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Empreender é gerenciar crises sem perder a ternura, jamais

Marco Roza

Colunista do UOL

24/06/2015 06h00

Desde a hora em que decide ter uma empresa em vez de um emprego formal, o empreendedor precisa estar preparado para gerenciar uma crise com os ingredientes que farão parte de todos os desafios futuros: emoção, insegurança, indecisão e a superação necessária para vencer as opiniões da família, dos amigos e colegas de trabalho e abrir a empresa.

São decisões dolorosas, cortam a alma silenciosamente, eliminam noites de sono, abalam o orgulho próprio, mas, mesmo assim, todos os dias, acompanhamos relatos e estatísticas de homens e mulheres que sem medo de se tornarem infelizes se lançam à aventura de criar um negócio para sobreviver servindo o próximo.

Sim, o que se ganha com uma nova empresa é muito importante. Mas logo cairá a ficha que, sem servir o próximo oferecendo os produtos que esse público quer e precisa ou os serviços que lhe tornem a vida mais leve, o dinheiro simplesmente não aparece.

Servir o próximo, por mais similar às práticas religiosas que possa parecer, nos joga num turbilhão de crises. Porque quem é servido nos descarta, emocionalmente, no exato momento em que enfia a mão no bolso. E, por ter uma moeda volátil, vinculada aos seus desejos, se dão ao luxo de nos esnobar, por mais que nos esforcemos em servir.

Surge, então, a crise permanente que só a superamos se formos capazes de desenvolver meios de combinar nossa capacidade de servir com nossas técnicas de sedução.

Mas, até para seduzir, realimentamos uma nova crise, porque ampliamos as expectativas dos nossos clientes o que nos obrigará a renovar nossos apelos, mimos, agrados para atrair continuadamente a atenção, a visita, a decisão de compra a favor de nossos produtos e serviços.

Ou seja, o empreendedor não relaxa nunca. Por isso, muitos desistem. Outros perdem o rumo. Porque, infelizmente, ainda existe a ilusão que empreender é ganhar dinheiro, comprar carros luxuosos e viver de pernas para o ar na praia.

Esse tipo de engano abre o precipício das falências.

Empreender, meus caros e minhas caras, é gerenciar crises, sem perder a ternura, jamais. De manhã, de tarde e de noite. Ao longo de anos e décadas. Até poder, eventualmente, passar um fim de semana na praia. E olhe lá.