Conmebol anuncia Brasil como sede da Copa América; governo diz que ainda está em tratativas
Por Daniela Desantis e Rodrigo Viga Gaier
ASSUNÇÃO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Conmebol anunciou nesta segunda-feira que a Copa América deste ano será realizada no Brasil, após a competição ter sido retirada da Argentina, mas o governo brasileiro disse que ainda há um processo de negociação e que uma definição deve ocorrer na terça-feira.
"A Copa América de 2021 será disputada no Brasil. As datas de início e finalização do torneio estão confirmadas. As sedes e a tabela serão informadas pela Conmebol nas próximas horas", disse a Confederação Sul-Americana de Futebol em sua conta no Twitter.
Apesar de o Brasil enfrentar um dos piores surtos de coronavírus do mundo, a Conmebol agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, assim como à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por "abrir as portas do país ao que hoje em dia é o evento esportivo mais seguro do mundo".
De acordo com a entidade sul-americana, o presidente da CBF, Rogério Caboclo, foi consultado sobre o Brasil ser sede da competição e entrou em contato com Bolsonaro, que "apoiou a iniciativa de imediato".
No entanto, no começo da noite, o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que a possibilidade de o Brasil sediar a Copa América ainda está em processo de negociação, que deve ter uma definição na terça-feira, mas ressaltou que o país vai acolher o torneio de futebol se houver condições para isso.
"Ainda não tem nada certo, quero pontuar de uma forma bem clara, estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda caso seja possível de atender", disse ele, explicando que a demanda ocorreu via CBF. Ramos destacou que o evento é privado e ponderou que os jogos seriam realizados sem a presença de público.
Pouco depois, a Casa Civil divulgou uma nota em que afirmou que "até o momento, não foi enviado pela CBF ao governo federal pedido oficial de realização do evento no Brasil".
Na nota, a Casa Civil informou que em reunião com representantes de vários ministérios, como o da Saúde e da Infraestrutura, o presidente da CBF forneceu detalhes sobre a "proposta de realização" do torneio.
Segundo informou uma fonte com conhecimento dos planos para a competição, as partidas seriam disputadas nas cidades de Brasília, Natal, Manaus e Cuiabá, quatro cidades que têm estádios que foram construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2014, com possibilidade da final ser disputada no Maracanâ, no Rio de Janeiro.
Mas a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), disse no Twitter que o Estado não recebeu nenhum comunicado oficial sobre a realização do campeonato no território e ressaltou que, apesar de ter estrutura física para realizá-lo, não há atualmente "níveis de segurança epidemiológica para realização do evento".
O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), também afirmou no Twitter não ter recebido comunicação oficial da CBF. "Caso seja confirmada a intenção, garanto que nenhuma decisão será tomada sem avaliarmos as condições epidemiológicas e sanitárias", disse.
REAÇÃO DA CPI
Dois dos principais representantes da CPI da Covid no Senado criticaram a eventual realização da Copa América no Brasil, que nesta segunda-feira atingiu as marcas de 462.791 óbitos e 16.545.554 casos de Covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde. O Brasil tem o segundo maior número de óbitos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
"Com mais de 462 mil mortes, sediar a Copa América é um campeonato da morte. Sindicato de negacionistas: governo, Conmebol e CBF. As ofertas de vacinas mofaram em gavetas mas o ok para o torneio foi ágil. Escárnio", disse o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), no Twitter.
Já o vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou um requerimento de convocação do atual presidente da CBF para explicar a decisão de aceitar a Copa América no Brasil.
A competição de seleções mais importante do continente seria disputada pela primeira vez em sua história em dois países, Argentina e Colômbia, mas se viu diante uma série de inconvenientes, que colocaram em dúvida sua realização.
A Argentina enfrenta uma segunda onda feroz de infecções e mortes por coronavírus, enquanto a Colômbia --que foi retirada da condição de sede dias atrás-- vive protestos intensos desde o mês passado, sem expectativas de fim, em um impasse para o governo. O governo argentino havia dito no domingo que seria difícil se manter como sede da competição.
Segundo a Conmebol, as datas de disputa do torneio seguem conforme programado, entre 13 de junho e 10 de julho.
"O Brasil vive um momento de estabilidade, tem infraestrutura comprovada e experiência acumulada e recente para organizar uma competição desta magnitude", disse o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, em nota.
Nos últimos anos, o Brasil organizou a Copa América em 2019, da qual se sagrou campeão, e a Copa do Mundo de 2014.
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; Gabriel Araujo, em São Paulo; Maria Carolina Marcello, Ricardo Brito e Lisandra Paraguassu, em Brasília)
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