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Ministro prevê "luta difícil" para Plano Safra, mas diz que buscará R$ 300 bi

O ministro da Agricultura, Marcos Montes - Reprodução/Youtube/Mapa
O ministro da Agricultura, Marcos Montes Imagem: Reprodução/Youtube/Mapa

Roberto Samora e Ana Mano

Em São Paulo

03/05/2022 09h03

Com pouco mais de um mês no cargo, o ministro da Agricultura do Brasil, Marcos Montes, prevê uma "luta difícil" pela frente para conseguir recursos do Tesouro ao Plano Safra 2022/23 que possam garantir maiores financiamentos e juros abaixo de dois dígitos, enquanto inicia nesta semana uma viagem ao Norte da África e Oriente Médio na chamada "diplomacia dos fertilizantes".

Se no plano externo a ideia é "peregrinar" juntamente com o setor privado para "abrir portas" para maiores importações de fertilizantes, em um ambiente de custos crescentes e oferta escassa, no interno o ministro buscará formas de ampliar os financiamentos no âmbito do plano governamental para a próxima safra, que exigiria R$ 300 bilhões.

Em entrevista à Reuters, ele explicou que este é o montante estimado para fazer frente a demandas da agropecuária.

"Precisamos bater nesses 300 bilhões, vamos tentar...", disse ele, em entrevista por teleconferência na noite de segunda-feira.

No plano anterior, a oferta total de financiamentos prevista foi de R$ 251 bilhões, enquanto as operações com juros mais baixos, subsidiados pelo Tesouro, chegaram a ser suspensas neste ano devido à alta demanda —apenas na semana passada o Congresso deu aval a um crédito adicional para destravar tais empréstimos.

Segundo o ministro, que assumiu o posto em substituição à Tereza Cristina, que deixou o cargo para concorrer ao Senado, considerando que o Tesouro destinou R$ 13 bilhões para a chamada "equalização" de juros em 2021/22, a nova safra, com plantio a partir de setembro, precisaria de equivalentes R$ 20 bilhões.

"Para acompanhar a mesma situação do ano passado, é uma luta difícil, temos o ajuste fiscal, tem que cortar de algum lugar, ninguém quer que corte, mas (a agropecuária) é um setor importantíssimo para o país, e o presidente Jair Bolsonaro tem recomendado que o plano seja robusto", afirmou.

Montes, ex-secretário-executivo da Agricultura, disse que após o "destravamento" do Plano Safra 2021/22, com a aprovação de um crédito extraordinário de R$ 868 milhões na semana passada, o foco se voltou agora para as discussões do futuro programa, cujos valores começam a ser debatidos.

Na segunda-feira, o ministro manteve reuniões com representantes de mais de cem cooperativas, antes de falar com a Reuters, e ainda se encontraria com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, para tratar do apoio do banco de fomento ao Plano Safra.

Ele disse o ministério está "pronto" a discutir o Plano Safra com o mais alto nível do governo, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e com a Frente Parlamentar Agropecuária. Ele afirmou ainda que a Caixa Econômica Federal quer participar mais do financiamento da agricultura.

Um dos desafios é o juro, que varia de acordo com a modalidade de financiamento. No plano anterior, quando a Selic estava em 4,25% na época do anúncio, os pequenos produtores tiveram taxas no mesmo patamar nos programas de custeio e comercialização.

Mas a atual Selic em 11,75%, com viés de alta na reunião do Copom nesta semana, faz com que o ministro persiga uma taxa abaixo de dois dígitos para o Plano Safra.

Ele lembrou ainda que, se o plano for muito ousado em termos de juros mais baixos, acaba perdendo em volume de recursos.

"Os juros, quando joga tudo dentro de uma caixa só, é tudo muito relativo... quanto mais baixo, menos recurso você tem. Se o juro for mais alargado, atende mais gente", disse, lembrando que as taxas de mercado estão se aproximando de 20% ao ano.

"Espero um equilíbrio, gostaria que fosse abaixo dos dois dígitos, essa é a expectativa que nós temos."

Diplomacia dos fertilizantes

Montes iniciará uma turnê por três países esta semana para discutir maneiras de aumentar o fornecimento de fertilizantes para o país da América do Sul. Ele disse que visitará Jordânia, Egito e Marrocos em uma viagem de oito a dez dias que começará na quinta-feira.

"É uma peregrinação que estamos chamando de diplomacia de fertilizantes", disse ele, acrescentando que será acompanhado por representantes do setor privado. "Vamos abrir as portas."

O Brasil começou a se preocupar com uma potencial escassez global de fertilizantes depois que nações ocidentais impuseram sanções a Belarus e à Rússia, enquanto a China restringiu as exportações.

Ele já se engajou em negociações com o Irã para aumentar a cota de importação de ureia dos atuais 1 milhão de toneladas para 3 milhões de toneladas, após sua antecessora ter viajado ao país em fevereiro.

Montes disse que as negociações com o Irã estão em andamento e preferiu não dar um prazo para qualquer anúncio.

O Brasil depende de importações para cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes. A Rússia é seu maior fornecedor da mistura NPK de nitrogênio, fósforo e potássio.

As importações de fertilizantes do Brasil aumentaram no primeiro trimestre e também em abril, com empresas correndo para garantir suprimentos em meio a ameaças de escassez global.

"O fluxo de fertilizantes está dentro da normalidade até hoje, a crise vem e cria oportunidades para trabalhar em outras linhas para não sofrermos tanto", acrescentou, opinando que, embora mais caro, não faltará adubo para a próxima safra.

As importações brasileiras de fertilizantes superaram 2 milhões de toneladas no acumulado de abril até o dia 18, já suplantando o total importado durante todo o mesmo mês de 2021.