Por que os EUA cortaram juro e o Brasil aumentou?
Lílian Cunha
Colaboração para o UOL, em São Paulo
18/09/2024 18h55
A inflação subiu no mundo todo depois da pandemia. Para conter essa alta de preços, muitos governos — incluindo o do Brasil e dos Estados Unidos — subiram as taxas de juros. Nesta quarta-feira (18), o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) fez o primeiro corte nas taxas desde março de 2020, quando iniciou o ciclo de alta. No Brasil, entretanto, os primeiros cortes começaram no ano passado, mas, agora, o Banco Central decidiu aumentar a taxa. Também nesta quarta-feira, o Copom elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, que passa a ser de 10,75%.
Por que os EUA cortaram os juros?
A inflação nos Estados Unidos vinha mostrado sinais de desaceleração. Mas ainda está acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed). Lá, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de agosto mostra uma inflação de 2,5% ao ano.
O problema lá é que a taxa de juros alta começou a afetar o mercado de trabalho e a provocar sinais de recessão, com a economia encolhendo. O foco do Fed, então, passou a ser evitar o aumento do desemprego, que chegou a 4,2% em agosto. Há até quem diga que o Fed demorou demais para começar o ciclo de cortes e, por isso, o risco de recessão ainda existe.
No Brasil, ao contrário, a taxa de desemprego está em queda. Ela ficou em 6,8% em julho, menor valor no mês para a série histórica.
E por que a taxa aumentou no Brasil?
Atualmente, a inflação nos últimos 12 meses foi de 4,24% em agosto, e de 2,85% no acumulado de 2024. A meta do Banco Central brasileiro é que ela chegue ao final do ano em 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%).
É basicamente por isso que a taxa Selic subiu aqui enquanto a dos Estados Unidos foi reduzida. A inflação bate no teto da meta, e há fatores indicando que ela pode crescer. Momentaneamente, o aumento da conta de luz por causa das secas pode afetar a inflação. "O consumo das famílias deve continuar impulsionando o crescimento da economia, em meio à resiliência do mercado de trabalho", publicou o Itaú BBA. Para o banco, esse consumo em alta é preocupante. Por isso, o banco defende uma alta da Selic para 11,75% ao final de 2024.
Diferencial de juros entre os países ajuda a Bolsa brasileira. O mercado ganha emprestando dinheiro em países onde a taxa é baixa e, depois, aplica esse dinheiro por aqui. Por isso havia uma grande expectativa do mercado para o aumento da Selic, que realmente aconteceu..
Outro motivo é o aumento dos gastos do governo, que pressiona a inflação. As despesas governamentais devem ter este ano um saldo negativo de R$ 28 bilhões. Quanto mais o governo gasta além da conta, mais a inflação é pressionada. "Controlar os gastos públicos, evitar despesas fora do teto de gastos e frear a criação de novos impostos que possam prejudicar o crescimento são passos essenciais", diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresa de ouro e câmbio.
Maiores taxas do mundo
Nos EUA, mesmo com o corte, a taxa entre 4,75% e 5% continua sendo uma das maiores entre as 20 economias com maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, segundo levantamento do C6 Bank. Bem menor, de qualquer forma, que a taxa brasileira, em 10,75%.