Juros estão baixos, e daí?

Selic baixa é boa para renegociar dívidas, mas dinheiro também rende menos; veja dicas para a nova realidade

Maria Carolina Abe Do UOL, em São Paulo Getty Images/iStockphoto/liulolo

Coisa nova

É uma situação desconhecida para os brasileiros: a taxa básica de juros (Selic, atualmente em 4,5% ao ano), usada como base para as demais taxas, nunca esteve tão baixa. Descontando a inflação, fica perto de zero.

Esta nova realidade tem vários impactos positivos na economia e na vida das pessoas. Por exemplo, fica mais barato tomar dinheiro emprestado para abrir um negócio ou comprar a casa própria. Para quem tem dívida, é um bom momento para renegociar e conseguir um desconto camarada.

Por outro lado, para quem tem dinheiro guardado, fica bem mais difícil vê-lo render. Para ganhar mais, é preciso correr mais riscos. A poupança, amada por tantos brasileiros, não consegue nem cobrir as perdas da inflação. A renda fixa, em muitos casos, também não.

Veja a seguir como os juros baixos afetam a sua vida se você quer pegar dinheiro emprestado, se tem dívida, se tem ou quer ter um pé de meia, e saiba se esse "novo normal" é passageiro ou se veio para ficar.

Para quem, como os brasileiros, se acostumou a conviver com juros nas alturas (a taxa básica chegou a superar 40% ao ano em 1999, na virada do sistema de câmbio fixo para flutuante), essa nova situação é inusitada.

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José Paulo Kupfer, blogueiro do UOL

Fica mais barato tomar crédito

Para quem precisa de dinheiro —para comprar a casa própria, financiar um carro ou abrir um negócio, por exemplo—, juros baixos são uma boa notícia. As taxas cobradas pelos bancos tendem a cair. O mesmo vale para empresas.

Porém, nem sempre as quedas na Selic são repassadas integralmente ao consumidor final. Esta é uma decisão que depende de cada banco ou instituição financeira.

Atenção: os juros que você paga são bem mais altos

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que a Selic é uma taxa de referência para todas as demais taxas de juros do país, como aquelas cobradas pelos bancos num empréstimo ou paga pela corretora quando você investe em um CDB.

A Selic não representa exatamente os juros cobrados dos consumidores, que são muito mais altos.

Ela influencia diretamente no custo de captação, ou seja, quanto os bancos pagam para conseguir levantar dinheiro para emprestar. Mas representa apenas uma parte dos juros cobrados pelos bancos. Os bancos também embutem nas taxas o risco de calote, os impostos e compulsórios [dinheiro que fica retido pelo BC], despesas administrativas e, sim, sua margem de lucro.

Boa hora para renegociar dívidas

Tem alguma dívida, seja em dia ou mesmo atrasada? Aproveite os juros baixos. É uma boa hora para renegociar e buscar condições melhores, seja no atual banco ou em outro.

Sim, se você fez uma dívida no banco X, mas o banco Y fizer uma proposta melhor para quitar o que deve, por que não migrar para lá? Isso é permitido pelo Banco Central e se chama portabilidade.

É um tipo de mudança ainda pouco comum no Brasil, mas a tendência, segundo especialistas, é que se torne cada vez mais comum e ajude a incentivar a concorrência no setor bancário.

Mais difícil fazer o dinheiro render

Por outro lado, é mais difícil fazer seu dinheiro render. Se não tomar alguns cuidados, pode, inclusive, perder dinheiro. As aplicações tradicionais e mais seguras (as mais queridas dos brasileiros), como poupança, fundos de renda fixa e títulos do Tesouro Direto, podem não cobrir a inflação ao longo do tempo. Como lidar?

Especialistas sugerem manter pelo menos a reserva de emergência nessas aplicações mais tradicionais, mas ficar de olho nas taxas cobradas. Fora este pé de meia para imprevistos, o restante do dinheiro pode ser investido em outros produtos, que têm um nível de risco um pouco mais alto, mas têm rentabilidade melhor, como títulos de empresas, fundos imobiliários e ações.

De olho na sua aposentadoria

Para quem está poupando para a aposentadoria, o "fermento" vai ter um efeito menor, então será preciso colocar mais ovos e farinha para fazer o bolo crescer e atingir o tamanho desejado.

Em outras palavras, será preciso guardar mais dinheiro a cada mês ou guardar a mesma quantia durante mais tempo para conseguir juntar os recursos necessários para se aposentar.

Efeitos positivos na dívida pública

Com a Selic mais baixa, um dos efeitos positivos é que o país paga menos juros sobre sua dívida. Portanto, o custo da dívida pública diminui.

Com os juros baixo, o governo deve deixar de gastar R$ 418 bilhões em juros da dívida pública entre 2019 e 2022, segundo estimativas do Ministério da Economia.

Juros baixos vieram para ficar?

A expectativa de analistas de mercado é que a taxa básica de juros continue em 4,5% ao ano até o fim de 2020, segundo o Boletim Focus.

A taxa só voltará a mudar no segundo semestre de 2021, quando deve subir, na opinião do economista-chefe da Vinland Capital, Aurelio Bicalho, o economista que mais acerta as projeções para os juros no país. Segundo ele, será por um bom motivo.

Quando o Banco Central tiver que subir os juros lá na frente, isso vai ser bom porque representa que a economia voltou a crescer, que o desemprego caiu e que as pessoas passaram a consumir mais.

Aurelio Bicalho, Economista-chefe da Vinland Capital

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