Como a DeepSeek, IA chinesa, está sacudindo o mercado financeiro
Um dia depois do tombo nas ações provocado pela empresa chinesa de Inteligência Artificial (IA) DeepSeek, as Bolsas americanas estão no positivo.
O que está acontecendo?
A Bolsa de Nova York e a Bolsa de tecnologia Nasdaq abriram em alta nesta terça-feira (28), com as ações ligadas à tecnologia da IA recuperando parte das perdas. O índice Dow Jones subia 0,1% na abertura, enquanto o Nasdaq Composite avançava 0,39%.
Na segunda (27), o índice Nasdaq teve queda de 3,07%. A Nvidia, fabricante de microchips usados por empresas que estão investindo em IA, afundou 17% e perdeu cerca de US$ 593 bilhões em valor de mercado, a maior perda diária para uma empresa em Wall Street, de acordo com dados da LSEG. Hoje, no início do pregão, o papel subia 1,28%. As ações da Microsoft caíram na segunda 2,1% e as da Alphabet, controladora do Google, recuaram 4,2%. No atual pregão, elas subiam 0,91% e 0,86% respectivamente. A fabricante de servidores de IA Dell Technologies perdeu 8,7% na segunda e continuava em queda de 1,60% na terça (28).
Vai demorar um pouco para o mercado se recuperar totalmente das perdas de ontem. É o que diz Fernando Siqueira, diretor de pesquisa da consultoria de investimentos Eleven Financial. Os papéis das empresas de IA têm um preço muito elevado e o surgimento da DeepSeek fez muitos deixarem essas ações em busca de ativos mais baratos, como os da Bolsa brasileira. "Vai levar ainda alguns meses para os investidores tenham convecção de investir nesse setor novamente como antes", diz ele.
A DeepSeek — uma até então desconhecida empresa chinesa — revelou seu novo modelo de Inteligência Artificial em dezembro de 2024. Mas só chamou a atenção do mercado depois da publicação de um artigo científico na semana passada detalhando como a tecnologia foi constituída. Em seguida, a chinesa — fundada pela High Flyer, companhia de negociação de ativos financeiros — se tornou um dos aplicativos mais vendidos da loja da Apple no fim de semana.
Aos olhos dos investidores, o modelo chinês de IA é uma grande ameaça a gigantes como Nvidia, Google e Open AI. Ela alega ter gasto US$ 5,5 milhões para treinar um de seus modelos de IA, conforme o jornal The New York Times. É um valor baixo comparado com o gasto por empresas como a Meta e a OpenAI, que já desembolsaram US$ 100 milhões ou mais e seguem fazendo investimentos astronômicos. A OpenAI prevê gastar até US$ 500 bilhões por meio de uma joint-venture com a Oracle e o SoftBank que foi anunciada na semana passada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Muitos no mercado duvidam que a DeepSeek tenha gastado só o valor divulgado. A empresa diz ter conseguido reduzir os investimentos necessários ao utilizar chips mais simples, combinado com melhores métodos de treinamento. Mas, mesmo que o valor tenha sido dez vezes maior e não incluísse gastos como salários de engenheiros ou custos de pesquisa básica, ainda assim é uma grande diferença.
Por que a questão do gasto com a IA importa?
Até agora, no mundo da IA, a filosofia que reinava era a do "quanto mais gasto, melhor". Os investidores vêm apostando pesadamente em ações de empresas de tecnologia que têm usado a IA nos seus negócios na expectativa de que esses gastos tragam muitos dividendos no futuro. As favoritas são Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet (dona do Google), Meta (ex- Facebook), Nvidia e Tesla — as sete magníficas, como o mercado apelidou.
As ações da Nvidia, por exemplo, dispararam nos últimos anos. Os papeis tiveram uma alta de 94% nos últimos 24 meses, segundo a consultoria Economatica (até 27 de janeiro).
Futuro
Com o surgimento da DeepSeek, muda tudo e a IA pode ser "democratizada". Ficou claro para os investidores que modelos pequenos podem igualar ou exceder o desempenho de outros muito maiores. Ou seja, empresas de IA podem ser capazes de atingir capacidades muito poderosas com muito menos investimento. "Isso veio para ficar e é super relevante", diz William Castro Alves, economista e sócio da corretora digital Avenue.
Especialistas dizem que, em breve, poderemos ter uma onda de novas empresas pequenas de IA, como foi a explosão das startups na década passada. Isso representaria muito mais competição para as gigantes do Vale do Silício, que, por conta dos enormes custos de treinamento de seus modelos, têm competido apenas entre si até agora. "É bem possível que isso tudo não seja pontual e sim uma tendência", diz Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co fundador da Escola de Investimentos.
Outra mudança significativa que deve contribuir para um crescimento acelerado de pequenas empresas de IA a partir de agora é que a DeepSeek abriu seu modelo e o colocou disponível na internet. Os métodos para melhorar os sistemas de IA eram até agora guardados a sete chaves pelas big techs. Os investidores agora estão questionando por que alguém pagaria caro pelos modelos das grandes empresas americanas se uma empresa chinesa é capaz de construir modelos baratos e de código aberto, com desempenho correspondente.
*Com agências internacionais de notícias
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