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Para banco, Brasil "ainda" não vive uma bolha de crédito

11/07/2011 18h23

SÃO PAULO - "Bolha de crédito? Provavelmente ainda não". Com esse título, o banco BNP Paribas analisa, em relatório, um dos temas mais discutidos no momento -se a evolução do volume de empréstimos e financiamentos no Brasil configuram ou não uma bolha.

Para o economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina, Marcelo Carvalho, embora o crédito tenha de fato crescido com força no país, há vários fatores mostrando um quadro confortável, indicando que não há uma bolha prestes a estourar, mas é preciso ficar "atento".

"O crédito cresce rapidamente, mas a partir de um baixo ponto inicial, autoridades e bancos parecem bastante conscientes dos riscos envolvidos, medidas foram adotadas para esfriar o mercado, o sistema financeiro é bem capitalizado e regulado de perto, e o histórico recente para lidar com reversões cíclicas é positivo", resume ele.

Nível de crédito no Brasil estava muito baixo

A análise de Carvalho se baseia no fato de que o nível de crédito partiu de um patamar muito baixo. Ele afirma que o crédito no Brasil, hoje equivalente a 47% do Produto Interno Bruto (PIB),  estava pouco acima de 20% há uma década.

Os empréstimos imobiliários, por exemplo, cresceram muito rapidamente, mas ainda equivalem a algo como 4% do PIB, um número baixíssimo em termos internacionais. Na Coreia do Sul, estão na casa dos 40%, e, na Suíça, acima de 100% do PIB.

A estabilização das condições macroeconômicas, a extensão dos horizontes de financiamento, a queda dos juros e a ascensão de uma nova classe média estimularam o movimento, lista o economista-chefe.

Em 12 meses, o crescimento do volume de empréstimos e financiamentos está na casa de 21%, acima dos 10% a 15% citados pelas autoridades como um ritmo mais apropriado de alta.

Juros altos no país reduzem risco de bolha de crédito

O fato de os juros serem muito altos no Brasil também ajuda a reduzir os riscos de uma bolha de crédito, avalia o BNP Paribas. Esse fenômeno costuma ocorrer em cenários de juros baixos, o oposto do que se dá no Brasil. "O consumidor médio também não parece particularmente alavancado [com empréstimos adicionais de risco]."

O relatório lembra ainda que o índice de capitalização para os bancos exigido no Brasil é de 11%, acima dos 8% determinados internacionalmente pelo índice de Basileia.

"Enquanto bancos pequenos podem ter que enfrentar consolidação ao longo do tempo, há poucos questionamentos sobre a força dos grandes bancos brasileiros, que dominam o mercado local, e sobre a saúde geral do sistema financeiro."

Tudo bem por agora, mas fiquem atentos, diz relatório

Apesar dessa avaliação positiva, Carvalho diz que, como sempre, não há espaço para complacência.

"Supervisão apropriada, monitoramento cerrado e regulação prudencial continuam os ingredientes-chave para assegurar que uma expansão excessiva hoje não se transforme num colapso financeiro amanhã. Em outras palavras, tudo está bem até o momento, mas fique atento à questão", escreve ele.

(Sergio Lamucci/Valor)