'Succession' da vida real: o que está em jogo na disputa da família Murdoch

Rupert Murdoch, o patriarca da família dona de um dos conglomerados de mídia mais importantes do mundo, alterou um fundo irrevogável da família para preservar seus negócios de mídia como uma força conservadora. Agora, três de seus filhos estão questionando a decisão.

A fortuna de Murdoch

Rupert Murdoch e sua família têm uma fortuna estimada em US$ 19,7 bilhões (cerca de R$ 111 bilhões), segundo a Forbes.

A fortuna da família teve um pico em 2021, quando atingiu US$ 23,5 bilhões (R$ 132,4 bilhões), ainda de acordo com a revista.

O valor é baseado em uma análise de dividendos — boa parte da fortuna dos bilionários está atrelada as ações —, transações internas, impostos e valorização de mercado. Segundo a Bloomberg, Murdoch também possui imóveis ao redor do mundo que estão considerados na conta.

Como ele construiu seu império?

Atuante desde os anos 1950, Murdoch construiu um império transcontinental de mídia a partir da Austrália. Nascido em 1931, ele iniciou sua trajetória na área ao herdar um pequeno jornal após a morte de seu pai.

Sob seu comando, o negócio prosperou, e ele passou a adquirir outras publicações na Austrália e na Nova Zelândia. Um padrão já se desenhava nessa época: os jornais de Murdoch apoiavam abertamente candidatos ou governos.

Em 1969, ele expandiu seus negócios para o Reino Unido, com a aquisição do tabloide News of The World. Em 1974, foi a vez de comprar o tabloide The Sun e mais tarde, em 1981, o tradicional jornal The Times.

Chegando ao mercado norte-americano. Ainda nos anos 1970, ele fincou o pé pela primeira vez nos EUA ao adquirir o The New York Post.

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Nesses processos de aquisição, Murdoch mudou radicalmente a linha editorial de várias publicações, favorecendo um jornalismo agressivo e populista.

A preferência por políticos variava de acordo com a ocasião. Nos anos 1980, seus jornais no Reino Unido apoiavam abertamente a premiê conservadora Margaret Thatcher — especialmente durante a Guerra das Malvinas —, mas nos anos 1990 passaram a defender os trabalhistas de Tony Blair, para depois nos anos 2000 voltar a apoiar os conservadores.

Nos anos 1980, Murdoch também adquiriu nos EUA o estúdio de cinema Twentieth Century Fox — posteriormente revendido para a Disney — e a editora HarperCollins. Também lançou um canal de TV aberta, a Fox, responsável por programas notáveis dos anos 1990 como Os Simpsons e Arquivo X.

Já um bilionário à época, Murdoch lançou em 1996 aquele que seria de longe o veículo mais influente — e, para alguns, nefasto — do seu império de mídia: o canal de notícias Fox News.

Com uma linha de ultradireita e de ataque a causas associadas à esquerda ou ao Partido Democrata, a Fox News acabaria por ajudar a remodelar a paisagem política dos EUA, promovendo figuras do Partido Republicano, entre candidatos neoconservadores e, mais tarde, ultradireitistas como Donald Trump - embora neste último caso o relacionamento tenha sido, por vezes, tumultuado.

Disputa familiar pelo controle dos negócios

Em setembro do ano passado, Murdoch anunciou que transferiria a presidência de seu conglomerado ao filho primogênito, Lachlan Murdoch. No memorando de renúncia, o magnata assegurou seus funcionários de que seu herdeiro exerceria o cargo com mão firme.

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"Meu pai acreditava firmemente em liberdade, e Lachlan é absolutamente engajado com a causa", escreveu Murdoch, prometendo que continuará "envolvido todo dia na competição de ideias".

Disputa em família. Agora, segundo o The New York Times, o patriarca alterou um fundo irrevogável da família para preservar seus negócios de mídia como uma "força conservadora".

A mudança visa garantir que Lachlan, seu filho mais velho e sucessor já escolhido, continue no comando do império de mídia. Com isso, o patriarca entrou em uma batalha jurídica contra outros três de seus filhos — James, Elisabeth e Prudence.

O julgamento para decidir o caráter da ação de Murdoch está previsto para começar em setembro. Em jogo estará — além da fortuna familiar — o futuro de um dos conglomerados de mídia mais influentes politicamente no mundo de língua inglesa.

*Com Deutsche Welle

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