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O que esperar do Banco Central sob Galípolo em 2025?

Gabriel Galípolo tem boa relação com Lula, o que pode ser bom e ruim Imagem: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

Juliana Moraes

Colaboração para o UOL, de São Paulo

28/12/2024 05h30

Gabriel Galípolo assume a presidência do Banco Central sob olhares atentos dos agentes econômicos e políticos com o desafio de lidar com a forte pressão do governo Lula diante da Selic a 12,25% ao ano —prevista para chegar a 14,25% em março— e o dólar batendo níveis recordes acima dos R$ 6.

Economistas ouvidos pelo UOL apontam que Galípolo deve seguir os passos de seu antecessor, Roberto Campos Neto, mas terá uma vantagem: estará mais próximo de Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O que podemos esperar para 2025?

Decisões técnicas. Com sua passagem pelo posto de diretor de política monetária do BC, Galípolo pagou o pedágio, conquistou o mercado e mostrou que não adotará uma postura de subserviência a Lula, que é visto como um presidente que não se preocupa tanto com a inflação.

Postura de Galípolo agrada ao mercado. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do ano, muitos consideram que ele já passou seu primeiro recado como presidente. Além da elevação de 1 ponto percentual na Selic, o órgão anunciou outros dois possíveis aumentos de mesmo valor para as próximas reuniões, em decisão unânime.

O Galípolo, sem dúvida alguma, vai fazer uma gestão do BC muito parecida com a que Campos Neto fez. De uma independência técnica extremamente consolidada. Tem compromisso técnico, e não político.

Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating.

Porém, não haverá descanso para o novo chefe, diz André Galhardo, economista-chefe do Análise Econômica. "A gente vai ter que ficar de olho porque, faça o que fizer, Galípolo sempre será julgado como o homem indicado por este governo, de mais centro-esquerda, e não vai dispor da mesma tranquilidade que o Campos Neto em relação ao mercado."

Política monetária menos descredibilizada pelo governo. Se, por um lado, há o temor de que sua proximidade com Lula e Haddad poderia comprometer a independência do BC, por outro, há quem acredite que o acesso livre de Galípolo ao Planalto possa fazer cessar —ou, ao menos, diminuir a intensidade— dos ataques de Lula às decisões do BC.

Lula, que várias vezes criticou o aumento da Selic, tende a ser mais compreensivo com o ex-braço direito de Haddad na Fazenda. "O fato do Gabriel Galípolo ser uma pessoa que goza da confiança do presidente da República vai facilitar. Quando tiver que subir juros, ele deve conversar com Lula, e acho que terá uma boa vontade para receber. Essa é a diferença mais importante", diz Samuel Pessôa, economista e pesquisador associado ao FGV-IBRE, que diz que as reclamações do presidente da República sobre a condução da política monetária "custam para o país" e a torna menos eficaz.

Selic a 15% a.a. É quase unânime entre os economistas ouvidos que a Selic chegará a 15% ao ano até maio, quando acontece a terceira reunião de 2025. Depois, a previsão é que siga no patamar até o fim do ano, pelo menos.

Não dá para descartar níveis de Selic acima dos 15% a.a., a depender da evolução do cenário ao longo dos próximos meses. Nossas projeções vemos a Selic chegando a 15% em maio, ficando neste patamar até o último trimestre do ano, quando o Copom começaria o ciclo gradual de corte de juros.

Rodolfo Margato, economista da XP.

Menos intervenções no dólar. Com a escalada do dólar a níveis recordes acima dos R$ 6 devido às expectativas sobre o pacote fiscal, o BC vem fazendo leilões de dólares à vista para queimar a reserva e colocar mais liquidez no mercado. Para o estrategista-chefe da Warren Investimentos Sérgio Goldstein, a estratégia "enxuga gelo" e transfere o prêmio de risco para outros ativos, neste caso, para o mercado de juros. "O raio de ação do BC é limitado, não pode continuar intervindo nesta mesma magnitude nos próximos meses, senão vai acabar com as nossas reservas cambiais, que são o seguro para o país", diz.

Desafios para alcançar a meta da inflação. Para 2025, a meta central da inflação é de 3%, com tolerância de 1,5 p.p. para mais ou para menos (entre 1,5% e 4,5%), é considerada formalmente cumprida. Porém, no Boletim Focus de 23 de dezembro, a expectativa do mercado é que a inflação chegue a 4,89% no próximo ano, acima do teto estabelecido. O desafio do BC será em ajustar a taxa de juros de modo que a meta seja cumprida. "Há uma probabilidade muito grande de descumprirmos com a meta de inflação pelo quarto ano consecutivo em 2025", diz Galhardo, da Análise Econômica.

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