Ibovespa fecha em queda puxada por Vale e exterior desfavorável

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, renovando mínimas em cerca de um mês, em movimento ditado particularmente pelo declínio da Vale, com os futuros do minério de ferro na Ásia pressionados por dados mostrando uma recuperação econômica irregular na China, principal consumidor da commodity.

Uma certa cautela em relação ao começo dos amplamente esperados cortes de juros principalmente pelo Federal Reserve também tem marcado os negócios nos mercados acionários globais e reverberado na bolsa paulista, corroborando a correção de baixa em janeiro após o rali nos últimos dois meses de 2023.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,6%, a 128.523,83 pontos, menor nível de fechamento desde 12 de dezembro. Na máxima do dia, chegou a 129.296,43 pontos. Na mínima, a 128.311,94 pontos.

O volume financeiro somou 43,76 bilhões de reais, inflado pelo vencimento de contratos de opção sobre o Ibovespa.

Após avançar quase 19% no último bimestre do ano passado, o Ibovespa acumula um declínio de 4,2% no primeiro mês de 2024, mesmo com um fluxo positivo de capital externo para a bolsa paulista. Até o dia 15, a B3 registrava uma entrada líquida de 2,3 bilhões de reais em janeiro.

De acordo com o analista Alex Carvalho, da CM Capital, os mercados ainda refletiram nesta sessão comentários recentes de diretores de bancos centrais nos EUA e na zona do euro e dados econômicos que esfriaram as apostas de juros mais baixos rapidamente.

"Algumas falas... demonstraram certo cuidado e sinal de pé leve no acelerador quando o assunto é corte na taxa de juros", afirmou.

Carvalho ainda chamou a atenção para o crescimento abaixo das previsões do PIB da China como mais um componente desfavorável aos negócios na bolsa paulista nesta sessão.

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O Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do mundo cresceu 5,2% no trimestre entre outubro e dezembro em relação ao ano anterior, acelerando em relação aos 4,9% do terceiro trimestre, mas um pouco abaixo da previsão de 5,3% em uma pesquisa da Reuters.

Indicadores de dezembro, por sua vez, sugeriram que a crise imobiliária está se aprofundando e mostraram que o crescimento das vendas no varejo desacelerou, enquanto o investimento seguiu morno. Apenas a produção industrial na China mostrou alguns sinais de melhora.

Em Wall Street, os principais índices acionários fecharam em queda, com o S&P 500, uma das principais referências do mercado de ações norte-americano, cedendo 0,56%. O sinal negativo também prevaleceu na Europa e na Ásia.

De acordo com análise técnica da equipe do Itaú BBA em relatório enviado a clientes nesta quarta-feira, o Ibovespa perdeu a região de suporte em 130.700 pontos (na véspera) e jogou um balde de água fria nos investidores que esperavam uma retomada do movimento de alta rapidamente

"A tendência de alta continua, mas o movimento de realização de lucros pode buscar o suporte em 126.400 pontos -- patamar que mantém o índice em tendência altista", afirmaram.

DESTAQUES

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- VALE ON caiu 1,66%, a 69,45 reais, em meio ao declínio dos futuros do minério de ferro na Ásia, na esteira dos dados da China, com o contrato de referência em Cingapura caindo 2,6%. Na chinesa Dalian Commodity Exchange, o vencimento mais negociado encerrou as negociações do dia com baixa de 0,75%. Os papéis da Vale fecharam em queda em 11 dos 12 pregões de janeiro e já acumulam uma perda de cerca de 10% no mês.

- PETROBRAS PN recuou 0,58%, a 37,88 reais, diante da queda dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent terminou o dia em baixa de 0,52%. A companhia também estimou nesta quarta-feira retomar no segundo semestre as obras para a construção do segundo conjunto de unidades (trem 2, no jargão do setor) da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. No setor, PRIO ON perdeu 1,81%, 3R PETROLEUM ON caiu 3,97% e PETRORECONCAVO ON declinou 0,77%.

- ITAÚ UNIBANCO PN encerrou com variação positiva de 0,06%, a 33,00 reais. Em relatório nesta semana, o Bank of America elevou a recomendação das ações do banco para "compra", com preço-alvo de 40 reais. BRADESCO PN subiu 0,19%, a 15,76 reais. O destaque negativo entre os bancos do Ibovespa foi BTG PACTUAL UNIT, que cedeu 2,33%.

- GOL PN fechou em queda de 2,17%, a 6,75 reais, abandonando a tentativa de recuperação na primeira etapa do sessão, quando chegou a subir mais de 1%, a 6,98 reais. A companhia aérea disse na terça-feira, após o fechamento da bolsa, que ainda estava discutindo com os stakeholders financeiros sobre como chegar a uma reestruturação "consensual", após reportagem da imprensa de que a companhia estava considerando o pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Na semana, o papel acumula queda de mais de 11%.

- GPA ON caiu 3,78%, a 4,58 reais, fechando em queda pelo segundo pregão seguido, após forte valorização no começo da semana. Na segunda-feira, o papel disparou 22,5% e no dia seguinte chegou a subir 11,2% antes de encerrar o dia em baixa de 4,8%. As negociações com os papéis seguem suscetíveis às expectativas envolvendo uma potencial oferta primária de ações da ordem de 1 bilhão de reais, que deve ser analisada por acionistas em assembleia marcada para o próximo dia 22.

- SLC AGRÍCOLA ON avançou 3,87%, a 18,80 reais, engatando a quinta alta seguida, após tocar uma mínima intradia desde junho de 2023 na semana passada. Analistas do Itaú BBA, em relatório na segunda-feira, destacaram que o Departamento de Agricultura dos EUA finalmente reduziu sua previsão para a safra de soja 2023/24 no Brasil e que muitos investidores estão se perguntando agora quando os preços dos grãos no país chegarão ao piso, especialmente para o milho, o que poderia representar uma oportunidade de compra para alguns nomes, incluindo SLC, que de outra forma podem permanecer pouco animadores no curto prazo, dadas as notícias mais complicadas sobre previsões de colheita.

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- MRV&CO ON valorizou-se 1,80%, a 7,90 reais, em sessão com desempenho divergente no setor, em meio a novas prévias operacionais. PLANO & PLANO ON e CURY ON, que divulgaram seus números na noite da véspera, avançaram 6,47% e 3,26%, respectivamente, enquanto TENDA ON e MITRE ON, que também reportaram dados nesta semana, caíram 0,99% e 2,05%. O índice do setor imobiliário na B3 encerrou com variação positiva de 0,15%.

(Edição de Alexandre Caverni e Patrícia Vilas Boas)

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