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Petrobras tem lucro recorde de R$40 bi em 2019 apesar de baixas bilionárias

19/02/2020 20h37

Por Marta Nogueira e Roberto Samora

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A Petrobras teve lucro líquido recorde de 40,14 bilhões de reais em 2019, alta de 55,7% ante 2018, principalmente devido ao amplo programa de venda de ativos, apesar de a companhia ter realizado baixas contábeis bilionárias no período.

Em relatório de resultado nesta quarta-feira, a companhia citou desinvestimentos de 16,3 bilhões de dólares em 2019, com transações envolvendo a Transportadora Associada de Gás (TAG), BR Distribuidora, entre outros ativos de exploração e produção.

O resultado poderia ter sido ainda mais forte não fossem as baixas contábeis de 11,63 bilhões de reais em 2019, uma alta de 51% em relação ao ano anterior, segundo a companhia. Do total, mais de 9 bilhões em impairment ocorreram no quarto trimestre.

A companhia ainda citou maiores despesas financeiras com gerenciamento da dívida no mercado de capitais e menores preços do petróleo Brent.

Em carta aos acionistas, o presidente da Petrobras relatou "satisfação" ao apresentar o resultado e frisou que o lucro recorde no ano passado ocorreu mesmo diante de uma queda dos preços médios do petróleo de 71 dólares por barril em 2018 para 64 dólares em 2019.

"Pagamos aos governos em royalties, impostos e bônus de assinatura o valor total de 246 bilhões de reais, também recorde histórico, e que consolida a posição da companhia como maior contribuinte do Brasil", disse Roberto Castello Branco.

A produção da empresa superou a marca de 3 milhões de barris de óleo equivalente por dia, depois de anos de estagnação, declarou.

Castello Branco pontuou que o custo médio de extração na base caixa atingiu 6,5 dólares por barril no quarto trimestre de 2019, uma queda de 3 dólares em relação ao início de 2018.

"As operações no pré-sal, com custo da ordem de 3 dólares por barril, deram contribuição relevante para a queda do custo médio total", disse o executivo.

Aliás, a estratégia atual da companhia visa a venda de ativos considerados não essenciais, em busca de reduzir dívidas e focar esforços em ativos de exploração e produção de grande retorno, principalmente no pré-sal.

Já lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) ajustado somou 129,2 bilhões de reais no ano passado, 12,54% maior que o registrado em 2018, também um recorde histórico.

No quarto trimestre, o lucro líquido atingiu 8,15 bilhões de reais, ante 2,1 bilhões de reais no mesmo período de 2018. Analistas do BTG Pactual esperavam um lucro de 9,09 bilhões de reais.

O Ebitda ajustado somou 36,53 bilhões de reais entre outubro e dezembro, alta de cerca de 25% ante o mesmo período de 2018.

ENDIVIDAMENTO

Em 2019, o índice dívida líquida/LTM Ebitda ajustado subiu para 2,46 vezes versus 2,34 vezes em 2018, devido aos efeitos do IFRS 16 em 2019. Uma vez expurgados tais efeitos, o índice teria sido 1,99 vez em 2019, disse a Petrobras.

A entrada de recursos de desinvestimento, segundo a companhia, levou a uma queda de 25% na dívida bruta em 31 de dezembro, atingindo 63 bilhões de dólares, excluindo os efeitos do IFRS 16. Com os efeitos da norma contábil, houve uma adição de 23,9 bilhões de dólares à dívida.

Já a dívida líquida aumentou 4,6% ante o final do terceiro trimestre, para 78,8 bilhões de dólares, devido ao uso de recursos para pagamento de bônus referente ao leilão do excedente da cessão onerosa no mês de dezembro de 2019.

"Avanços foram realizados, mas estamos ainda muito aquém do desejado. A Petrobras continua a ser uma das companhias de petróleo mais endividadas do mundo, com dívida bruta de 87,1 bilhões de dólares, alavancagem acima do recomendável para uma empresa de petróleo e custos elevados", disse Castello Branco.

Em 2019, os investimentos totalizaram 27,4 bilhões de dólares, sendo 10,7 bilhões de dólares sem bônus exploratórios, em linha com a meta de 10 bilhões a 11 bilhões de dólares, divulgada no segundo trimestre.

Diante do resultado, o conselho de administração da petroleira aprovou a distribuição de remuneração aos acionistas sob a forma de dividendos no valor de 1,7 bilhão de reais para as ações ordinárias e 2,5 milhões de reais para as ações preferenciais em circulação.

No ano, a remuneração aos acionistas sob a forma de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) foi no valor de 10,6 bilhões de reais, equivalente a 0,73 real por ação ordinária e 0,92 real por ação preferencial em circulação.

BAIXAS CONTÁBEIS

As baixas contábeis entre outubro e dezembro somaram 9,14 bilhões de reais, alta de 45% ante o mesmo período do ano anterior, devido principalmente a uma revisão de expectativa na curva do petróleo Brent, que trouxe uma despesa de 6,59 bilhões de reais para a companhia.

Dentre os outros motivos para as baixas contábeis estão o adiamento de investimentos para uma segunda unidade de refino da refinaria Abreu e Lima (Rnest) e o cancelamento da unidade de fertilizantes UFN III, colocada à venda neste mês.

(Com reportagem adicional de Gram Slattery)