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Risco de recessão técnica aumenta com piora de projeções mesmo com aprovação da Previdência

Por José de Castro

30/05/2019 17h16

SÃO PAULO (Reuters) - A débil performance da economia brasileira no primeiro trimestre aumentou o risco de recessão técnica, com alguns analistas já prevendo crescimento perto de zero entre abril e junho, enquanto se multiplicam estimativas de uma expansão econômica abaixo de 1% em 2019, a despeito do cenário-base de reforma da Previdência aprovada neste ano.

A leitura é que, ainda que a economia melhore nos próximos trimestres, o ganho de ritmo pode não ser suficiente para impedir a concretização de outro ano de pífio crescimento, cujo desempenho pode ser ainda pior que o dos últimos dois anos.

Já nesta quinta-feira, o Citi reduziu novamente sua expectativa para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. O banco agora prevê taxa de 0,9%, ante 1,4% do cenário anterior.

Também nesta quinta, a economista da TRUXT Investimentos Claudia Couri rebaixou para 0,7% sua expectativa de crescimento do PIB para este ano, de 0,9% antes. Para o segundo trimestre, ela espera avanço de 0,2%, abaixo dos 0,4% estimados inicialmente.

O Itaú Unibanco, que ainda espera crescimento de 1% do PIB em 2019, admite que sua projeção tem viés de baixa. O banco inclusive prevê expansão de apenas 0,1% da economia no segundo trimestre frente ao primeiro, conforme estimativa preliminar.

Duas semanas atrás, o BNP Paribas já havia cortado a alta esperada para o PIB neste ano de 2% para 0,8%.

E há quem veja um desempenho ainda pior. Na Focus, a projeção mínima para a expansão da economia está atualmente em 0,52%. Duas semanas atrás, era de 0,73%. No início de maio, de 1,00%.

O PIB cresceu 1,1% em 2017 e em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tomás Goulart, sócio e economista-chefe na Novus Capital, estima aumento do PIB de 0,8% em 2019 e de apenas 0,2% no segundo trimestre ante o primeiro.

"Embora não seja nosso cenário básico, o risco de recessão técnica aumentou substancialmente desde o começo do ano", afirmou Goulart. "O fato é que os índices de confiança devolveram a melhora do fim do ano passado, e isso é um sinal muito ruim para os próximos trimestres."

Segundo a definição clássica, a recessão técnica ocorre quando o PIB contrai por dois trimestres consecutivos em relação aos três meses imediatamente anteriores. A economia brasileira recuou 0,2% no primeiro trimestre de 2019 sobre o quarto trimestre de 2018, de acordo com o IBGE, na primeira retração desde 2016.

A dissociação entre o desempenho esperado para a economia e a expectativa de aprovação da reforma da Previdência fortalece a tese de que a atividade pode seguir em risco mesmo com a passagem da matéria.

"Talvez o mais importante para a economia seja a agenda que virá após a Previdência, como uma reforma tributária", disse o economista da Novus Capital.

Ainda no campo estrutural, o UBS chama atenção para a queda do PIB potencial --crescimento máximo possível sem gerar pressões inflacionárias--, devido ao recuo na produtividade de longo prazo, o que também estaria limitando o crescimento do PIB e enfraquecendo o efeito positivo da expectativa de aprovação da agenda de reformas.

"Levando isso em conta, esperamos agora crescimento de 1% para a economia em 2019", disseram os economistas Fabio Ramos e Tony Volpon em nota a clientes.

Anna Reis, economista-chefe da GAP Asset Management, prevê aumento de 0,2% do PIB no segundo trimestre, mas ressalva que ainda há poucos dados disponíveis para este trimestre, o que mantém sob risco a expectativa de crescimento "modesto" entre abril e junho.

Para o ano, a estimativa é de aumento de 0,8%. "Há um efeito aprendizado do mercado. Havia grande expectativa no fim do ano passado, e conforme ela não foi se materializando as expectativas pioraram", explicou.

Segundo a economista, mesmo aprovada a reforma da Previdência, o mais provável é que uma melhora consistente de confiança só ocorra no ano que vem. "Há uma defasagem. E olhando os grandes componentes do PIB para este ano, de fato nenhum deve gerar grandes surpresas positivas", afirmou.

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