Bolsa fecha em queda, e dólar sobe após dados de empregos nos EUA

A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em baixa de 1,41% nesta sexta-feira (6), com o Ibovespa indo a 134.572 pontos. O dado mais esperado pelos investidores — que poderia dar dicas sobre o tamanho do corte de juros nos Estados Unidos — acabou dividindo o mercado.

O dólar, que chegou a cair no início do dia, mudou de sinal. Fechou em alta de 0,35%, indo a R$ 5,590. O dólar turismo ficou cotado a R$ 5,805 (venda).

O que aconteceu

O mercado de trabalho dos EUA criou 142 mil novos postos de trabalho em agosto, menos do que o esperado. O "payroll", como é chamado o dado, deveria se expandir em 161 mil vagas em agosto, de acordo com as expectativas do mercado.

A abertura de vagas de agosto, porém, foi bem maior que os 89 mil postos de trabalho de julho, número revisado para baixo recentemente. E a taxa de desemprego caiu para 4,2%, como esperado, de acordo com o escritório de estatísticas do Departamento de Trabalho do governo americano.

O "payroll" dos Estados Unidos apresentou dados mistos, frustrando expectativas e alimentando discussões sobre se o corte será de 25 ou 50 pontos-base

Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital

Por que o "payroll" é importante?

Esse era o dado mais esperado pelo mercado já que é um dos principais fundamentos que definirão o corte de juros. O Federal Reserve, o BC americano, também chamado de Fed, divulgará a nova taxa no dia 18 deste mês. A atual — entre 5,25% e 5,50% ao ano— é a maior em cerca de 22 anos. O banco subiu os juros depois da pandemia para conter a inflação dos EUA.

Quando os EUA aumentaram os juros, investidores do mundo todo correram para o Tesouro Americano. Essa é a aplicação mais segura do mundo e, pagando taxas tão altas, o capital saiu de investimentos mais arriscados, como Bolsas emergentes.

Continua após a publicidade

Com o corte, mercados emergentes como o Brasil se beneficiam, e o dinheiro volta a vir para cá. E um corte maior, de 50 pontos base, faria mais efeito ainda. "O corte torna o diferencial de juros pró-Brasil mais atrativo, fortalecendo o real. No entanto, fatores como o fiscal doméstico e questões globais, como as eleições nos EUA e a situação na China, podem afetar essa valorização", diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresa de ouro e câmbio.

Nos últimos dois meses, quando o Fed passou a dar dicas de que faria o corte, o mercado se adiantou. Houve uma entrada de R$ 10,01 bilhões em capital estrangeiro na B3 em agosto e de R$ 3,552 bilhões em julho.

Então, por que a Bolsa não subiu?

Parte do mercado teve uma leitura positiva dos dados e outra, negativa. Para alguns, a criação de 142.000 novas vagas, bem menos que a previsão de 161.000 dá indícios de que a economia está esfriando e que é preciso um corte grande dos juros. Essa visão também trouxe o temor de que talvez a economia americana esteja desacelerando mais que o esperado, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.

Outros investidores, porém, veem que o mercado não está tão mal assim. Isso porque o número de novas vagas passou de 89 mil postos de trabalho em julho para os 142 mil de agosto. E passam a apostar num corte de juros menor, em torno de 25 pontos base.

Sendo assim, tanto a Bolsa brasileira, quanto a americana (Dow Jones) tiveram queda. "O dado não trouxe novidade", diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. O mercado, segundo ele, estava esperando dados mais drásticos, que dessem indicação de um corte de juros maior — o que não aconteceu.

Continua após a publicidade

E teve o petróleo também

O preço do petróleo caminha para ter a maior perda semanal em quase um ano. As preocupações com a fraca demanda, principalmente na China, e a oferta ampla fazem o valor cair. O cartel de nações exportadoras de petróleo, Opep+, concordou em adiar um aumento planejado na produção de petróleo para outubro e novembro. Mas nem isso foi suficiente para conter a baixa.

Consequentemente, as ações da Petrobras (PETR3 e PETR4), que são as que mais pesam no Ibovespa, tiveram baixa. PETR3 fechou em queda de 1,72%, indo para R$ 41,18, enquanto PETR4 caiu para R$ 37,63, com desvalorização de 1,75%, conforme dados preliminares.

Os investidores também aproveitaram a sexta para vender e embolsar os lucros dos últimos dias, acrescenta Luives. Tanto é que uma das maiores quedas do pregão foi a da Embraer (EMBR3). Conforme dados preliminares, a ação caiu 5,28%, para R$ 47,16. "Vale lembrar que essa ação acumula cerca de 110% de alta em 2024. Isso sugere realmente que parte do movimento de venda de hoje no Ibovespa foi devido a investidores realizando lucros após essa valorização expressiva", diz Iarussi, da The Hill Capital.

Para a próxima semana, o foco se volta para o CPI dos Estados Unidos, indicador de inflação. O número sai na quarta-feira (11). Dados econômicos da China, incluindo indicadores de inflação e atividade econômica, também serão divulgados.

Deixe seu comentário

Só para assinantes