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Dólar fecha a R$ 3,74 e real tem pior semana em um ano

18/05/2018 17h57

O real concluiu nesta sexta-feira sua pior semana em um ano. A moeda brasileira caiu 3,74% no período, na maior queda desde a semana encerrada em 19 de maio de 2017, período em que o dólar disparou 4,25% por causa das delações da JBS contra o presidente Temer.

No fechamento desta sexta-feira, o dólar comercial subiu 1,06%, a R$ 3,7409, nova máxima em 26 meses. Na semana, a cotação saltou 3,88%.

Real entre piores

Variação semanal das divisas ante o dólar

Fonte: Valor PRO

É a quarta semana seguida de alta do dólar. Mas o movimento dos últimos dias chamou ainda mais atenção - tanto pela velocidade com que a moeda se aproximou de R$ 3,80, quanto pela "underperformance" do real, pela magnitude da desvalorização e, sobretudo, pela aparente hesitação do Banco Central em quebrar a espiral de baixa do câmbio.

O tombo do real ocorreu não a despeito da surpresa do Copom com a manutenção dos juros estáveis. Mas se intensificou após a decisão. Para alguns analistas, foi um sinal claro de que há uma dinâmica negativa contra o câmbio que precisa ser atacada pelo BC, sob o risco de o país, em último caso, ser empurrado para um cenário de aumento de inflação e deterioração adicional das expectativas para a atividade econômica.

Para Rogério Braga, sócio-diretor da gestora Quantitas e responsável pelos fundos de renda fixa e multimercados da casa, o Banco Central está "menos presente no câmbio do que poderia estar". "Talvez o BC esteja esperando o fechamento para anunciar um reforço na atuação. Mas acredito que ela tenha de ser tempestiva. E durante o pregão", afirma o gestor.

Braga diz que estava neutro em real mesmo antes da alta do dólar e continua sem apostas direcionais na moeda americana. Porém, reconhece que se sentiria "mais confortável" na ponta de compra de dólar do que de venda.

"Não há nada em termos de fundamento econômico que justifique o movimento do câmbio. Já passou da hora de o BC intervir com mais força", diz o profissional de um banco em São Paulo. De acordo com ele, conter a volatilidade e corrigir distorções no movimento do câmbio "faz parte da essência" do que o BC tem dito nas últimas semanas. "É um movimento sem fundamentação micro nem macro, e se continuar vai contaminar todo o mercado, vai causar pânico", alerta.

Em entrevista ao jornalista Lucas Hirata, do Valor, Sérgio Goldenstein, sócio e gestor da Flag Asset, classifica a atuação do BC no câmbio como "extremamente tímida" e afirma que o BC precisa "quebrar" a espiral negativa que sufoca o real.

O BC manteve hoje a oferta de 5 mil contratos "novos" de swap cambial. A expectativa é que, até o fim do mês, haja injeção líquida de US$ 3 bilhões no mercado de dólar futuro. Mas analistas já discutem a necessidade de atuações nos moldes da "ração diária" que vigorou entre 2013 e 2015.

A percepção do mercado de que o dólar pode voar ainda mais alto é expressa de várias formas, entre elas via dados do mercado de opções de câmbio da B3. Esse mercado ainda não tem giro expressivo diário, mas as mudanças de posições podem ser vistas como um sinal da alteração de humor e de estimativas de investidores.

No fim de abril, por exemplo, a opção de compra de dólar vencimento junho com "strike" (preço de exercício) em R$ 3,5000 era a que concentrava a maior quantidade de contratos: 9.185 ao todo. Ou seja, alguns no mercado viam R$ 3,50 como "piso". Ontem, o vencimento com maior posição já apontava dólar a R$ 3,6500. O piso, portanto, subiu.

Mas o que chama mais atenção é a abertura de posições com preço de exercício em R$ 3,9500 (3.200 contratos no total). No fim de abril, essa posição estava zerada. Na prática, alguns investidores já veem cenários em que comprar dólar a R$ 3,9500 pode ser vantajoso. Ou seja, a moeda estaria ainda mais cara, provavelmente acima de R$ 4,0000.

Ainda na B3, números revelam que a demanda por dólares tem partido sobretudo de investidores estrangeiros. Apenas ontem, eles compraram, em termos líquidos, US$ 1,321 bilhão - considerando contratos de dólar futuro e cupom cambial. É a maior compra líquida para um dia desde o último dia 24 de abril (US$ 2,556 bilhões).

Com isso, os estrangeiros elevaram a posição líquida comprada em dólar - ou seja, que ganha com a valorização da moeda americana - a US$ 25,592 bilhões. É o maior patamar desde 22 de outubro de 2015 (US$ 26,588 bilhões), período em que os ativos brasileiros sofriam com crise de confiança no país, o que acabou levando o dólar em setembro daquele ano a uma máxima histórica perto de R$ 4,25.

Mas ainda há aqueles que veem oportunidade de compra de real com a moeda nas mínimas em dois anos. Apesar da depreciação do câmbio desde a decisão do BC de manter os juros estáveis, o Morgan Stanley ainda acredita que a moeda brasileira pode performar "melhor" no curto prazo. E essa visão serve de pano de fundo para a abertura, ontem, de posição favorável ao real contra o peso mexicano.

"Não apenas o prêmio de risco do real já é um dos mais altos do universo emergente, como a postura menos 'dovish' do BC - junto com a intervenção no mercado de câmbio - pode deixar investidores mais confortáveis com posições em real", dizem estrategistas do banco em nota a clientes.