Taxas de juros futuras curtas sobem com dado do PIB e longas caem com Treasuries

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs de curto prazo fecharam a terça-feira em leve alta, influenciadas pela surpresa positiva com o PIB do terceiro trimestre no Brasil, enquanto os prêmios nos contratos longos tiveram leve queda, na esteira do recuo dos rendimentos dos Treasuries após dados decepcionantes do mercado de trabalho dos EUA.

Pela manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve expansão de 0,1% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores. Foi o terceiro trimestre consecutivo de alta após o recuo de 0,1% nos últimos três meses do ano passado.

O resultado surpreendeu boa parte das instituições financeiras, que projetavam retração da economia no terceiro trimestre. A pesquisa com projeções de economistas consultados pela Reuters trazia uma mediana negativa de 0,2% para o PIB.

“O resultado veio mais uma vez acima do esperado, com queda menor da agropecuária e resiliência dos serviços. Os serviços e o consumo das famílias seguem em seus picos históricos e representam um importante suporte para o crescimento da economia”, avaliou João Savignon, head de pesquisa de macroeconomia da Kínitro Capital, em comentário enviado a clientes.

“Quadro geral é de uma atividade econômica praticamente de lado no 2S23 (segundo semestre de 2023), reflexo da saída dos efeitos positivos da supersafra e uma política monetária ainda restritiva”, acrescentou.

Ainda que a alta de 0,1% -- resultado que praticamente indica estabilidade -- esteja longe de alterar a perspectiva de um crescimento menor no próximo ano, a surpresa com o resultado deu certa sustentação as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) de curto prazo nesta terça-feira.

“O PIB foi um pouco mais forte do que esperávamos. Nossa projeção era de queda de 0,3% no terceiro trimestre”, pontuou o economista Rafael Pacheco, da Guide Investimentos. “Isso pega um pouco nos contratos curtos.”

Entre os contratos com prazos mais longos, porém, o exterior foi novamente a principal orientação para os negócios. Os rendimentos dos Treasuries de 10 anos -- referência global de investimentos -- cediam durante a tarde mais de 10 pontos-base, após a divulgação de novos dados do mercado de trabalho norte-americano.

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O Departamento do Trabalho informou que as vagas de emprego, uma medida de demanda por trabalho, caíram 617.000, para 8,733 milhões, no último dia de outubro. Os números fazem parte do relatório mensal sobre vagas de emprego e rotatividade no trabalho, ou relatório JOLTS. Economistas consultados pela Reuters previam 9,30 milhões de vagas de emprego em outubro.

A queda dos rendimentos dos títulos norte-americanos manteve durante a tarde as taxas dos contratos futuros para janeiro de 2029 e janeiro de 2031 próximas da estabilidade ou em leve queda no Brasil.

“Já faz um tempo que a parte longa da curva de juros aqui está dependente do que vem lá de fora”, lembrou Pacheco.

Até o fim da semana, novos dados da economia norte-americana -- em especial o relatório de emprego payroll, na sexta-feira -- serão monitorados com atenção pelos investidores.

No Brasil, durante a tarde o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou que a inflação surpreendeu para baixo, mas citou novamente as incertezas no cenário.

"A gente tem de fato uma inflação que está convergindo para o que o Banco Central esperava, nesse último número a inflação cheia veio um pouquinho acima, mas o qualitativo da inflação tem sido benigno, então a gente entende que, por ora, consegue seguir com esse espaço (para corte de juros). O problema não é nem tanto o espaço, mas a incerteza", disse.

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Perto do fechamento desta terça-feira a curva a termo no Brasil precificava em 99% as chances de o corte da taxa básica Selic na próxima semana ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o BC. As chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual estavam em 1%. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.

No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,37%, ante 10,335% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,04%, ante 10,016% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 estava em 10,15%, ante 10,156%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,42%, ante 10,423%. O contrato para janeiro de 2029 marcava 10,59%, ante 10,604% e o para janeiro de 2031 registrava 10,83%, ante 10,859%.

Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 10,80 pontos-base, a 4,1782%.

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