Fúria contra a Vale cresce em Barão de Cocais com risco de novo desastre em barragem
Por Leonardo Benassatto
BARÃO DE COCAIS (Reuters) - Já havia sido ruim o bastante para Paulo de Morais quando, no início de fevereiro, ele foi retirado da casa em que morou por 22 anos por conta do risco de colapso em uma barragem de rejeitos da Vale.
Morais e cerca de 450 de seus vizinhos saíram da área em que viviam, sob ordens da Agência Nacional de Mineração (ANM), que temia a repetição da catástrofe de Brumadinho (MG), ocorrida a apenas 65 km dali.
Uma barragem se rompeu no início de janeiro, liberando uma onda de lama tóxica que soterrou mais de 240 funcionários da Vale e vizinhos.
"De um dia para o outro, tudo mudou", disse Morais, que vivia com sua mulher e dois filhos em uma casa vermelha, que ele próprio construiu, logo atrás de uma igreja de 300 anos, na agora abandonada comunidade de Socorro.
"Do nada, em cinco minutos, fomos retirados pela Vale. Retirados, expulsos das nossas casas", afirmou ele, enquanto se apoiava em um barranco na fazenda de café para a qual se mudou após deixar o lugar.
Agora, Morais teme que também perderá essa casa.
Um possível rompimento nos próximos dias do talude da mina Gongo Soco, também da Vale, aumentou o risco de desestabilização da barragem do local, o que poderia levar à liberação de uma nova corrente de lama em caso de rompimento, devastando a cidade colonial de Barão de Cocais (MG).
A cidade, que inclui o distrito abandonado de Socorro, está localizada junto à Estrada Real, antes utilizada para o transporte, em direção ao litoral, do ouro extraído em Minas Gerais, Estado hoje mais conhecido pela produção de minério de ferro.
A cidade principal está a 15 km de Socorro, mas um estudo realizado nesta semana pela Vale apontou que tanto ela quanto outros dois municípios também estariam no caminho do fluxo de lama caso o rompimento da barragem ocorra, forçando a evacuação de cerca de 10 mil pessoas, segundo reportagens veiculadas pela imprensa.
Os moradores da região se encontram em seus limites, com a economia local paralisada e poucos dispostos a apostar no futuro.
"As pessoas não querem contratar ninguém sem saber o que vai acontecer de um dia para o outro", disse Eric Pastor, representante comercial local. "Eles não sabem se terão suas casas amanhã, então seus sonhos estão em espera."
O secretário do Meio Ambiente de Minas Gerais estimou nesta semana que há uma chance de 10% a 15% de a barragem colapsar.
A Vale diz estar comprometida com a segurança dos residentes, acrescentando que segue monitorando a barragem Sul Superior e o talude da cava minerária.
A mineradora declarou que não está claro se um deslizamento do talude acarretaria em um colapso da barragem, mas afirmou no último sábado que está construindo uma estrutura de concreto seis km a jusante, para conter o resultado de um possível rompimento.
A Vale também está construindo um canal para redirecionar parte do potencial fluxo de lama, que Morais teme que vá avançar sobre sua fazenda de 18 hectares, na qual pastam cavalos, gado e ovelhas.
"Se a Vale vier aqui e me disser que eu também preciso deixar essa terra, não sei se consigo aguentar", disse ele.
(Reportagem de Leonardo Benassatto, com reportagem adicional de Christian Plumb)
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