Josias: Mercado de trabalho aquecido pode impulsionar taxa de inflação
A queda na taxa de desemprego significa uma ótima notícia para o governo Lula, mas ao mesmo tempo representa um desafio para controlar um possível aumento na inflação, avaliou o colunista Josias de Souza no UOL News desta quinta (31).
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou hoje que a taxa de desemprego no Brasil recuou a 6,4% no trimestre encerrado em setembro. Este é o menor nível de toda a série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) para o período. O indicador é coletado desde 2012.
É uma boa notícia, evidentemente. O mercado de trabalho está aquecido e isso já havia sido demonstrado nos dados do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho]. Ali, já havia se verificado um saldo positivo de 248 mil vagas formais, com carteira assinada, em setembro. É um número importante e superou as expectativas do mercado.
O desemprego está caindo e o emprego, aumentando. Isso é positivo, mas a economia é uma ciência complexa. A expectativa é de que a situação do emprego melhore agora. Estamos chegando perto do fim do ano, com 'Black Friday' pela frente e aquela temporada natalina, com muitas contratações temporárias.
Estamos próximos de alcançar uma taxa de desemprego abaixo de 7%, o que já pode ser considerado como uma fase de pleno emprego. Isso traz um risco: com o mercado aquecido, aumenta a renda das pessoas e isso impulsiona a taxa de inflação. Daí esse paradoxo: estamos vivendo um bom momento, com crescimento rodando na casa dos 3%, também acima das previsões do mercado, emprego melhorando, e os juros do Banco Central estão nas alturas. Josias de Souza, colunista do UOL
Para Josias, o governo ainda precisa resolver temas econômicos delicados, como o corte de gastos e as elevadas taxas de juros, mas pelo menos pode discuti-los com mais segurança por conta dos bons indicadores de emprego e crescimento.
É evidente que é melhor administrar o aquecimento acima do esperado e evitar que a inflação exploda. O governo está discutindo com Haddad e Tebet um pacote de contenção de gastos. Para que o BC abaixe a taxa de juros, é preciso que o governo mantenha seus gastos sob controle. Esgotou-se aquela fase em que Haddad foi buscar o equilíbrio fiscal no aumento da arrecadação.
O governo discute como fará para manter aquela estrutura fiscal aprovada pelo Congresso quando Lula tomou posse. Há os dilemas, mas é mais confortável administrá-los com pleno emprego e com um crescimento acima do que o mercado previa do que combinar estagnação econômica com corte de gastos. Vivemos um momento alvissareiro, com as pendências que a economia precisa resolver. Josias de Souza, colunista do UOL
Sakamoto: Lula trabalha Haddad como sucessor, mas há resistência no PT
Lula vê o ministro da Fazenda Fernando Haddad como seu sucessor natural para concorrer à Presidência da República, mas enfrenta resistência dentro do PT, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto.
De maneira geral, existe uma 'lulodependência' na esquerda. Muita gente discute que há muitas lideranças de esquerda no Brasil, mas nenhuma delas com força para disputar um mandato nacional e assumir esse legado quando Lula se retirar da vida pública.
Existem alguns nomes que são naturalmente sucessores do presidente, como o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Há outros, mas que são citados apenas dentro do partido e que não têm força eleitoral nacional, como o ministro-chefe da Casa Civil Rui Costa e Camilo Santana [ministro da Educação].
Haddad tem mais projeção nacional, é uma sequência lógica e vem sendo trabalhado por Lula exatamente para isso. Ele já passou por essa corrida, mas enfrenta resistências dentro do próprio PT e da esquerda por ter uma visão que tenta conciliar as demandas do mercado com as questões sociais. Ele sofre pressão de uma outra ala do PT que quer mais atenção para o lado social, não apenas por uma questão de resultados nesta área, mas também eleitorais. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
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