Dólar a R$ 6? Entenda por que o preço da moeda mudou tanto ao longo do dia
Se até o Google ficou confuso com o preço do dólar e errou a cotação da moeda americana, não é de se estranhar que muitas pessoas também não tenham entendido por que o valor da divisa variou tanto ao longo desta quarta-feira (6).
O dólar comercial, usado em transações entre empresas e principal referência da cotação da moeda americana no país, oscilou de R$ 5,665 a R$ 5,862 durante o dia e terminou o expediente em queda de 1,26%, vendido a R$ 5,674. O turismo, cujo preço acompanha o do dólar comercial, encerrou a quarta (6) e queda de 1,22%, vendido a R$ 5,903 — cotação mais baixa do dia. Na máxima do atual expediente, atingiu R$ 6,082.
O fenômeno que explica esse sobe-e-desce se chama volatilidade cambial e foi agravado pela eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos.
O que é volatilidade do câmbio
Volatilidade cambial refere-se às oscilações no valor de uma moeda em relação a outra. Também é uma medida de quão rápidas e intensas essas variações ocorrem. Quando falamos da volatilidade do câmbio do dólar em relação ao real, estamos observando como o preço do dólar flutua — sobe ou desce — ao longo do tempo em relação ao real.
A volatilidade do câmbio do dólar em relação ao real pode ser causada por vários fatores, incluindo:
- Política monetária: ações dos bancos centrais, como o Banco Central do Brasil e o Federal Reserve dos EUA, que influenciam o valor das moedas.
- Situação econômica interna e externa: por exemplo, quando o Brasil enfrenta crises econômicas ou instabilidade política, investidores ficam inseguros em manter seus ativos no país e compram mais dólares, aumentando a demanda pela moeda e desvalorizando o real.
- Expectativas do mercado: se os investidores desconfiam que o valor do real pode cair, compram mais dólares para proteger seu dinheiro, o que amplia as oscilações no câmbio.
- Comércio internacional e fluxo de capital: quanto maior o fluxo de dólares para fora do Brasil (por exemplo, em importações), maior a pressão para que o real se desvalorize.
Qual é a relação entre volatilidade e as eleições dos EUA?
Incerteza sobre Donald Trump. Durante a campanha, Trump prometeu reduzir impostos e aumentar as barreiras comerciais, adotando uma política mais protecionista para a economia dos Estados Unidos. Além disso, o presidente eleito manteve um discurso rígido em relação à política migratória do país, prometendo uma deportação em massa de imigrantes. A incerteza sobre o cumprimento dessas promessas e o impacto econômico resultante contribui para a volatilidade do dólar.
Deverá haver uma mudança na política econômica americana, e ele pretende incentivar a indústria e a economia local, e isso significa aumento da dívida pública, inflação e taxa de juros mais elevadas dentro dos Estados Unidos.
Gilberto Braga, professor do curso de Economia e Finanças do Ibmec-RJ
Juros altos nos EUA. Se esse cenário se concretizar, de acordo com Braga, haverá uma "atração para a renda fixa nos títulos do Tesouro americano, ou seja, dólares que estão circulando pelos mercados emergentes, como o brasileiro, tendem a ir para os Estados Unidos". Dessa forma, ocorre uma maior desvalorização do real frente ao dólar.
Maior negociação da moeda. A incerteza levou a um aumento no volume de negociações de dólares.
Mais compra, maior valorização. De acordo com o economista e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM Fabio Andrade, muitas pessoas, a partir do anúncio do resultado das eleições norte-americanas, correram para comprar dólares. Esse cenário fez com que a moeda americana se valorizasse em relação ao real.
Mais venda, menor valorização (ou queda). Por outro lado, algumas pessoas que possuíam dólares se dispuseram a vendê-los. Quando mais pessoas vendem dólares, a oferta da moeda no mercado aumenta. Com mais dólares disponíveis para compra, o preço do dólar tende a cair em relação ao real, o que significa que o dólar se desvaloriza em comparação com a moeda brasileira.
Esse volume maior de negociação se explica por um comportamento muito imediatista de pessoas físicas induzidas por um certo pânico do que pode vir a acontecer com a economia global ou até mesmo com o pânico de que a taxa de câmbio fique maior ainda.
Fabio Andrade, economista e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM
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