Defesa recebe 35% a mais que Meio Ambiente para combate às queimadas
O governo federal liberou R$ 514 milhões em crédito extraordinário para combater as queimadas no território que corresponde à Amazônia Legal. A medida provisória foi assinada na quarta-feira (18) e já passa a valer como lei.
Os maiores repasses serão para o Ministério da Defesa (R$ 154,75 milhões), Integração e Desenvolvimento Regional (R$ 130 milhões) e Meio Ambiente (R$ 114,35 milhões).
A medida provisória foi elaborada após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino autorizar a liberação de recursos fora do teto fiscal para o enfrentamento das queimadas.
O que aconteceu
Sete ministérios são beneficiados. A medida provisória assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destina recursos aos Ministérios da Justiça e Segurança Pública; do Meio Ambiente e Mudança do Clima; do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; da Defesa; da Integração e do Desenvolvimento Regional; do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; e dos Povos Indígenas.
Defesa recebe 35% a mais que Meio Ambiente. As Forças Armadas serão as principais destinatárias dos recursos para o combate às queimadas, sendo o único programa contemplado o "Emprego Conjunto ou Combinado das Forças Armadas".
Ação do grupo de trabalho não está clara. O grupo de trabalho tem como objetivo empregar as Forças Armadas em uma faixa de 250 km ao longo da fronteira terrestre na Amazônia Legal para combater "delitos transfronteiriços e ambientais". No entanto, questionado pelo UOL Economia sobre a atuação específica no combate aos incêndios, o Ministério da Defesa não se manifestou até o fechamento da reportagem.
Marina Silva cobra apoio das Forças Armadas. A ministra do Meio Ambiente encaminhou um ofício ao Ministério da Defesa solicitando mais aeronaves. Segundo o boletim divulgado na terça-feira (17), há atualmente 30 aeronaves do Governo Federal atuando no combate às queimadas: nove aviões e 15 helicópteros do Ibama e ICMBio, além de dois aviões e quatro helicópteros das Forças Armadas. No Pantanal, 39 embarcações estão em operação, sendo 33 das Forças Armadas, cinco do Ibama e ICMBio, e uma da Polícia Federal.
Ibama também atua com brigadistas. O contingente de brigadistas do Ibama totaliza 2.255 pessoas, das quais 1.116 são indígenas. Estima-se que cerca de 18% dos brigadistas sejam quilombolas ou habitantes de áreas regionais, incluindo comunidades de reforma agrária, com conhecimento sobre a movimentação nas áreas florestais. Somando os efetivos do Ibama e do ICMBio, o número de brigadistas contratados chega a 3.245.
Quanto receberá cada ministério
Ministério do Meio Ambiente receberá R$ 114,35 milhões. Além do Ibama e do ICMBio, outros projetos e ações da pasta de Marina Silva serão beneficiados. Cerca de R$ 45,9 milhões serão destinados ao programa de "Fiscalização Ambiental e Prevenção e Combate a Incêndios Florestais", enquanto as ações de "Formulação e Implementação de Políticas, Estratégias e Iniciativas para o Controle do Desmatamento e Incêndios Florestais" e de "Ordenamento Ambiental Territorial e Publicidade de Utilidade Pública", ambas focadas na Amazônia Legal, receberão R$ 5 milhões cada.
R$ 8,35 milhões serão destinados ao Ministério da Justiça. A pasta tem sido responsável pela repressão e ações contra crimes ambientais. Segundo o governo, mais de R$ 38,6 milhões já foram repassados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública para custear as forças de segurança dos estados e do Distrito Federal nas operações de proteção aos biomas, entre janeiro e agosto de 2024.
Até o momento, são 312 bombeiros da Força Nacional, que respondem à Justiça, atuando em 22 municípios da Amazônia Legal e do Pantanal. A Amazônia Legal corresponde a cerca de 59% do território brasileiro, abrangendo, além da floresta amazônica, biomas como o Cerrado e o Pantanal. Essa região inclui os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, parte do Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
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Quero receberEm muitos estados estamos trabalhando junto com os bombeiros de governos locais, que têm efetivo muito maior. Uma 'estrutura de guerra' foi mobilizada nos últimos dias.
Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama
R$ 100 milhões serão destinados ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Conforme comunicado do governo, cerca de 2.600 famílias serão beneficiadas pelo "Programa de Aquisição e Distribuição de Alimentos da Agricultura Familiar", que receberá R$ 40 milhões. Além disso, R$ 60 milhões serão destinados ao "Programa de Distribuição de Alimentos a Grupos Populacionais Tradicionais e Específicos e a Famílias em Situação de Insegurança Alimentar e Nutricional Decorrentes de Situações de Emergência ou Calamidade Pública".
R$ 130 milhões serão repassados ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional para Ações de Proteção e Defesa Civil. Outros dois ministérios também serão contemplados: R$ 6 milhões serão destinados ao Ministério dos Povos Indígenas e R$ 1 milhão ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
Queimadas pelo país
O Brasil registrou mais de 202 mil focos de incêndio até agora em 2024. Esse número coloca o país como o líder mundial em queimadas, seguido por Bolívia e Venezuela. Somente no mês de agosto, mais de 110 mil quilômetros quadrados de áreas naturais foram devastados pelo fogo.
Mato Grosso lidera o ranking nacional de queimadas. Com 741 focos ativos nas últimas 48 horas, o estado é seguido pelo Amazonas, com 522 focos, e pelo Acre, com 478.
Cerrado é o bioma mais afetado pelas queimadas. Embora a Amazônia concentre metade dos focos de incêndio no país, o Cerrado foi o bioma com a maior área devastada. Até agosto, os incêndios atingiram mais de 106 km² dessa vegetação.
A qualidade do ar no Brasil está crítica devido às queimadas. As queimadas têm causado destruição na flora e fauna locais, além de emitir grandes quantidades de fumaça. Estados como o Acre e regiões do interior de São Paulo já enfrentam o cancelamento de aulas devido à poluição atmosférica.
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