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Dólar tomba a R$5,10 após arrefecimento da inflação nos EUA e acenos do governo ao fiscal

12/01/2023 17h52

Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuou pelo terceiro pregão consecutivo nesta quinta-feira, a pouco mais de 5,10 reais, depois da divulgação de dados de inflação norte-americanos mais fracos do que o esperado, enquanto investidores têm melhorado sua percepção sobre o ambiente doméstico em meio a acenos da ala econômica do novo governo à responsabilidade fiscal.

A moeda norte-americana à vista caiu 1,56%, a 5,1003 reais na venda, maior desvalorização percentual diária desde sexta-feira passada (-2,17%) e cotação de fechamento mais baixa desde 4 de novembro (5,0524).

Esse movimento veio amplamente em linha com o tombo de cerca de 1% do índice que compara o dólar a seis rivais fortes, depois que os preços ao consumidor nos Estados Unidos caíram inesperadamente pela primeira vez em mais de dois anos e meio em dezembro.

Economistas consultados pela Reuters previam que o índice de preços ao consumidor permaneceria inalterado no mês passado.

Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, disse à Reuters que os números desta quinta-feira deram sequência a um "sentimento mais positivo" em relação ao aperto monetário do Federal Reserve que havia sido iniciado na semana passada, com a divulgação de um relatório de empregos relativamente alinhado às expectativas do mercado.

Uma redução das pressões de preços e uma piora controlada na saúde do mercado de trabalho nos EUA pode abrir espaço para abrandamento no ciclo de aperto monetário do banco central norte-americano, que já subiu sua taxa de juros em 4,25 pontos percentuais no ano passado. Isso, por sua vez, colocaria pressão para baixo sobre o dólar, que tende a se beneficiar de custos de empréstimos mais altos.

"Já está praticamente dado que o Fed vai entregar uma alta menor, e isso trouxe um sentimento de apetite por risco muito forte para o mercado", disse Izac.

Operadores de futuros vinculados à taxa de juros do Federal Reserve aumentaram as apostas nesta quinta-feira de que o banco central norte-americano desacelerará ainda mais seu ritmo de aperto na próxima reunião. O mercado reflete agora probabilidade de 90% de que o Fed elevará os juros em 0,25 ponto percentual em sua próxima reunião, que se encerra em 1° de fevereiro, contra apenas 10% de chance de um segundo aumento consecutivo de 0,50 ponto. 

Segundo Izac, a queda do dólar nesta sessão também reflete os esforços da ala econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para ganhar a confiança dos mercados e passar a imagem de uma gestão fiscalmente responsável.

Na véspera, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, prometeu controlar os gastos do governo e indicou um antigo secretário do ex-ministro Paulo Guedes no Ministério da Economia para ser seu número 2 na pasta.

Já nesta quinta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou o primeiro conjunto de medidas econômicas do novo governo, com um plano de ajuste de até 242,7 bilhões de reais nas contas de 2023, o que faria o resultado primário reverter o déficit previsto atualmente e fechar o ano no azul. Agora, investidores devem digerir os planos e estudar sua viabilidade na prática.

O dólar acumula baixa de 3,4% frente ao real até agora em janeiro, depois de a moeda brasileira também ter sido beneficiada pela forte reação de autoridades brasileiras a ataques bolsonaristas às sedes dos Três Poderes em Brasília no último domingo.

Alguns participantes do mercado também apontam outros fatores como suportes para o real, entre eles o grande diferencial de juros entre o Brasil e outras economias. A taxa Selic está atualmente em 13,75%, patamar elevado que torna o real atraente para estratégias de "carry trade", que consistem na tomada de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em mercado mais rentável.

Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), disse que a desaceleração da inflação nos Estados Unidos, somada ao fim da política Covid-zero na China e à alta dos preços das commodities, também é impulso para as moedas da região da América Latina. "O peso mexicano está pegando fogo e o real brasileiro está se aproximando", afirmou ele no Twitter.

(Edição Alberto Alerigi Jr. e Alexandre Caverni)