Depois de bater recordes, para onde vai a Bolsa?

Depois de bater o recorde de pontuação nesta segunda, terça e quarta-feira (21), a Bolsa de Valores de São Paulo acumula mais de 7% de alta em agosto. A pergunta que fica é: até onde vai essa alta?

O que está acontecendo

A Bolsa brasileira vinha sofrendo desde o início do ano. No começo do mês, sofreu ainda mais com a chamada Black Monday, no dia 5, quanto Bolsas do mundo todo, incluindo a brasileira, despencaram com o temor de recessão nos EUA. Especulou-se que o Federal Reserve, o banco central americano, pudesse ter mantido os juros altos por tempo demais.

Outros dados da economia americana publicados em seguida, como emprego e pedidos de seguro-desemprego, mudaram essa percepção. A recessão não é tão iminente como se pensava. No entanto, os dados indicam que, logo, o Federal Reserve deve cortar os juros americanos.

O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, deu indicações nesse sentido. "Uma redução tardia dos juros ou insuficiente poderá enfraquecer indevidamente a atividade econômica e o emprego", disse ele, no Congresso Americano, no mês passado. É essa certeza de que agora vai — que os cortes vão ser feitos em setembro — que está fazendo a Bolsa brasileira e muitas outras pelo mundo subirem.

Mudança nos juros dos EUA afeta o Brasil

Os juros americanos passaram a subir há dois anos, para conter a inflação da pandemia. Desde então, os investidores consideraram que era mais seguro e rentável deixar dinheiro no Tesouro Americano, que paga entre 5,25% e 5,50% ao ano, em vez de se arriscar em Bolsas emergentes, como a brasileira.

Com o corte de juros, o dinheiro volta para mercados como o Brasil. Com a entrada de mais dólares no país, o real se valoriza em relação ao dólar e, consequentemente, a inflação brasileira tende a cair. A desinflação da economia americana, acompanhada por uma desaceleração econômica suave, abre espaço para cortes na taxa de juros aqui. "Este movimento diminui o risco dos países emergentes, como o Brasil, e impulsiona os ativos de risco. Já podemos observar um fluxo positivo de capital estrangeiro na B3", diz Daniel Sabino, diretor do Grupo NanoCapital.

Investidores voltaram a investir no Brasil. Em um único dia, 15 de agosto, investidores estrangeiros trouxeram R$ 1,29 bilhão para o Brasil. Em agosto, já há um saldo positivo de R$ 4 bilhões. Isso inverte a fuga que vinha acontecendo desde o começo do ano. O saldo ainda está negativo em R$ 32,513 bilhões, segundo dados da B3 coletados pela Nova Futura Investimentos.

Bolsa continuará em alta?

Se nada mudar e o Fed cortar os juros americanos, a Bolsa deve continuar se recuperando. "A Bolsa deve seguir sua tendência de alta", segundo publicou o BB Investimentos. Mas podem acontecer oscilações. "O Ibovespa opera muito próximo ao limite superior. Nesse patamar, é comum a ocorrência de curtos períodos de realização (vender ações para embolsar o lucro), mesmo dentro da tendência", publicou o banco.

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Outro fator que ajuda a consolidar essa recuperação é que empresas divulgaram balanços positivos no segundo trimestre. "Este marco histórico da Bolsa também é impulsionado pela temporada de balanços, que mostrou resultados positivos das empresas", diz Sabino. A receita ficou, no geral, 3,1% acima das expectativas dos especialistas, segundo levantamento do Itaú BBA. Os últimos balanços foram divulgados na semana passada. Pelo levantamento do Itaú, o lucro geral ficou 5,3% acima das estimativas.

Há espaço mesmo depois dos recordes. Os resultados em pontos são nominais. Ou seja, não significa que o Ibovespa está no máximo histórico. Ponderando a variação da inflação, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o Ibovespa ainda estaria muito longe do recorde real, que foi em 20 de maio de 2008. Na ocasião, o Ibovespa atingiu o que hoje corresponderia a 182.275 pontos.

Que ações comprar

Há oportunidades de ganhos, especialmente em ações de empresas descontadas, como as de varejo, diz Sabino. "Porém, é importante estar atento a ajustes no mercado, principalmente com o possível aumento da Selic de 10,5% para 11,25%, previsto até o final deste ano. Tem também a proximidade das eleições americanas e conflitos geopolíticos, que são fatores de risco".

As ações do setor bancário vêm tendo um bom desempenho. É o que diz Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital. As instituições financeiras tiveram bons balanços e há uma previsão de melhora para a carteira de crédito até o final deste ano.

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