Copom projeta taxa Selic em 14,25% ao ano em março e não prevê fim do ciclo
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo (SP)
17/12/2024 08h04
O BC (Banco Central) divulgou nesta terça-feira (17) a ata com as motivações que resultaram na alta de 1 ponto percentual da taxa Selic, de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano. No documento, os diretores da autoridade monetária defendem o compromisso de direcionar a inflação para a meta e projetam os juros básicos em 14,14% ao ano em março de 2025.
O que aconteceu
Diretores do BC preveem mais duas altas de 1 ponto percentual dos juros. Ao defender o "firme compromisso de convergência da inflação à meta", o Copom (Comitê de Política Monetária) projeta mais duas altas similares da taxa Selic nas reuniões de janeiro e março. Se confirmadas, decisões levarão os juros básicos a 14,25% ao ano.
O Comitê decidiu, unanimemente, pela elevação de 1 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões.
Ata do Copom
Autoridade monetária não estabelece fim do ciclo de alta da Selic. Conforme a ata, as duas altas previstas para as próximas reuniões podem não encerrar a trajetória de avanço dos juros básicos da economia nacional. "A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", diz o documento.
BC vê cenário de inflação "mais desafiador em diversas dimensões". A perspectiva considera a atividade econômica resiliente sinalizada pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre e o mercado de trabalho aquecido, com a redução da taxa de desemprego e aumento da população ocupada. Na percepção do Copom, os fatores, associados à política fiscal expansionista, ainda indicam um suporte ao consumo e à demanda agregada, impedindo a queda dos preços.
O ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo indica uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso, apesar da política monetária contracionista.
Ata do Copom
Cenário de inflação de curto prazo se deteriorou, afirma o Copom. A avaliação considera a forte alta no preço dos alimentos, com destaque para a inflação das carnes. "Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira", diz a ata. Sobre a variação de preços do setor de serviços, aquele menos sensível à política monetária, o diretores do BC avaliam que os preços seguem "acima do nível compatível com o cumprimento da meta".
Enfatizou-se que os vetores inflacionários se intensificaram desde a reunião anterior, como hiato do produto mais positivo, o mercado de trabalho ainda mais dinâmico, a nova depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas, tornando a convergência da inflação à meta mais desafiadora.
Ata do Copom
Política fiscal
Condução da política fiscal do governo ainda é motivo de preocupação. Segundo do Copom, o anúncio do pacote de corte de gastos afetou as expectativas do mercado financeiro, com alta das projeções de inflação e cotação do dólar. "O Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas", destaca a ata.
Banco Central defende andamento conjunto das políticas fiscal e monetária. As conduções para conter a inflação também são vistas com cautela. Para o Copom, as medidas da política econômica precisam ser "previsíveis, críveis e anticíclicas". "O debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas", afirma.
O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária.
Ata do Copom
Exterior
Ambiente externo também preocupa os diretores do Banco Central. O temor envolve a possibilidade de mudanças na condução da política econômica dos Estados Unidos após Donald Trump reassumir a presidência do país, diante da possibilidade de estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação. Também pesa na avaliação Copom a permanente incerteza sobre a inflação norte-americana, com condição de alterar a política monetária dos EUA.
Cenário de incertezas "exige maior cautela", avaliam diretores do BC. A ata do Copom vê o compromisso dos bancos centrais com o atingimento das metas como um "ingrediente fundamental no processo desinflacionário" e prega uma avaliação mais cautelosa dos juros locais. "Um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica", destaca.
Reunião foi a última sob o comando de Roberto Campos Neto. A partir de janeiro, o BC e o Copom serão presididos por Gabriel Galípolo. Indicado por Lula, ele formará um colegiado majoritariamente nomeado pelo presidente. Diogo Guillen (Política Econômica) e Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução) serão os únicos remanescentes entre os indicados por Bolsonaro a partir de 2025.
Mercado aumenta projeções para a taxa básica de juros em 2025 e 2026. O relatório Focus divulgado pelo BC nesta segunda-feira (16) elevou as expectativas de inflação para 2024 e 2025 e sinalizou que a taxa Selic deve encerrar o próximo ano em 14% ao ano. Para 2026 e 2027, a previsão doa analistas mostra os juros básicos em, respectivamente, 11,25% ao ano e 10% ao ano.