Bolsa sobe e dólar cai com alta do petróleo e classificação de risco

A Bolsa de Valores de São Paulo trabalha nesta quarta-feira (02) em forte alta de 1,23%. Depois do meio-dia, o Ibovespa ia a 134.128 pontos, com o mercado de olho no petróleo, que continua subindo em meio ao conflito no Oriente Médio — e depois da nova nota de classificação de risco da Moody's para o Brasil.

O dólar tinha baixa de 0,84%, indo a R$ 5,628, pressionado pela alta do petróleo. O dólar turismo ia a R$ 5,62.

O que está acontecendo?

Israel disse que está planejando uma resposta ao ataque do Irã de "surpresa" e com "precisão". Em meio a escalada do conflito, os preços do petróleo continuam subindo. Depois da alta de quase 3% na terça-feira, o barril do tipo Brent (da Petrobras) tinha elevação de 1,88%, indo a US$ 74,94. O WTI (EUA) subia 2,05%, para US$ 71,26.

A disparada impulsiona novamente na busca por ações da Petrobras (PETR3 e PETR4). Com peso de 11,86% no Ibovespa, essa corrida pelos ativos da petroleira fazem a Bolsa subir e o dólar cair. PETR3 tinha alta de 1,88%, indo a R$ 41,08, enquanto PETR4 chegava a R$ 37,71, aumentando 2%.

As tensões no Oriente Médio estão gerando apreensão global, levando as bolsas americanas a caírem. "Mas o preço do petróleo beneficia ações do setor, como as da Petrobras, que estão em alta, beneficiando o Brasil como exportador", diz Júlio Mora, presidente da Choice Investimentos. "Além disso, o 'upgrade' da Moody's aliviou a pressão sobre o dólar e a bolsa brasileira, que se descolou das quedas internacionais", completa ele.

Risco

O mercado recebeu com surpresa a nova nota de risco do Brasil, embora a Bolsa esteja reagindo bem. A agência de classificação Moody's deixou o Brasil a apenas um degrau do grau de investimento, melhorando a nota de "Ba2" para "Ba1". A perspectiva positiva foi mantida, o que deixa a porta aberta para a possibilidade de novo upgrade a médio prazo.

A decisão ajuda, mas não muda a percepção de risco fiscal. Foi o que disse Camila Abdelmalack, da Veedha Investimentos. "Estamos numa situação de déficit fiscal num nível que foi observado na recessão econômica do governo Dilma Rousseff. Então, essa nota acaba destoando", afirmou ela.

Mas, na comparação internacional, essa melhora é bem razoável, segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "O Brasil está bem quando a gente compra com outros pares. A verdade é que o mundo todo passa por dificuldades fiscais. A dívida pública mundial já passou de US$ 300 trilhões", afirmou ele.

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Desde a pandemia, os países elevaram fortemente os gastos públicos. Isso resultou em déficits muito acima das médias históricas. Os maiores são os dos Estados Unidos e da China.

E existe um impacto positivo no câmbio. "O grau de investimento de um país é um parâmetro de bom pagador de suas obrigações e reflete bons fundamentos econômicos, o que implica, teoricamente, na apreciação da moeda local e queda das taxas de juros", diz Ricardo Martins, economista chefe da Planner Investimentos e presidente executivo da Apimec Brasil (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais do Brasil). "Embora tenha sido inesperada, surpreendente e controversa pelas preocupações de mercado, a melhora da nota traz uma responsabilidade maior ao governo", acrescenta ele.

O mercado, no entanto, tem um pé atrás com agências de risco. "A Faria Lima tem sido cautelosa quanto às agências de classificação de risco desde a crise dos 'subprime' em 2008, quando elas falharam em prever a falência do Lehman Brothers e outras grandes empresas", diz Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, empresa de ouro e câmbio.

Produção industrial

A produção industrial do Brasil voltou a crescer em agosto e ficou em linha com o esperado. No oitavo mês do ano, a indústria apresentou alta de 0,1% da produção em relação a julho, quando recuou 1,4%, de acordo com os dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É uma boa notícia. "Apesar do crescimento relativamente baixo, indicadores antecedentes mostram uma sólida recuperação do setor na reta final do ano", diz André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online:

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Nos EUA

A maior preocupação no país agora é o envolvimento com o conflito entre Israel e Irã. Mas o mercado está também de olho nos dados de emprego, que podem ajudar a definir o tamanho do corte de juros no dia 7 de novembro.

O relatório ADP de criação de vagas de setembro mostrou que o emprego privado aumentou em 143 mil. Isso supera a expectativa de geração de 120 mil postos de trabalho. O crescimento salarial continuou a desacelerar, com ganhos diminuindo 4,7% ano a ano, para quem permaneceu no mesmo emprego. O dado colabora para um corte menor da taxa americana.

Também nos EUA, chama a atenção a greve nos portos. A paralisação fechou os 36 principais portos da costa leste dos EUA e Golfo do México, responsáveis por metade do volume de comércio do país. A perda econômica da paralisação pode chegar a US$ 4,5 bilhões por dia, segundo o JPMorgan.

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