Recém-empossado, Galípolo precisará explicar furo da meta de inflação
Alexandre Novais Garcia
Do UOL, em São Paulo (SP)
10/01/2025 09h04
Há menos de um mês no cargo, o presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galipolo, terá a missão de encaminhar uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para explicar o estouro da meta de inflação no ano passado.
O que aconteceu
Inflação superou o teto da meta em 2024. Dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 4,83% no acumulado entre janeiro e dezembro do ano passado.
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Variação supera o limite em 0,33 ponto percentual. A meta definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) para o ano passado era de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, com a possibilidade de oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Galipolo deve apresentar carta aberta a Haddad. Na função de presidente do BC há menos de um mês, ele precisará cumprir a obrigação de explicar as motivações que ocasionaram a ultrapassagem do limite estabelecido para o IPCA. A última vez em que isso aconteceu foi no início de 2023 devido ao furo da meta em 2022.
Não acredito que seja uma novidade para o Galípolo, que já está perfeitamente integrado à rotina da autoridade monetária.
Monica Araújo, estrategista da InvestSmart XP
Documento deve mencionar problemas internos e externos. Os pontos principais citados pelos economistas envolvem as mudanças no ambiente dos Estados Unidos e o cenário fiscal do Brasil. "O texto tende a ressaltar as incertezas do cenário internacional e a necessidade de uma política fiscal coordenada com a política monetária", diz Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Carta deve ter tom semelhante a de outros comunicados do BC. Para André Valério, economista sênior do Inter, a justificativa deve reiterar as informações apresentadas nas últimas atas do Copom (Comitê de Política Monetária) e no RTI (Relatório Trimestral de Inflação).
Nós estimamos que ele [Galipolo] vai ter uma posição parecida com a dos comunicados, com a maior incerteza após a eleição de [Donald] Trump, que traz propostas vistas como inflacionárias, e falando muito sobre a questão fiscal. A gente tem também o componente da demanda e o hiato do produto positivo. O BC vai certamente ressaltar isso.
André Valério, economista sênior do Inter
Nova justificativa deve ser apresentada no meio deste ano. Com a mudança das regras para o cálculo da meta de inflação, o BC deverá escrever uma explicação sempre que o IPCA acumulado em 12 meses superar o limite de tolerância por seis meses consecutivos. "Dado esse novo regime, a gente já estima que o BC tenha que se explicar novamente no meio do ano", afirma Valério.
Mudança do sistema de metas é elogiada pelos economistas. Araújo avalia que a nova metodologia permite um olhar mais próximo sobre a trajetória de inflação. "Não se espera o fechamento de um ano para fazer o acompanhamento", observa. Para Leal, a flexibilidade permite que o BC "não precise reagir tempestivamente a pioras de curto prazo nos índices de preços por estar amarrado ao ano calendário".
Pressão sobre o BC aumenta com implementação da nova regra. A obrigação de estipular um prazo para trazer a inflação de volta ao intervalo da meta abre espaço para determinar a credibilidade da autoridade monetária. "O BC vai ter que se comprometer. Se o prazo estipulado for muito dilatado, o mercado vai reagir mal. Se for curto demais, ele vai ter que ser mais dedicado", afirma Valério.