Equipe econômica quer tomar US$4,01 bi de organismos internacionais para despesas com crise
Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A equipe econômica quer tomar 4,01 bilhões de dólares emprestados de organismos internacionais para o financiamento de despesas relacionadas à crise com o coronavírus, incluindo ampliação do Bolsa Família e pagamento do auxílio emergencial, do seguro-desemprego e do benefício direcionado aos que têm os contratos de trabalho suspensos ou jornadas reduzidas.
Pelo câmbio desta segunda-feira, os recursos correspondem a aproximadamente 21,9 bilhões de reais.
O pleito foi aprovado nesta segunda-feira pela Cofiex (Comissão de Financiamentos Externos), segundo duas fontes com conhecimento direto do assunto. A comissão é composta por membros de diversas secretarias do Ministério da Economia, além do secretário de Política Externa Comercial e Econômica do Ministério das Relações Exteriores.
Dos 4,01 bilhões de dólares, o governo irá pleitear 1 bilhão de dólares do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e a mesma quantia tanto do Banco Mundial quanto do New Development Bank (NDB), o banco do Brics.
Fechando o pacote total também estão pedidos de empréstimos de 420 milhões de dólares do banco de desenvolvimento alemão KfW, 350 milhões de dólares da Corporação Andina de Fomento (CAF) e 240 milhões de dólares da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD).
O governo pretende direcionar 1,72 bilhão de dólares para o programa de renda básica emergencial, 960 milhões de dólares para expansão do Bolsa Família, 550 milhões de dólares para o programa de manutenção do emprego e renda e mais 780 milhões de dólares para aumento da concessão de seguro-desemprego em meio à expectativa de elevação do número de demissões com a crise.
Os números constam em documento visto pela Reuters.
A alternativa de financiamento junto a esses organismos em detrimento da emissão de dívida para cobertura dessas despesas vem num momento em que membros do time de Paulo Guedes têm destacado que a percepção de risco ligada ao Brasil tem influenciado a estratégia de colocação de títulos mais longos no mercado.
Uma das fontes ouvidas pela Reuters, que integra a equipe econômica, destacou que o Tesouro pediu a aprovação para os pedidos de financiamento por entender que trata-se de crédito longo e barato.
A segunda fonte pontuou que o Brasil é credor líquido externo pelo grande volume de reservas internacionais que possui, razão pela qual está em boa posição para tomar esses empréstimos.
Agora, a liberação dos recursos vai variar "caso a caso", conforme avançam as conversas do governo para fechar acordos com as instituições multilaterais, acrescentou a mesma fonte.
Em geral, a Cofiex se reúne de três a quatro vezes ao ano, mas por conta da pandemia há agora a perspectiva de realização de mais encontros para análise de pedidos de financiamento externo, incluindo de Estados e municípios.
Na semana passada, o Tesouro apontou que o país não tem dificuldade para se financiar com a venda de títulos públicos no mercado doméstico, mas sublinhou que a expansão fiscal só consegue ser bancada com aumento da dívida de curto prazo. Para papéis com vencimento a partir de três anos, a visão é que o prêmio envolvido é muito alto.
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