Ibovespa fecha em queda ainda afetado por ajustes em apostas sobre juros nos EUA

Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira pelo terceiro pregão seguido, descolado das bolsas norte-americanas e da alta de commodities como minério de ferro e petróleo, em nova sessão de avanço nos rendimentos dos Treasuries diante de revisões em perspectivas sobre cortes de juros nos Estados Unidos.

A cena corporativa brasileira também ocupou os holofotes, com 3R Petroleum e PetroReconcavo disparando com a sugestão de fusão de seus ativos onshore, enquanto Energisa figurou entre as maiores quedas após anunciar que estuda follow on de cerca de 2 bilhões de reais.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,94%, a 127.315,74 pontos, encerrando na mínima do dia. Na máxima do dia, chegou a subir a 129.046,63 pontos. O volume financeiro somava 22,8 bilhões de reais, em véspera de vencimento de opções sobre ações na bolsa paulista.

Na visão do analista Luis Novaes, da Terra Investimentos, o desempenho negativo ainda é resultado da mudança de perspectiva que está havendo no exterior quanto ao começo dos cortes de juros principalmente pelo Federal Reserve, que pode estar deixando investidores mais cautelosos com mercados emergentes.

"E o investidor estrangeiro foi um grande responsável pelos movimentos de alta no último ano", afirmou.

Dados da B3, ainda mostram saldo positivo de capital externo na bolsa paulista, de 675,7 milhões de reais em janeiro até o dia 17. Mas o fluxo tem sido irregular. Apenas no dia 16, houve uma saída líquida de 1,67 bilhão de reais.

Desde o começo do ano, em meio a novos números sugerindo uma performance ainda robusta da economia norte-americana, agentes financeiros têm revisado suas expectativas de que o banco central dos EUA possa começar um ciclo de cortes da taxa básica de juros ainda no primeiro trimestre, no caso em março.

"Dados econômicos robustos (recentes) contribuíram para a ideia de que, sim, talvez março seja demasiado cedo para o Fed anunciar o primeiro corte das taxas", afirmou a analista Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank, em comentário enviado a clientes mais cedo.

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"O Fed irá provavelmente começar a cortar a taxa no primeiro semestre, mas março parece (uma aposta) excessivamente otimista dada a força contínua dos dados econômicos", afirmou.

Nesta quinta-feira, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA avançaram após dados mostrando que o mercado de trabalho segue sólido nos EUA. O Treasury de 10 ano mostrava 4,142% no final do dia, de 4,104% na véspera. Mas o S&P 500, uma das referências do mercado acionário dos EUA, subiu 0,88%.

Os mercados futuros de juros de curto prazo nos EUA ainda sinalizavam nesta sessão um consenso em torno de um primeiro corte na taxa de juros em março, mas essa probabilidade caiu a 56%, de 70% da semana passada.

Conforme o gestor de uma empresa de previdência complementar, há uma revisão nas apostas tanto quanto ao começo dos cortes quanto da intensidade do alívio. "E isso eu acho ainda mais relevante... A sinalização nesta semana de apenas três cortes é ruim, visto que eram esperados seis cortes", disse.

Em conversa com jornalistas nesta quinta-feira, o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, disse que o Brasil está bem posicionado entre emergentes para receber investimentos, mas um fluxo mais robusto de investimento externo só deve ocorrer quando houver um pouco mais de clareza sobre a política monetária dos EUA.

DESTAQUES

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- 3R PETROLEUM ON disparou 7,62%, a 29,38 reais, e PETRORECONCAVO ON saltou 11,70%, a 23,00 reais, após proposta de acionista da 3R de cisão dos ativos "onshore" da companhia, defendendo a fusão deles com os da PetroReconcavo. Analistas consideraram, em um primeiro momento, a notícia positiva para ambas.

- HAPVIDA ON caiu 6,98%, a 4,00 reais, engatando a terceira queda seguida, após tocar uma máxima intradia desde meados de dezembro no último dia 15. No radar, reportagem publicada pelo Estadão, com o grupo acusado de descumprir sistematicamente decisões judiciais favoráveis aos seus beneficiários. Procurada pela Reuters, a empresa disse que não iria se manifestar.

- ENERGISA UNIT recuou 5,34%, a 49,99 reais, em meio ao anúncio nesta quinta-feira pela empresa de energia de que está trabalhando em documentação para uma "possível realização" de oferta primária de ações ordinárias e preferenciais mirando uma captação de cerca de 2 bilhões de reais.

- VALE ON cedeu 0,65%, a 69,00 reais, após trabalhar no território positivo em boa parte da sessão, chegando a 70,40 reais na máxima, amparada pela recuperação dos preços futuros do minério de ferro na Ásia. Nos 13 pregões de janeiro, as ações da mineradora fecharam em baixa em 12, acumulando no período queda de mais de 10%, tendo ainda de pano de fundo ruídos envolvendo planos do governo para o ex-ministro Guido Mantega assumir o comando da companhia.

- PETROBRAS PN perdeu 0,40%, a 37,73 reais, também sofrendo com o tom mais negativo no pregão brasileiro, a despeito da alta os preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent encerrou com elevação de 1,57%. O CEO da petrolífera, Jean Paul Prates, disse nesta quinta-feira que a companhia planeja investir de 6 bilhões a 8 bilhões de reais na ampliação da capacidade de processamento de petróleo da Refinaria Abreu e Lima (Rnest).

- ITAÚ UNIBANCO PN recuou 0,42%, a 32,86 reais, enquanto BRADESCO PN caiu 0,57%, a 15,67 reais, com os destaques negativos do setor no Ibovespa sendo BANCO DO BRASIL ON, que fechou em baixa de 1,16%, e BTG PACTUAL UNIT, que perdeu 1,11%.

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