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Propagandista, marqueteiro e empreendedor

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

10/04/2013 06h00

Você, em alguma etapa de sua vida produtiva, antes de ter se aventurado como empreendedor, deve ter se relacionado com esses personagens que nos contagiam com sua alegria, determinação e fé no próprio negócio. Mais do que empreendedores que nos apresentam seus produtos ou serviços, são verdadeiros propagandistas e marqueteiros dos próprio negócio.

Geralmente, falam demais. Mas o fazem para segurar a quase qualquer custo nossa atenção. Não estão propriamente vendendo, mas dividindo com a gente o sonho que estão ainda construindo. E cada reação de nossa parte é assimilada como uma sugestão, apoio ou crítica à sua estratégia de negócio.

Que ajustam imediatamente nos colocando e nos aceitando como seus consumidores, sócios ou parceiros virtuais no negócio. Temos a nítida sensação, após um desses contatos, que teremos que participar de alguma maneira do empreendimento desse propagandista, marqueteiro e empreendedor.

E nos perguntamos, quando assumimos o risco de conduzir nossa própria empresa, se vamos ter a mesma pegada desses personagens e se também vamos nos arriscar a ser chatos na apresentação e defesa de nosso empreendimento.

A regra é simples. Se a sua empresa tiver a mínima chance de ser bem sucedida é porque você, na maioria dos contatos, vai assumir simultaneamente o papel de propagandista, marqueteiro e empreendedor.

Ajuste fino

Tais funções, ou seja, falar dos projetos, ouvir e avaliar as reações que causam, são necessárias porque empreender é, muitas vezes, uma atividade solitária. O dono do negócio vive quase que sem eco de suas decisões.

Porque pesquisa de opinião, avaliação independente e honesta dos resultados é um luxo que só vamos conseguir definir quando a empresa superar alguns anos e dificuldades e sobrar caixa para contratar ajuda especializada. 

Por isso, temos que falar e discursar a respeito de nossas tarefas, projetos e encaminhamentos. De maneira comprometida e exausta. Até nos cansar e incomodar nossos interlocutores. Pois enquanto defendemos nossos pontos de vista, realizamos os ajustes necessários ao que ouvimos de nossos interlocutores.

O que, com o tempo, acaba sendo incorporado ao nosso estilo de vivenciar e antecipar os gargalos da empresa. Muitas vezes, o discurso otimista (e você sabe ou saberá disso, se está no comando da empresa) esconde terrores abissais.

E o empreendedor que o faz está, desesperadamente, sondando reações, buscando saídas, esperando que alguma sugestão salvadora surja das emoções de seus interlocutores.

E o mais interessante é que, muitas vezes, esse exercício desesperado de ajustar os projetos da empresa à audiência acaba gerando uma solução diferenciada e criativa que cai como uma luva ao problema que, até instantes antes, não tinha solução.

Conteúdo

É importante que o discurso do propagandista, marqueteiro e empreendedor esteja afinado com o projeto estratégico da empresa. Se ele não souber para qual rumo pretende tocar a empresa, muito provavelmente produzirá uma fala desconectada da própria realidade e não conseguirá sensibilizar sua audiência.

Sua conversa cairá em ouvidos moucos e baterá de frente em rostos sem reação, sem conseguir retornos e, especialmente, sem emocionar e mobilizar potenciais aliados, fornecedores e clientes.

As falas de melhor resultado são aquelas que são alimentadas por muita audição. Ouvir profundamente os seus interlocutores, sondar interesses mínimos no seu empreendimento, avaliar se tem ou não potencial de se integrar a algum ramo de negócio que você desesperadamente quer fazer dar certo.

E só depois inicie, então, o seu discurso. E o ajuste, rapidamente, à sua audiência, com o objetivo claro de estabelecer pontes e, aproveitar todas e quaisquer oportunidades, mínimas que sejam, para vincular de verdade o seu interlocutor com sua estratégia de negócio.

Nem sempre tais atitudes, falas e discursos dão certo. Mas basta perguntar a qualquer propagandista e marqueteiro que toda campanha também tem perdas. Grande parte das verbas gastas em publicidade, por exemplo, não se transformam em percepção do produto e da marca e, muito menos, resultam em aumento das vendas.

Mesmo assim, as empresas e as grandes marcas estão sempre investindo em publicidade. Não desistem nunca de seus sonhos e se esforçam e investem horrores para nos convencer que são as melhores do mundo, do país, do estado, da sua cidade ou do seu bairro.

São negócios tocados com o mesmo vigor seu que, mesmo começando agora, não se incomoda em ser ao mesmo tempo propagandista, marqueteiro e empreendedor.