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Boeing desiste de compra de controle de divisão de aviação comercial da Embraer

25/04/2020 12h55

Por Marcelo Rochabrun e Tim Hepher e Tatiana Bautzer

SÃO PAULO/PARIS (Reuters) - A Boeing cancelou o acordo de compra do controle da divisão de jatos comerciais da Embraer por 4,2 bilhões de dólares, o que deverá acionar uma batalha legal entre as empresas.

"Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas", disse Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a Embraer, em comunicado à imprensa. "O objetivo de todos nós era resolver as pendências até a data de rescisão inicial, o que não aconteceu”, acrescentou.

A Embraer não comentou o assunto.

O fracasso nas discussões interrompe esforços da Boeing para ampliar sua atuação no mercado de aviação regional depois que a rival Airbus comprou as operações da rival da Embraer, Bombardier, no segmento.

Em julho de 2018, a Boeing acertou um acordo inicial para comprar 80% da área de aviação comercial da Embraer para fazer frente à Airbus no mercado de aviões para até 150 passageiros e acessar uma nova base de engenharia e manufatura de baixo custo.

A perspectiva de rompimento dos grupos foi reportada pela Reuters na sexta-feira, último dia para que as empresas chegassem a um acordo definitivo. [nL2N2CC1C6]

No sábado, pouco antes da Boeing confirmar o cancelamento do acordo, fontes afirmaram à Reuters que a companhia norte-americana havia comunicado à Embraer sua recusa em ampliar o prazo de negociações.

Fontes próximas do assunto afirmaram que a Boeing levantou objeções sobre financiamento e questões legais da transação, o que a Embraer considerou como uma tentativa deliberada da companhia norte-americana para forçar o fim do negócio.

"A Boeing foi duramente atingida pela crise do coronavírus e encontrou mecanismos para quebrar o contrato", disse uma fonte no Brasil com conhecimento direto das discussões.

Outras fontes afirmaram que a disputa girou em torno do valor que a Embraer tinha investido na unidade de aviação comercial na expectativa de um acerto final com a Boeing, bem como o progresso de cumprimento de condições técnicas e jurídicas.

Uma fonte nos Estados Unidos negou que a Boeing deliberadamente cancelou o acordo e afirmou que a Embraer sabia há mais de um ano sobre o prazo e das várias condições para implementação do negócio.

E enquanto a transação recebeu aprovação de autoridades de defesa da concorrência de vários países, inclusive do Brasil, a União Europeia definiu prazo até o final de agosto para se manifestar sobre a transação.

A diretoria da Embraer defendeu o acordo intensamente, afirmando que ele era fundamental para garantir o futuro da companhia, principalmente após a aquisição das operações de aviação regional da Bombardier pela Airbus.

"A Boeing exerceu seu direito de rescindir após a Embraer não ter atendido as condições necessárias", afirmou a companhia norte-americana no comunicado. "É uma decepção profunda. Entretanto, chegamos a um ponto em que continuar negociando dentro do escopo do acordo não irá solucionar as questões pendentes", acrescentou Allen.

A Embraer incorreu com uma série de custos para separar os negócios de aviação comercial para que a Boeing pudesse exercer o controle sobre ela. No início deste ano, a companhia brasileira pagou as despesas para todos os funcionários tirarem férias coletivas de duas semanas para preparar a empresa para a conclusão do negócio.

O sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos (SP), principal base produtiva da Embraer, citou dados do balanço da companhia brasileira de 2019 para afirmar em comunicado neste sábado que o processo de venda custou à empresa 485 milhões de reais. "Exigimos que este prejuízo seja ressarcido pela Boeing."

"Defendemos que o governo brasileiro cumpra o seu papel em favor da nossa soberania e reestatize a Embraer para que, diante dos efeitos colaterais a serem provocados pela ruptura do acordo, agravados pelas consequências econômicas causadas pela pandemia do coronavírus, os empregos e direitos dos trabalhadores sejam preservados integralmente", defendeu a entidade.

((Edição Redação São Paulo, 55 11 56447753)) REUTERS AAJ