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Dedicação nem sempre é contabilizada na sobrevivência da empresa

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

27/03/2013 06h00

Muitas empresas que estão sendo abertas hoje irão prosperar. Outras, feliz ou infelizmente, enfrentarão problemas alheios aos esforços de seus donos e, aos poucos, irão se apagando ou se metamorfoseando em novos projetos.

Projetos que as ajudarão a renascer tão fortes e tão prósperas quanto eram os desejos iniciais de seus proprietários.

Uma das diferenças que se registrará no DNA das empresas que enfrentando dificuldades renascem e se transformam em organização lucrativas é a imensa dosagem de dedicação de seus donos, sócios e colaboradores que, na imensa maioria das vezes, não será contabilizada e muito menos registrada nos anais de uma empresa vitoriosa.

Esforço desconhecido

Deveria constar na portaria de toda empresa de sucesso um cantinho reservado ao "Monumento dos esforços desconhecidos”, como as nações homenageiam, no pós-guerra, aqueles que lutaram e que perderam suas vidas por meio do “túmulo do soldado desconhecido”.

Como todos sabemos, “túmulo do soldado desconhecido” é o nome que recebem os monumentos erigidos pelas nações para honrar os soldados que morreram em tempo de guerra sem que os seus corpos tenham sido identificados.

Segundo a Wikipedia: “Por vezes é um túmulo simbólico evocando todos os habitantes de um país que morreram em determinado conflito sem identidade conhecida.”

Criar uma organização empresarial vitoriosa é vencer várias batalhas simultâneas e sequenciais, com enorme dedicação, noites mal dormidas, angústias, colapsos nervosos e , mesmo assim, ser capaz de assumir riscos quando ninguém mais acredita.

Que nos premiam, também, com algumas alegrias que se evaporam rapidamente diante de uma concorrência sempre atenta, guerrilheira e disposta a disputar a posição da empresa no nicho de mercado que ela desenvolveu ou ocupou.

Guerra permanente

A consequência natural é que, com o passar dos anos, alguns ficarão para trás, outros consumirão toda a sua energia até transferir o bastão para o próximo empregado ou executivo.

Haverá também os que simplesmente perdem a fé no meio do caminho, obrigando o principal gestor (ou dono) a renovar para novos colaboradores, fornecedores e clientes a fé no projeto da empresa.

A praticamente implorar envolvimento para renovar e recriar a empresa. Com uma dose extra de esforço que, muito provavelmente, será sumariamente esquecido na hipótese, provável, de a empresa ser bem sucedida.

Resumo da ópera: manter uma empresa aberta é muito mais do que gerenciar talentos que garantam o ajuste das demandas à capacidade de entregar mercadorias ou serviços.

Requer, como qualquer "Monumento dos esforços desconhecidos” nos lembraria, a busca de serenidade quando todos, literalmente, todos, já tiverem desistido do projeto.

Exige, também, a capacidade de acreditar nos talentos ainda não completamente desenvolvidos na equipe e apostar de verdade, assinando promissórias e assumindo empréstimos bancários, que as vacas magras serão passageiras e manter a equipe atuante e esperançosa dos desdobramentos positivos futuros.

Obriga, ainda, que o principal mentor da empresa se esforce para manter seu ego praticamente transparente, sem puxar a si os louros das minúsculas vitórias cotidianas e sem culpar a equipe das pequenas derrotas que fazem parte do cardápio gerencial de qualquer empresa sobrevivente.

Algumas reflexões

Enquanto o futuro empresário estiver pensando em abrir sua empresa e se reúne com potenciais investidores, amigos e aliados, deveria reservar alguns momentos de reflexão e se imaginar como um dos homenageados do "Monumento dos esforços desconhecidos”.

Verifique se você tem escopo para passar despercebido nas sequências de pequenas batalhas vitoriosas e estar disposto a assumir a iniciativa nos momentos de desânimo e derrotas.

Troque ideias com seus amigos mais chegados, sua esposa ou esposo para se confirmar um gestor de equipes, que pensa nos ganhos mas sem esquecer um minuto sequer que cada avanço para  um estágio superior de competitividade e lucro exige sacrifício, dedicação e criatividade de todos.

E que cada funcionário que é deixado para trás (a não ser que ele ou ela queira abandonar a luta) é um desfalque enorme na história da empresa, que afetará, em algum nível a motivação, coesão e a capacidade inovadora da equipe.

E quando a empresa se solidificar se prepare para entregar a gestão para a próxima geração, sem se agarrar ao cargo.

Mas tente, de todas as formas, se manter presente na memória dos grandes desafios, pequenas vitórias e momentos de superação que foram determinantes para que você venha a merecer a homenagem do “esforço desconhecido”.