Multinacionais têm volume recorde em caixa para investimentos
Apesar da crise, os negócios das multinacionais continuam em alta. É o que mostra o Relatório Mundial sobre Investimentos, da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), divulgado nesta quinta-feira (5).
Em 2011, essas companhias tinham volume recorde em tesouraria entre US$ 4 trilhões e US$ 5 trilhões, mas relutam em expandir os investimentos. As 100 maiores companhias reduziram suas despesas em capital e ativos físicos de produção, privilegiando a acumulação de recursos.
"As empresas têm uma tesouraria enorme que pode gerar um boom de investimentos quando a situação econômica global melhorar', disse James Zhan, diretor da área de investimentos da Unctad.
"Podemos pensar que elas têm mais de US$ 500 bilhões de fundos passíveis de serem investidos, o que representa um terço do fluxo anual de IED."
O documento ainda informa que as filiais estrangeiras dessas companhias empregavam 69 milhões de assalariados, registraram US$ 28 trilhões em vendas e US$ 7 trilhões de valor agregado em 2011, 9% a mais do que em 2010.
De acordo com a Unctad, em 2011 o fluxo global de investimento estrangeiro direto aumentou 16%, superando a marca de US$ 1,5 trilhão, mas ainda inferior em 22% ao volume alcançado em 2007, antes da crise.
Para 2012, a agência projeta fluxo de US$ 1,6 trilhão, baseado no recuo no ritmo de operações nos cinco primeiros meses do ano. Além das incertezas sobre as economias desenvolvidas, o problema agora é também a desaceleração em economias emergentes, que têm sido o alvo prioritário de expansão de multinacionais.
Brasil a América Latina
Sem surpresa, o Brasil atraiu mais da metade do IED para a América Latina. Em 2011 o fluxo para o país alcançou US$ 66,6 bilhões, representando 37% a mais do que no ano anterior. O tamanho do mercado doméstico, seus recursos naturais e sua posição na América do Sul explicam sua atratividade.
Já as companhias brasileiras repatriaram capital para a matriz em 2011. O fluxo de investimentos no exterior tinha alcançado US$ 11,5 bilhões em 2010, mas a persistente crise em 2011 provocou uma reviravolta. No total, as repatriações para a América Latina alcançaram US$ 21 bilhões.
Em seu Relatório sobre Investimentos no Mundo, a Unctad apoia políticas industriais iniciadas tanto pelo Brasil como pela Argentina, que não cessaram de ser criticadas por parceiros ricos.
Para a entidade, que pretende ser uma espécie de 'think tank' dos países em desenvolvimento, as medidas adotadas não apenas reforçam investimentos, inovação e comércio exterior, como protegem o mercado e as indústrias domésticas contra o fluxo de produtos baratos que estrangeiros.
Avalia que as medidas anunciadas pelos dois governos também atraem capital estrangeiro. Dá o exemplo de investimentos bilionários de fabricantes automotivos no Brasil, incluindo Chery (China), Volkswagen, Renault-Nissan, JAC Motors (China), BMW.
"Embora a era de políticas de liberalização para IED pareça ter acabado, essa mudança não parece ter freado o fluxo de investimentos estrangeiros diretos", diz a Unctad, mencionando o boom de capital para o país em 2011.
A Unctad criou agora o "índice de contribuição de IEE", para mostrar a influência de filiais estrangeiras nas economias locais. A maior contribuição é registrada na Hungria, na Bélgica e na República Checa.
O Brasil está em 28ª posição, ou seja, com contribuição menos significativa das multinacionais em termos de valor agregado, emprego, salários, pagamento de impostos, exportações, gastos com pesquisa e desenvolvimento de produtos e formação de capital.
De maneira geral, a América Latina continuará atrativa para os investidores estrangeiros graças a seus recursos naturais, perspectivas de crescimento num período de incertezas globais, além do maior uso de políticas industriais.
A agência da ONU nota uma reconfiguração de investimentos na América Latina. Os europeus recuaram, a começar pelos bancos. Por sua vez, multinacionais da China, México, Colômbia e Índia estão entre os mais ativos investidores do mundo em desenvolvimento.
Países desenvolvidos, em crise, reduziram seus investimentos estrangeiros diretos em 24%. O fluxo originário dos EUA foi estimulado, porém, por volume recorde de lucros reinvestidos.
Conforme a Unctad, uma nova tendência é mais investimentos estrangeiros por parte de companhias estatais e por fundos soberanos, que têm cerca de US$ 5 trilhões em ativos.
(Assis Moreira | Valor)
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