mais vendidos foram Estados Unidos, Itália e Argentina. A duração média das viagens foi de mais de 10 dias e o valor médio da passagem foi de US$ 2.564.
Viagens nacionais
Os voos nacionais atingiram o nível de passageiros pré-pandemia. Segundo a Decolar no Brasil, houve um aumento de 36% nas buscas por voos domésticos no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2023.
O embarque nacional é 181,5% maior que o internacional. Em 2023, foram registrados 8,71 milhões de embarques para destinos nacionais, enquanto 3,09 milhões de passageiros viajaram para destinos internacionais, conforme dados das operadoras da BRAZTOA.
55% dos brasileiros preferem viajar para outros estados do Brasil. Dados da pesquisa da Hibou reforçam esse comportamento, apontando ainda que 23% dos entrevistados viajam dentro do próprio estado em que residem.
As cidades mais procuradas foram São Paulo, Maceió, Porto Seguro, Porto de Galinhas e Recife. A duração média das viagens variou de cinco a nove dias, e o valor médio das passagens foi de R$ 2.190.
Apesar do aumento geral nos preços das passagens, os principais destinos tiveram uma redução nos custos. Um levantamento inédito solicitado pela reportagem à KAYAK no Brasil, empresa cujo principal produto é um metabuscador de viagens, mostrou que Maceió, Recife e São Paulo apresentaram queda no preço médio das passagens este ano em relação a 2023. O levantamento considerou buscas por voos de ida e volta, em classe econômica, partindo de todos os aeroportos do Brasil.
A troca de viagens internacionais por viagens nacionais está em evidência. De acordo com a presidente do Conselho da ABAV, Ana Carolina Medeiros, ainda não é possível avaliar se as viagens nacionais substituirão ainda mais as viagens internacionais devido à alta do dólar.