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"Não temos água": Itaipu enfrenta crise energética com seca no rio Paraná

Foto de arquivo da Usina Hidrelétrica de Itaipu, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai;  barragem da usina registrou sua menor produção desde que a hidrelétrica começou a operar a plena capacidade em 2005 -  International Hydropower Association
Foto de arquivo da Usina Hidrelétrica de Itaipu, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai; barragem da usina registrou sua menor produção desde que a hidrelétrica começou a operar a plena capacidade em 2005 Imagem: International Hydropower Association

Daniela Desantis

Da Reuters, em Hernandarias (Paraguai)

20/10/2021 18h35Atualizada em 21/10/2021 07h01

Técnicos da usina hidrelétrica de Itaipu estão se esforçando para cumprir a demanda de energia, cuja produção despencou devido a uma seca histórica do rio Paraná que pode durar até o próximo ano.

A barragem da usina, que fornece cerca de 10% da energia consumida no Brasil e 86% da usada no Paraguai, registrou sua menor produção desde que a hidrelétrica começou a operar a plena capacidade em 2005.

Rio abaixo, a usina argentino-paraguaia Yacyretá produziu metade do nível normal de energia em setembro, em outro exemplo de como as secas severas estão complicando a mudança dos combustíveis fósseis ao secar rios e reservatórios.

"Temos energia disponível, o que não temos é água para sustentar essa energia por muito tempo", disse o superintendente de Operações de Itaipu, Hugo Zarate, à Reuters, acrescentando que a usina estava "atendendo à demanda, mas por curtos períodos".

Zarate estimou que a produção de Itaipu ficará entre 65 mil e 67 mil gigawatts hora (GWh) neste ano.

"Isso é cerca de 35% do valor máximo de 2016 e 15% menos que em 2020", afirmou ele em seu escritório na usina, localizada entre as cidades de Hernandarias, no Paraguai, e Foz do Iguaçu, no Brasil.

Os baixos níveis de reservatórios afetam a produção de energia e impactam os royalties que os países recebem pelo uso da água.

A seca, uma das piores do último século, levou o governo brasileiro a pedir à população que reduza o consumo de eletricidade e água e levantou temores de um possível racionamento de energia.

"Crise energética"

Itaipu tem afluência média normal de cerca de 11.000 metros cúbicos por segundo (m3/s), enquanto a usina de Yacyretá é de 14.500 m3/s, segundo seus técnicos. Ambas dependem do fluxo do rio e têm capacidade limitada de armazenamento.

A produção é fortemente impactada pelos fluxos rio acima na bacia do Paraná, regulados por cerca de 50 barragens no Brasil, que viram os reservatórios de água diminuírem desde 2019 em meio à queda nos níveis de chuvas.

A vazão média em Itaipu até agora neste ano é de 6.800 m³ por segundo, nível semelhante ao da década de 1970, segundo Zarate. Os fluxos mensais médios para Yacyretá estão entre 6.000-9.500 m³/s, disse Lucas Chamorro, seu chefe de hidrologia.

"Os volumes úteis dos reservatórios estão atingindo mínimos históricos... enquanto os fenômenos extremos do El Niño ou La Niña estão se tornando mais agudos", afirmou Chamorro, referindo-se aos padrões climáticos cíclicos que podem trazer chuvas fortes e secas para América do Sul e outros lugares.

Mas o alívio não parece estar próximo. Apesar de uma melhora recente, parece provável que haja chuvas abaixo do normal para o sul do Brasil pelo resto do ano, disse o analista sênior de pesquisas meteorológicas da Refinitiv Isaac Hankes.

"É necessário muito mais chuva para diminuir as preocupações com a seca", afirmou.

A barragem de Itaipu "depende totalmente da melhoria da vazão da água", disse Zarate. "E se isso não acontecer, essa crise energética vai persistir pelo menos no próximo ano."