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Dólar bate R$ 6 após anúncio de Haddad; até onde câmbio pode chegar?

Mercado reagiu mal ao anúncio do pacote fiscal Imagem: Alexander Grey/Unsplash

Do UOL, em São Paulo

28/11/2024 14h58

O dólar chegou à marca histórica de R$ 6 nesta quinta-feira (28) após o anúncio do pacote de gastos do governo federal. Especialistas ouvidos pelo UOL dizem que moeda deve continuar pressionada, que alta deve ser mais contida até o final do ano, mas dificilmente moeda encerrará 2024 abaixo de R$ 5,80.

Alta do dólar

Dólar disparou após notícias sobre pacote fiscal do governo. Na quarta-feira (27), o dólar atingiu o maior valor nominal da história no fechamento, em R$ 5,91. Ontem, analistas e operadores atribuíram a derrocada da moeda brasileira à informação de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciaria a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 (o que de fato foi anunciado) e medidas de contenção de gastos.

A proposta foi desenhada para cumprir as regras do arcabouço fiscal. Entre as medidas propostas, aparecem mudanças no reajuste do salário mínimo, no Bolsa Família e na concessão do abono salarial. Para os militares, o projeto quer inibir supersalários e acabar com a chamada "morte ficta". Houve o anúncio da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês.

Movimento do dólar

Prever a cotação do dólar é um trabalho difícil. Isto porque a moeda responde a diversas situações nacionais e internacionais, que não podem ser antecipados, diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

Ainda existem dúvidas sobre a implementação do pacote de gastos. Apesar de Haddad ter detalhado o pacote nesta manhã, as medidas fiscais precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional, assim como a isenção do IR, para que comecem a valer de fato. Quartaroli diz que teor do pacote pode mudar ao longo da tramitação, por exemplo, influenciando diretamente a reação do mercado e o valor do câmbio.

Dólar não deve ficar abaixo de R$ 5,80 até o final do ano. Alan Martins, analista da Nova Futura Investimentos, afirma que a moeda passou por uma mudança de patamar, o que significa que seu "novo normal" é ficar na casa dos R$ 5,80. "A probabilidade de continuar escalando uma trajetória de alta é muito grande", afirma Martins. Agora é preciso avaliar o movimento dos próximos dias para entender se o valor de R$ 6 é o novo teto da moeda ou se ela pode ultrapassar este patamar.

Mercado entende que há uma perda de credibilidade nas medidas de contenção de gastos. Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad, afirma que o mercado vai continuar acompanhando o potencial impacto financeiro dos cortes em relação à renúncia de arrecadação da proposta com a isenção do IR.

Estresse do dólar, que começou ontem, está relacionado a notícia sobre isenção do IR. Apesar de o mercado esperar que o assunto se tornasse pauta em algum momento, não era esperado que o anúncio viesse com o pacote de corte de gastos. Zogbi diz que o mercado ainda tem dúvidas se a compensação pela taxação de quem recebe acima de R$ 50 mil será suficiente para compensar a renúncia.

Alta forte não parece ser sustentável a longo prazo, para Zogbi.

Entramos em um cenário de que o dólar pode acabar continuando estressado por algum tempo, acima de R$ 6 ou próximo de R$ 6. Isso vai depender muito das próximas sinalizações e, principalmente, do esforço que o governo vai fazer para que as medidas não sejam ainda mais desidratadas no Congresso.
Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad

Interferências na cotação

Pacote fiscal é apenas um dos temas que influencia o dólar no longo prazo. Outros assuntos que tendem a mexer com a cotação do dólar são a política econômica dos Estados Unidos e as guerras no Oriente Médio e no leste europeu.

Acho que em um primeiro momento foi ruim, mas conforme as coisas vão avançando isso tende a dar uma acalmada. O mercado vai entendendo como essas medidas serão implementadas, mas o comportamento da taxa de câmbio depende de muitas outras coisas que não só o fiscal.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank

Cenário está desfavorável ao câmbio. Quartaroli diz que existe uma expectativa de que o governo de Donald Trump seja mais protecionista, levando a uma alta da taxa de juros norte-americana, o que faz com que moedas emergentes se desvalorizem.

Não diria que [dólar] vai subir mais do que está hoje, porque hoje eu acho que foi um momento mais de estresse, mas tenderia a migrar para uma projeção mais próximo do que está no Focus, entre R$ 5,70 e R$ 5,80.
Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank

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