Exterior puxa alta do dólar em meio a indefinições no cenário político
A alta do dólar no exterior direcionou, em grande parte, o comportamento do câmbio doméstico nesta quarta-feira. A divisa americana terminou a sessão com ganho moderado em meio a indefinições no campo político do Brasil. Apesar de acumular o terceiro avanço consecutivo, isso não significa uma reversão de uma tendência positiva para o real, de acordo com profissionais de mercado. A leitura é que o ambiente de negócios segue favorável para a divisa brasileira e pode até melhorar de maneira mais intensa caso a reforma da Previdência dê sinais concretos de avanço.
A aprovação da medida, considerada como um dos pilares da correção de contas públicas, porém, ainda é vista com ceticismo. Nessa perspectiva de cautela, entram as incertezas com a política, incluindo uma eventual denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. Por outro lado, alguns profissionais de mercado apontam que as chances de parte da proposta ser avalizada são maiores que as precificadas nos ativos.
A economista-chefe na CM Capital Markets, Camila Abdelmalack, destaca que "esfriou o rebuliço político contra Temer principalmente após a rejeição da primeira denúncia da PGR na Câmara". Uma nova ofensiva da Procuradoria pode postergar a discussão sobre a Previdência, mas o risco de ser algo "catastrófico" para os mercados é menor. "Não vejo o câmbio se afastar muito do patamar de R$ 3,15 por dólar", diz a especialista.
Para o sócio e gestor da Flag Asset Management, Sérgio Goldenstein, o cenário doméstico vem mostrando uma melhora, tanto por causa dos números de inflação baixa quanto pela perspectiva de que haja algum avanço na reforma da Previdência. Ele diz que Temer está mais forte e que, resolvida essa questão de curto prazo, a possibilidade de haver alguma reforma da Previdência deve voltar à cena, com chance de provocar uma melhora nos preços. "O mercado ainda está muito cético com a possibilidade de haver uma reforma, o que significa que essa questão representa um 'upside' para o mercado", afirma.
Ainda na política, chamou a atenção do mercado a informação de que a bancada do PSD pediu autorização do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para colocar seu nome em discussão para disputa da Presidência no ano que vem. Meirelles negou ser pré-candidato ao principal cargo do Executivo, mas o presidente licenciado do PSD, Gilberto Kassab, confirmou a pré-candidatura. O assunto ainda é considerado por profissionais de mercado como "superficial" e que exigiria detalhes.
A sessão desta quarta-feira foi marcada por avanço quase generalizado da divisa americana. As moedas emergentes, entretanto, tiveram um desempenho menos negativo numa lista de 33 divisas globais. Foram justamente os papéis dessas praças que lideraram os desempenhos diários. O real estava em 15º lugar nesse ranking.
O dólar comercial terminou a sessão em alta de 0,30%, a R$ 3,1380, com alguma distância ante a máxima de R$ 3,1425. O contrato futuro para outubro, por sua vez, avançava 0,40%, a R$ 3,1440.
Por aqui, o avanço do dólar também foi amparado pela falta de sinalização do Banco Central, até o momento, sobre qual estratégia adotará para os quase US$ 10 bilhões em contratos de swap cambial vincendos no próximo mês. O vencimento de parte relevante do lote dos swaps não é descartada e pode exercer força adicional ao dólar caso venha acontecer.
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