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O prejuízo que nos obriga a mudar

Marco Roza

Colunista do UOL, em São Paulo

10/07/2013 13h50

Acabo de participar de um seminário pela internet do professor John Daly. O tema “How To Get People To Buy Your Ideas” (Como ajudar as pessoas a comprarem suas ideias, numa tradução livre) clique no aqui e ouça a apresentação em inglês.

Se preferir, siga meu resumo. E quem sabe minhas sugestões o sensibilizem antes que o prejuízo o obrigue, queira ou não, a mudar.

Uma ideia, diz John Daly, deve ser proposta diante de uma necessidade. Se você acha que sua empresa está indo bem, a melhor ideia do mundo não o sensibilizará. Simplesmente não será percebida.

O mesmo vale para quem sai de um emprego bem sucedido, onde ocupava um cargo decisivo na empresa e sai carregado com a grana do fundo de garantia e férias acumuladas e tem a convicção inabalável dos acertos de sua nova empresa.

Até que...

Até que um olhar mais cuidadoso no seu balanço associado com uma visão de médio e longo prazos pode trazer um susto diferenciado, ao perceber que está defasado em termos de talentos, estratégia e adequação para manter o atual padrão de sua empresa.

Percebida a necessidade (diretamente ou criada por quem está propondo a ideia) sua empresa focará nos recursos para tornar a ideia viável por meio de um plano.

A sequência, de acordo com John Daly, é avaliarmos sozinhos ou com ajuda externa os benefícios imediatos que tais propostas e estratégias trarão para nossa empresa. De novo, você vai precisar de muita reflexão que será acelerada ou pela dor da perda percebida e contabilizada ou se for capaz de dividir suas inquietações com profissionais do ramo.

E para adotar uma ideia hoje, em vez de deixá-la para amanhã, além dos prejuízos que o preocupam agora, é importante avaliar o que acontecerá caso você durma no ponto.

Tudo avaliado e mesmo assim você decidir não agir, não há no mundo argumento suficiente para induzi-lo a mudar para melhor. E se você não perceber os riscos que o ameaçam a ponto de condená-lo à falência, nada poderá ser feito.

A não ser buscar alguém que tenha paciência para ouvir suas explicações a posteriori, quando nada mais for possível ser feito para mudar sua sorte.

Antes que seja tarde

Se você me leu até aqui é porque é daqueles empreendedores (ou futuro empresário) que já sabe o essencial. Tem disposição para acertar sustentada por vivencias profissionais, interpessoais e acumula um histórico de pequenas vitórias, seja no emprego ou em empresas ou departamentos que dirigiu no passado.

Mesmo com toda essa experiência acumulada é bom você reservar algumas horas por semana para reavaliar, com o maior distanciamento emocional possível, se não é a hora de ajustar suas estratégias ou assimilar novas ideias para alavancar, ainda mais, seus resultados.

Porque qualquer empresa só se confirma como tal através da rotina gerada por procedimentos que são assimilados, muitas vezes, como permanentes.

Uma rigidez operacional que induz as pessoas a acreditarem que exercem uma função determinada na organização, quando basta uma análise desapaixonada para percebermos que nunca conseguimos trabalhar na mesma empresa em dias ou horas subsequentes.

Repetimos, ao nos inserir em quaisquer organizações, como donos ou empregados, os ensinamentos do filósofo grego Heráclito que afirmou:

“Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai.”

Apesar da consciência dessa transitoriedade, pois bastou que você lesse mais um parágrafo para reavaliar suas convicções, mesmo assim temos uma dificuldade imensa em assimilar novas ideias ou sugestões, mesmo que nos sejam apresentadas sem custos.

Imagina então ter que se decidir a comprá-las e mobilizar sua organização para assimilá-las, implementá-las e transformá-las em novos produtos e/ou serviços?

Empreender é gerenciar organizações vivas, em permanente mudança, que dependem dos humores dos clientes finais, do desempenho variável dos fornecedores e das emoções que sensibilizem os seus colaboradores.

Criando várias ondas que se superpõem e o ajudam a surfar num ambiente altamente competitivo, com gestores tão hábeis quanto você, e dispostos a colocá-lo a pique sem dó nem piedade.

O que exige ideias novas que agregadas com sua boa estrela o ajudarão a sobreviver muito além da sua concorrência.