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Filas e brigas nos postos, racionamento e roubo de combustíveis: greve em refinarias gera caos na França

12.out.2022 - O logotipo da empresa de petróleo e gás Esso é visto em um posto de gasolina fechado em Port-Jerome-sur-Seine, na França. - REUTERS/Pascal Rossignol
12.out.2022 - O logotipo da empresa de petróleo e gás Esso é visto em um posto de gasolina fechado em Port-Jerome-sur-Seine, na França. Imagem: REUTERS/Pascal Rossignol

Da RFI

14/10/2022 16h43Atualizada em 14/10/2022 16h43

A França é palco de uma forte tensão devido à greve de refinarias de petróleo de duas grandes multinacionais, que resulta na falta de combustíveis em todo o país. Nos últimos dias, cenas de caos foram registradas: filas quilométricas de veículos nos postos, horas de espera para abastecer, brigas entre motoristas, racionamento e até roubo de combustível.

O caso mais grave ocorreu na cidade de Saint-Julien-en-Genevois, no sudeste da França, perto da fronteira com a Suíça. Em um posto de gasolina, um homem esfaqueou um motorista que não teria respeitado o lugar dele na fila de espera para abastecer.

Mas esse não foi o único caso de violência devido à escassez de combustíveis na França. Nas redes sociais, dezenas de vídeos de brigas entre motoristas e bate-boca com frentistas viralizaram. A polícia chegou a ser acionada em várias cidades para garantir a segurança em alguns postos.

No interior do país, casos de roubo combustíveis também se multiplicaram. Na região de Lot-et-Garonne, no sudoeste, dois homens foram presos sugando diesel de uma reserva de combustível para encher galões em uma empresa de extração de brita.

Na região de Ain, no sudeste, em uma empresa de transporte rodoviário, óleo diesel foi roubado dos caminhões por quatro vezes nesses últimos dias. Um homem foi preso e confessou à polícia que estava revendendo combustível, aproveitando-se da escassez do produto nos postos.

Na cidade de Villiers-le-Bel, periferia de Paris, uma cena digna de filme de ação foi registrada na segunda-feira (10). Um grupo invadiu um posto no centro do município, ameaçou a gerente, e preencheu vários galões com óleo diesel. Até que a polícia fosse acionada e chegasse ao local, eles tomaram controle do posto e das vendas e ainda cobraram uma "multa" dos motoristas de fora da cidade.

Em outras regiões, as autoridades também tiveram de recorrer a racionamentos e limitar a compra de combustível a 30 litros. Na quarta-feira (12), o governo divulgou uma lista de trabalhadores prioritários a abastecer os veículos, como profissionais dos serviços de emergência e socorro, bombeiros, do setor da saúde e polícia. Mas a situação irritou quem não foi contemplado: em Paris, um motorista chegou a discutir com um policial que usou a fila preferencial em um posto.

O governo diz que um pouco mais de 30% dos postos enfrentam a falta de pelo menos um combustível. O problema também é que o combustível que mais falta é o diesel, o mais utilizado nos veículos da França. Nesta manhã, em Paris, apenas um posto estava abastecendo, o que gerou filas imensas e horas de espera desde a madrugada.

Greve da TotalEnergies continua

A mobilização começou em 21 de setembro em duas refinarias de petróleo da multinacional americana Esso-Exxo-Mobile, uma no norte da França, e outra no sudoeste. A convocação desta greve veio da parte da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e da Força Operária (FO), duas das maiores centrais sindicais da França.

Em 27 de setembro, a CGT também lançou a convocação de greve para os trabalhadores de quatro refinarias de petróleo da multinacional francesa TotalEnergies — duas no norte do país, uma no sul e outra no noroeste. Com isso, seis das oito refinarias da França paralisaram desde o final de setembro.

A direção da Esso-Exxon Mobile anunciou nesta sexta-feira (14) um acordo com suas duas refinarias em greve, colocando um fim à paralisação que durou 23 dias. Com a entrada de duas outras centrais sindicais na negociação, a CFDT e a CFE-CGC, um aumento salarial de 6,5% foi obtido, além de um bônus de 3 euros mil (equivalente à cerca de R$ 15 mil).

os empregados da TotalEnergies exigem 10% de aumento, com a justificativa que os salários ficaram completamente desvalorizados com a inflação que está em uma média de 6% na França. Também alegam que só no primeiro semestre de 2022, a TotalEnergies lucrou quase 11 bilhões de euros (equivalente a mais de R$ 56 bilhões). Os grevistas reclamam não terem sido beneficiados por esses lucros.

Na manhã desta sexta-feira, a TotalEnergies ofereceu um aumento geral de 5% nos salários e mais 2% nos salários individuais, graças a negociações das centrais CFDT e CFE-CGC. No entanto, os funcionários votaram contra a proposta, insistindo nos 10% exigidos desde o início da mobilização. Também prometeram seguir em greve ao menos até a próxima terça-feira (18), quando uma greve geral promete paralisar toda a França.